< Coluna em Fórum PCs >
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15/06/2009
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< De volta da Computex 2009 > |
Como ave que volta ao ninho antigo (faz sentido, nos dias de hoje, citar estrofes de um < http://www.sardenbergpoesias.com.br/homenagens/visita_a_casa_paterna/visita_a_casa_paterna.htm > soneto oitocentista? Não sei; mas a citação é bonita e cabe bem no contexto...) eis me novamente em casa depois de alguns percalços que não cabe aqui relatar, pois o assunto ainda é Computex 2009. Então vamos a ela. Feira encerrada, eventos assistidos, visitas aos estandes feitas, entrevistas anotadas, chegou a hora de fechar o balanço. Tentemos. E, já que esta foi minha primeira participação na Computex, melhor começar pela impressão que ela me causou: a feira é um negócio de respeito. Grande e bem organizada. O que é pleonástico, porque uma feira daquele tamanho se transformaria em um caos não fora bem organizada. Mais que isso: se o participante, seja jornalista, usuário, possível comprador ou iminente vendedor de produtos, não planejar e organizar suas atividades, perderá a viagem (ou então a transformará em mera visita turística a Taipei, o que não deixa de ser interessante). Porém, quem soube selecionar o que ver, aonde ir e a quem procurar usando a (farta) documentação (em inglês e mandarim) distribuída aos participantes e esboçou uma agenda diária eficiente, pôde aproveitar a oportunidade de participar de um evento de excelente qualidade e bem ao estilo chinês: direto ao ponto sem muita conversa fiada. A impressão foi positiva. Depois, o evento em si. O que esperar de uma grande feira internacional de informática na era pós-Internet? Grandes lançamentos, nem pensar. Já se foi o tempo em que as empresas guardavam ciosamente suas novidades para efetuar retumbantes lançamentos nas feiras, uma estratégia que só fazia sentido nos tempos em que as feiras eram as grandes vitrines de novidades e monopolizavam a atenção da imprensa especializada de todo o mundo. Naqueles dias, os lançamentos feitos sob os holofotes das feiras recebiam uma cobertura da imprensa que seria difícil – ou demasiadamente oneroso – obter em outras circunstâncias. Hoje, com a Internet disponível em tempo integral funcionando como canal prioritário de comunicação entre a indústria e os usuários, fazer lançamentos em uma feira como a Computex serviria apenas para diluir o possível impacto da novidade no imenso caldeirão da feira. E como a indústria sabe disso, os lançamentos são apenas mencionados – seja os recentemente feitos, seja os que serão feitos em breve. Portanto, quem está garimpando novidades sobre lançamentos da indústria, melhor buscá-los em outras fontes. Porque as feiras tipo Computex atualmente são exatamente aquilo que o Houaiss define como primeira acepção do verbete “feira”: reunião de vendedores e compradores em determinado local e hora, com a finalidade de comércio. O resto é o resto. Então, para quem não pretende fechar negócios, para que serve participar de uma moderna feira de informática? Ora, considerando que quem deseja comprar quer ver e experimentar, e quem deseja vender quer exibir e demonstrar, uma feira como a Computex serve para alcançar pelo menos dois objetivos altamente relevantes. Primeiro: pode-se ter uma visão em escala mundial de praticamente tudo o que está sendo fabricado, comprado e vendido e tenha alguma coisa a ver com tecnologia de informação e comunicações. Segundo: identificando-se os itens que merecem mais destaque da parte dos expositores e maior interesse da parte dos visitantes, pode-se reconhecer tendências. E, para quem escreve sobre tecnologia com o intuito de manter informados seus leitores, esse é justamente o objetivo fundamental. Então vamos ver que tendências consegui identificar para o futuro próximo. Ou seja: em que os fornecedores estão apostando suas fichas – o que geralmente indica os rumos que o mercado tomará nos próximos meses, primeiro nos EUA, depois aqui, como de hábito. Para começar, comunicação sem fio. Sobretudo para acesso à Internet, mas não apenas. A tendência, pelo que percebi – pelo menos em Taipei, que acaba de implementar comercialmente um sistema como este e pretende estendê-lo em prazo curto para toda a ilha de Taiwan – é usar protocolos de comunicação sem fio (no caso, o WiMax) como base de um sistema de telecomunicações que engloba não apenas a Internet como também telefonia e mais o que der na telha. Mais da metade do Hall 1, o pavilhão mais importante da Computex 2009, bem ao lado do Taipei 101, era dedicada exclusivamente à área de WiMax e produtos de comunicação, reunindo mais de setecentos estandes de empresas como