< Coluna em Fórum PCs >
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18/05/2009
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< Darwin Awards > |
“Two things are infinite: the universe and human stupidity; and I'm not sure about the universe” (Há duas coisas infinitas: o universo e a estupidez humana; e eu não tenho certeza quanto ao universo) – Albert Einstein “Oh Alá, se fostes suficientemente sábio para impor um limite à inteligência humana, por que não fostes igualmente misericordioso para fazer o mesmo com a estupidez?” – Provérbio árabe (se bem que eu não tenha a certeza de que isto seja de fato um provérbio árabe; mas conheço uma frase do estadista alemão Konrad Adenauer de conteúdo bastante semelhante: “In view of the fact that God limited the intelligence of man, it seems unfair that He did not also limit his stupidity” ou “Tendo em vista o fato de que Deus limitou a inteligência do homem, parece injusto que Ele não tenha igualmente limitado sua estupidez”) “A humanidade não deu certo” – Nelson Rodrigues Se tem uma coisa que jamais deixou de me impressionar por sua magnificência, grandiosidade e esplendor, por seu tamanho incomensurável, sua absoluta imperturbabilidade e completa impermeabilidade a argumentos, pairando imponente, soberana, formidável e serena sobre todas as demais, essa coisa é a estupidez humana. Durante algum tempo acreditei que, quem sabe, eu estaria dando uma importância imerecida a esta qualidade (antes que protestem, do Houaiss: estupidez – substantivo feminino – 1: qualidade, característica do que é estúpido). Depois, percebi que tinha companhia. Não somente de gênios, como Einstein, como de autores diversos e da própria sabedoria popular. E para não me deixar mentir, está aí a Internet, ou melhor, o Google. Uma pesquisa com a expressão “stupidity quotes” oferece a bagatela de 25 milhões (por extenso para que não pairem dúvidas: vinte e cinco milhões) de retornos, a maioria deles levando a sítios onde podem ser encontradas, aos milhares, citações de frases cujo conteúdo de estupidez se situa acima da média (se bem que, considerando-se que se trata de uma grandeza cujo valor máximo beira o infinito, é difícil estimar qual seja o médio sem recorrer apenas ao bom senso). A título de exemplo sugiro uma visita ao sítio< http://www.amusingfacts.com/stupid/ > “Stupid Quotes”, onde podem ser encontradas centenas de frases estúpidas e seus autores, inclusive intelectuais do calibre da atriz loura (mas não sei se natural) Brooke Shields tecendo considerações do quilate de: “Smoking kills. If you're killed, you've lost a very important part of your life" (Fumar, mata. E se você morre, perde uma parte muito importante de sua vida). Os autores estão listados em ordem alfabética e a lista agrupa luminares desde o falecido Presidente da França Charles De Gaulle (“A China é um grande país, habitado por muitos chineses”) até o jogador de basquete Vlade Divac (“Ganhamos peso na medida que ficamos mais velhos porque aumenta a quantidade de informações nas nossas cabeças”). Estão todas lá, confiram. Sempre me espantei de haver mais prêmios homenageando os expoentes da inteligência que da estupidez humana, posto que ao longo da história da humanidade as manifestações de estupidez, além de muito mais abundantes, têm sido imensamente mais significativas que as de inteligência (não lhes parece que queimar petróleo, a única matéria prima da indústria petroquímica cujos produtos integram praticamente tudo aquilo que nos cerca, para movimentar um automóvel de algumas toneladas que transporta um único indivíduo de um lado para o outro é uma dessas inequívocas manifestações de estupidez coletiva, daquela do tipo que “contando ninguém acredita”?). Felizmente algumas instituições científicas sérias iniciaram um movimento no sentido de premiar os grandes luminares da estupidez com lauréis dignos de seus feitos. Uma delas é a revista técnica Annals of Improbable Research, em cujo < http://improbable.com/ > sítio pode ser encontrada uma página dedicada ao Prêmio Ig Nobel (Ig Nobel Prize). No entanto o Premio Ig Nobel não é um preito rendido à estupidez pura e simples. Na verdade, segundo me parece, ser