Intel, R&S, Acer, Gemtek, Accton, Microelectronics, Tatung InfoComm, Global Mobile, Vee Telecom, VMAX e outras, que exibiam desde sistemas de rede até componentes e “chipsets”, aplicativos, serviços e certificação no campo das telecomunicações sem fio. Mas, pensando bem, nem se pode considerar isso uma tendência. Afinal, sistemas sem fio já são uma realidade estabelecida em todo o mundo e a importância concedida ao tema pela Computex 2009 nada mais é que um reflexo disto. Depois, uma enorme tendência para a diversificação. Ao que parece, tempos de crise estimulam a criatividade e o que havia de “pen-drives” e outros tantos acessórios em formatos e cores antes nunca vistos era um assombro. Micros portáteis cor-de-rosa, então, era uma barbaridade. E por falar em portáteis... Há muito tempo que se diz que, cedo ou tarde, as vendas de computadores portáteis (“notebooks”) haveriam de superar as dos micros de mesa (“desktops”). E a razão era simples: embora o número de “desktops” fosse muito maior que o de “notebooks”, as vendas destes últimos cresciam mais rapidamente que a dos primeiros. Portanto, caso nada mudasse, um dia as linhas de vendas se cruzariam no gráfico. Pois algo mudou. Mas mudou não para adiar este encontro, mas para antecipá-lo. Pois, segundo os organizadores da Computex, a empresa de análise de mercado iSuppli divulgou recentemente que no terceiro trimestre do ano passado as vendas de “notebooks” alcançaram a inédita cifra dos 38,6 milhões de unidades, enquanto as dos micros de mesa chegaram apenas a 38,5 milhões. Ou seja: pela primeira vez na história dos computadores foram vendidos mais micros portáteis do que de mesa. E a comparação destes resultados com os do mesmo trimestre do ano anterior mostra que isto não foi um fenômeno isolado, mas uma clara manifestação de tendência, já que o número de micros portáteis vendidos foi 40% superior, enquanto o de “desktops” foi 1,3% inferior. Ou seja: não somente os portáteis venderam mais como também suas vendas cresceram enquanto as dos de mesa diminuíram. Seria isso um indício de que a era dos “desktops” está chegando ao fim? É possível que sim. Pelo menos no âmbito doméstico, a era do computador de mesa clássico, como o que conhecemos hoje, é quase certo que acabou ou está por findar. Logo veremos o que os vai substituir. Mas, antes, convém analisar o porquê deste súbito e brutal incremento nas vendas dos portáteis. Um passeio sem compromisso pelas alamedas entre os estandes da Computex 2009 voltado para o exame dos micros portáteis que lá eram exibidos revelava claramente que os modelos podem ser facilmente classificados em três vertentes bem delineadas. A primeira é a dos portáteis de grande capacidade de processamento, tela imensa, recursos a dar com o pau e, naturalmente, peso e tamanho consideráveis, aliados a uma duração de carga de bateria relativamente curta. Destes, havia poucos modelos, mas os que lá estavam eram máquinas de dar água na boca. Como o novo Asus G51, desenvolvido especialmente para jogos, equipado com um Core 2 Quad de 2,26 GHz, tela larga de 15,6”, 4 GB de memória RAM, até um TB (TeraByte) de espaço em disco, acionador de disco ótico BluRay, câmara integrada de 2 MPixel e, atenção gameiros, pioneiro em usar a tecnologia NVIDIA PhisX em telas menores que 17” com sua GeForce 260M. Um micro tão inovador que foi um dos ganhadores do prêmio “Best Choice” da Computex 2009. Este micro é um excelente exemplo de máquina que, apesar de portátil, foi concebida para substituir um micro de mesa (haja vista seu sistema de som, um EAX surround Dolby Home Theather). Como esta, na mesma vertente, há outras máquinas poderosas, destinadas não a jogos mas a desenvolver trabalho “sério”. Todas são capazes de substituir um bom e velho “desktop” com algumas vantagens e outras tantas desvantagens, naturalmente. Mas a cada um desses micros vendidos corresponde um “desktop” encalhado.
A segunda vertente é a dos portáteis que são mesmo portáteis, ou seja, concebidos para serem usados em trânsito, tanto em viagem quanto em trabalho externo. Estes excedem pela leveza, pouca espessura, longa duração de bateria, porém apresentam um poder de processamento ligeiramente inferior aos mais “parrudos” e possuem menos recursos. Mas alguns deles são pequenas joias, como o Acer Aspire 3935, com um Core 2 Duo de 2 GHz em plataforma Centrino, 3 GB de memória RAM, disco rígido de 250 GB, tela larga de 13,3” e leitor de cartões, em um micro com menos de 2,5 cm de espessura, pesando pouco mais de 1 Kg e duração de carga de bateria de dez horas. Tudo isto no interior de um gabinete negro de aço escovado que o fez ser um dos ganhadores do Design & Innovation Award da Computex 2009. Uma prenda.
Mas os grandes responsáveis pela explosão de vendas dos micros portáteis são os representantes da terceira vertente, computadores com baixa capacidade de processamento, recursos limitados, tela pequena (não maior que 11”), pouca capacidade de armazenamento, porém providos de baterias capazes de sustentar a carga por longos períodos e dotados de sistemas de comunicação sem fio, concebidos tendo em vista primordialmente o acesso móvel à Internet. Este tipo de micro tem tido um sucesso tão grande que alguns analistas afirmam que eles constituem por si mesmos um novo segmento de mercado, o dos “netbooks”. O primeiro deles foi o Eee PC da Asus, lançado há dois anos justamente na 27ª edição da Computex. E fez tal sucesso e tão repentinamente que ano e meio após seu lançamento mereceu um relatório tipo “estudo de caso” da conceituadíssima Harvard Business Review. Segundo Lilian Lin, Diretora de Mercado Global da ASUSTeK Computer Inc., o desejo do usuário de dispor de um dispositivo simples para acesso móvel à Internet, que o Eee PC veio satisfazer, não era novidade alguma. E seu conceito, de fato, é muito simples. Mas, prossegue Lin, ninguém jamais pensou em fazer algo parecido antes da Asus. Diz ela, textualmente: “Creio que a melhor maneira de descrever o ‘fenômeno Eee PC’ é que ASUS foi bem sucedida ao explorar as necessidades dos consumidores e diversos outros fabricantes se uniram a ela para fazer disso um sucesso explosivo”. É claro que houve também o aspecto conjuntural configurado pela crise econômica deflagrada no segundo semestre do ano passado e a ASUS o reconhece. Diz Lin que, a partir de então, “os consumidores passaram a sopesar suas necessidades básicas; quais delas deveriam ser satisfeitas para edição de documentos simples e acesso à Internet de onde quer que estivessem. E o Eee PC é capaz de satisfazer estas necessidades básicas a um preço acessível”. Resultado: só do Eee PC da Asus há hoje no mercado 22 modelos distintos. Além de dezenas de diferentes modelos de “netbooks” de outros fabricantes. E todos são sucesso de vendas.
Portanto, somando as três vertentes, não há dúvida que os computadores portáteis representam uma forte tendência do mercado. Mas o que ocorrerá com os computadores de mesa? Bem, aqueles concebidos para uso corporativo não deverão mudar muito. Fora a tendência já mais que estabelecida de abandono dos monitores tipo CRT (“Cathode Ray Tube”, os velhos monitores com “tubo de imagem”) a favor da tela plana de cristal líquido, eles permanecerão mais ou menos como são hoje. Corporações são conservadoras e pensam, sobretudo, na relação custo/benefício. E como estão relativamente satisfeitas com seus computadores tipo Desktop ligados em rede, com eles deverão permanecer. Já os micros domésticos... Bem, a julgar pelo que vi na Computex 2009, estes devem mudar bastante. Pelo menos esta é a clara intenção dos fabricantes. Quem tem boa memória e é do ramo há de lembrar que já há pouco mais de uma década, na primeira metade dos anos noventa do século passado, se falava muito em certo tipo de micro, os tais computadores “multimídia”. A ideia era fazer com que os computadores, até então usados principalmente para edição de textos e elaboração de planilhas (pois a Internet, como a conhecemos hoje, ainda não havia), pudessem funcionar também como centrais de entretenimento, exibindo vídeos e imagens e reproduzindo sons. Tudo isso, pelo menos em tese, com uma qualidade aceitável. Na época a coisa me pareceu um tanto canhestra. Algo assim como ensinar um auxiliar de escritório a cantar e dançar e esperar que só com isto ele se tornasse um artista. Não iria dar certo. E não deu mesmo. Para começar, a capacidade de processamento dos velhos Pentium, então o topo da linha dos processadores, não era lá grande coisa. Nem mesmo a versão MMX, desenvolvida especificamente para este fim (embora hoje a Intel jure que não...), aguentava o tranco. Mas não era só isso. Telas planas de LCD já havia, mas eram pequenas e seu custo ainda inacessível. E vídeo nos tremebundos monitores CRT de 15”, francamente, não valia a pena o tempo que se perdia assistindo. Sem falar na capacidade limitada dos CDs (DVD não tinha...), nos altos custos de armazenamento em discos magnéticos, na baixa qualidade dos controladores de vídeo e na pequena resolução que então apresentavam. A ideia era boa, mas com a tecnologia de então, inexequível. E não se falou mais em micro multimídia. Agora, apareceram os AIO, acrônimo de “All-In-One”, ou “tudo em um”. A Computex 2009 estava cheia deles e, ao que parece, representam a nova tendência para micros domésticos. Mas o que é um “tudo em um”? Talvez a melhor maneira de explicar seja dizer que eles são aquilo que a indústria esperava que os micros multimídia fossem mas não foram por falta de tecnologia para serem. Tecnologia que agora existe e foi aplicada com sucesso na nova linha de micros. Quem leu a coluna anterior, onde reuni as notas que escrevi durante minha visita à feira, já tem uma ideia razoável do que vem a ser um “tudo em um”. Mas vamos tentar destrinchar. Um analista sério provavelmente dirá que a nova linha de micros “tudo em um” foi concebida para agregar às funções atualmente desempenhadas pelos micros domésticos, como navegar pela Internet, editar textos e imagens e calcular planilhas, aquelas tipicamente voltadas para o entretenimento, ou seja, exibir vídeos e imagens em telas de alta qualidade e reproduzir sons. E, nesta transição, otimizar a unidade para estas últimas funções. Já um analista mais cínico provavelmente dirá que a nova linha de micros “tudo em um” foi concebida para aproveitar a tecnologia de fabricação de computadores portáteis e com ela criar um novo tipo de dispositivo otimizado para funcionar como central de entretenimento. E provavelmente ambos estarão corretos.
Veja a galeria de AIOs na figura acima, já exibida na coluna anterior. Repare no fator de forma dos micros “tudo em um”. Não parecem modelos adaptados dos “tablets” (micros portáteis sem teclado) onde se fixaram suportes para que fiquem na posição quase vertical?
Repare no modelo eMachine da Acer da figura 4. Exceto a falta de teclado e o formato ligeiramente biselado da parte de trás, ele não lhe faz lembrar um modelo comum de micro portátil do qual se removeu o teclado e adaptou-se um suporte e um elegante par de pés para mantê-lo em uma posição quase vertical? Pois, essencialmente, esta é a ideia do “tudo em um”. É claro que não fica só nisso. Na verdade, há muito mais. Por exemplo: as telas, sem exceção, mantêm o fator de forma 16:9 típico do formato “tela larga” (“wide screen”) e exibem uma imagem de alta definição e excelente qualidade. A grande maioria delas é sensível ao toque, o que permite não somente operar a máquina sem o uso do teclado (embora a maioria venha com mause e teclado sem fio) como também o exercício de certas firulas como alterar o tamanho das janelas arrastando os dedos pela tela e coisas afins. O projeto é caprichado, fazendo com que o micro não precise ficar escondido em um canto do quarto de empregada transmutado em escritório. Ao contrário, como os televisores modernos, ele é concebido para enfeitar a sala. Alguns modelos mais avançados já trazem integrado um decodificador de vídeo padrão UVD (“Universal Video Decoder”) para oferecer decodificação de sinal de vídeo de alta definição. Muitos trazem uma câmara de vídeo integrada, permitindo enviar imagens em videoconferências via Internet. E, sobretudo, são silenciosos como noturnos ventanistas (não sabe o que são “ventanistas”? É que agora os ladrões não mais precisam passar despercebidos e frequentam impunemente até o Congresso Nacional). Em suma: na Computex 2009 havia “tudo em um” espalhado por toda a feira. Consta, inclusive, que a Apple pretende lançar seu modelo ainda este ano. E fabricantes como a Asus e a MSI preveem que as vendas dos “tudo em um” representarão uma fatia de 30% a 40% das vendas dos micros de mesa. É esperar para ver... PS: Isso nada tem a ver com informática, com a Computex e nem sequer com o Fórum PCs, mas não posso me calar diante de tamanha injustiça. Recentemente, durante uma apresentação, o senhor Evandro Mesquita declarou publicamente (desculpem o uso do tabuísmo, mas trata-se de uma citação) que “os políticos são filhos daputa”. Com o devido respeito ao Sr. Evandro, por quem até nutro alguma admiração, quero aqui protestar veementemente contra a generalização gratuita, injusta e indevida. É certo que toda classe comporta certo número de elementos cujo comportamento não condiz com a decência e a honestidade, mas a acusação feita pelo Sr. Mesquita é inteiramente descabida. Estas senhoras exercem há milênios o mais antigo dos ofícios com dignidade e não merecem a pecha de terem gestado as excrescências aéticas a que o Sr. Mesquita se refere. Deixo clara aqui minha repulsa à acusação feita pelo Sr. Mesquita que, a meu ver, deve desculpas públicas à operosa classe das prostitutas pela afirmação ofensiva de serem elas as mães destas figuras abjetas que envergonham nosso país.
B. Piropo |