estúpido é condição necessária porém não suficiente para disputar o galardão. Para ter a honra de merecer o prêmio, além da inerente estupidez, é necessário não somente ser um cientista ou membro da comunidade acadêmica como também publicar os resultados de um projeto de pesquisa que, segundo os organizadores da homenagem, “primeiro faz o público rir, depois pensar”. Como o Prêmio Nobel, seu congênere Ig Nobel é subdividido em categorias. A última cerimônia de entrega de prêmios, cujo < http://improbable.com/ig/2008/webcast/ > vídeo está disponível no sítio da revista, foi realizada em 2 de outubro de 2008. A deste ano, cujos agraciados ainda não são conhecidos, ocorrerá em 3 de outubro próximo, no Sanders Theater da Universidade de Harvard (eu avisei que a coisa era séria...) e é esperada com grande ansiedade nos meios científicos. Alguns destaques entre os premiados de 2008 do Prêmio Ig Nobel:
e, por último mas não menos importante, provando que mais uma vez o mundo se curva ante o Brasil:
(Aos que pensam que eu inventei tudo isto, sugiro uma visita à página < http://improbable.com/ig/winners/ > “Winners of the Ig Nobel Prize” onde podem ser encontradas as listas não apenas dos vencedores do ano passado como também a dos agraciados anualmente desde 1991, quando o Prêmio foi instituído; assim como a leitura da coluna Trilha Zero < http://www.bpiropo.com.br/tz20051003.htm > “Pesquisas Improváveis” que publiquei quando ainda escrevia no suplemento de informática do jornal O Globo sobre o assunto, no caso os ganhadores do Ig Nobel Prize de 2005.) Mas como ressaltei, o Prêmio Ig Nobel não visa agalardoar os expoentes da estupidez pura e simples, aquela estupidez tão extremada que beira o inacreditável, a estupidez em estado de pureza absoluta. Para preencher esta lacuna, homenageando os raros indivíduos que atingiram o cume da estupidez e sacrificaram a vida na empreitada, foi instituído o Darwin Award. Um prêmio tão radical que presta apenas homenagens póstumas, já que somente são aceitos como candidatos aqueles que faleceram em pleno exercício da estupidez, ou seja: aqueles cuja prática da façanha que lhes outorgou o galardão levou-os à morte. Tanto assim que, acredito, a melhor descrição do que efetivamente se trata é usar aquela fornecida pelos mantenedores da < http://www.darwinawards.com/darwin/ > Darwin Awards, a instituição que concede a honraria: “Batizado em homenagem a Charles Darwin, o pai da evolução, o Darwin Awards homenageia aqueles que melhoraram a qualidade de nosso conjunto genético removendo a si mesmos deste conjunto”.
Deve-se notar que, para que não passem em branco, aqueles que cometeram uma estupidez inominável, digna de ser galardoada com o prêmio, mas tiveram a sorte de escapar e continuam poluindo nosso conjunto genético, embora não recebam o prêmio devido á severidade do primeiro critério de concessão (para ser agraciado, tem que remover a si próprio do rol dos vivos ao praticar o ato estúpido que lhe garantiu o laurel), podem ser dignificados com uma menção honrosa (como o cavalheiro de 51 anos de idade residente em Long Branch, NJ, EUA que, em uma preguiçosa tarde primaveril decidiu satisfazer seu apetite sexual mantendo relações com um aspirador de pó Singer modelo A-6 sem perceber que o vácuo no interior do aparelho era provocado por uma hélice que girava em alta rotação logo abaixo do, ahn, como dizer, orifício de entrada do aparelho, onde ele introduziu o pênis que, em consequência disso, teve uma parte decepada; aos médicos da ambulância que o socorreu ele informou que foi esfaqueado na cama, mas quando confrontado com as evidências de seus atos alegou “não se lembrar como o acidente ocorreu”; os médicos conseguiram estancar a hemorragia salvando-o da morte – e do prêmio propriamente dito – embora eu ache sua desclassificação discutível visto que, ainda segundo os médicos que o atenderam, sua capacidade de reprodução foi severamente afetada, o que ao fim e ao cabo, se não remove o indivíduo “como um todo”, remove seus genes do conjunto e esta, afinal, é a façanha que classifica o candidato como merecedor do prêmio). A lista de menções honrosas – ou de sobreviventes – está na página < http://www.darwinawards.com/stupid/ > “Honorable Mentions”. Até o momento não há notícia de que um candidato tenha se apresentado pessoal e espontaneamente para pleitear o prêmio, o que é plenamente justificável devido à sua condição de falecido. Para disputar a honraria deve-se, portanto, ser inscrito por terceiros. E qualquer um pode fazer isso (digo: inscrever um candidato; para se qualificar como candidato não basta ser “qualquer um”, há que ser uma pessoa bastante especial). Portanto, se você conhecer alguém merecedor de tão subida honraria, pode visitar a página < http://www.darwinawards.com/slush/submit_story.html > “Submissions” e inscrever seu candidato, descrevendo as circunstâncias nas quais, ao morrer devido à própria estupidez, ele paradoxalmente se candidatou à imortalidade como vencedor do Darwin Awards. Mas tenha em mente que histórias inventadas não valem: antes de submetê-la à votação a comissão verifica sua veracidade. Neste ponto permitam-me uma digressão. Eu disse acima que não há agraciados vivos, mas descobri uma – tanto quanto eu saiba, única e honrosa – exceção, a de um cavalheiro chamado Lantern, de Winsconsin, EUA, que costumava se entregar com sua esposa a um excitante jogo sexual: pedia que ela disparasse uma espingarda de caça – descarregada, naturalmente – com os canos apontados para sua bolsa escrotal (desculpem, mas o nome é esse mesmo e eu não posso mudar). No dia 7 de maio de 2002, em uma ocasião particularmente atribulada devido à chegada iminente de uma visita, provavelmente para aumentar o nível de excitação da coisa toda, ele solicitou que ela disparasse pouco antes que a visita – que se aproximava – chegasse. O que foi feito tão diligentemente que a esposa não teve tempo de verificar se a espingarda estava de fato descarregada. Não estava. A polícia encontrou Lantern de camisa, sapato e meias, com as calças arriadas e sangrando profusamente pela região onde, outrora, situava-se sua genitália. Embora Lantern tenha chegado em estado crítico ao hospital, para sua vergonha sobreviveu para conquistar a duvidosa glória de ser o único ganhador vivo do Darwin Award. Mas vamos adiante. Por que eu teria lembrado do Darwin Awards justamente agora? Porque somente agora tomei conhecimento que foi um brasileiro o mais recente ganhador, o indisputado vencedor do Darwin Awards 2008 com imensa maioria de votos (sim, porque o Darwin Awards é democrático e os vencedores são escolhidos pelo voto direto dos leitores que podem atribuir uma nota de zero a dez no pé da página onde o fato é relatado). E sendo o prêmio de âmbito mundial, trata-se de uma honraria que, penso eu, pela primeira vez é angariada por nosso país e merece, quem sabe, ser acrescentada à lista do “porque me ufano”. Mas qual teria sido a façanha merecedora de tamanha honra? Provavelmente você já sabe, posto que foi fartamente divulgada pela imprensa escrita, falada, televisada e internetada. Mas nem por isso deixará de ser aqui citada. A lista completa dos agraciados de 2008 está em < http://www.darwinawards.com/darwin/darwin2008.html > “2008 Darwin Awards” e pode ser consultada a qualquer tempo. Aqui, para ajudar aos não angloparlantes e, sobretudo, para dar mais corpo a esta coluna, vai um resumo dos feitos que levaram os quatro primeiros colocados a tão honrosa posição. O quarto colocado, cujo nome foi misericordiosamente suprimido, foi um sacomão checo (o que vem a ser isso? Ora, um ladrão natural da República Checa, desmembrada da antiga Checoslováquia; o que sua mente perturbada achou que seria?). Pois eis que no dia 8 de março de 2008 o indigitado cavalheiro decidiu roubar o cabo de aço de um poço de elevador em um celeiro abandonado na cidade de Zatec, próxima de Praga. O cabo, amarrado a um contrapeso no fundo do poço, estava rigidamente esticado e a outra ponta desaparecia na escuridão do alto do poço. Depois de denodado esforço o ladravaz conseguiu, afinal, serrar o cabo. O que fez com que o elevador, preso à outra ponta do dito cabo, despencasse sobre sua cabeça levando-o do mundo dos vivos diretamente para o quarto lugar da lista do Darwin Awards 2008 com uma nota média de 7,8 e um total de 6.918 votos. O terceiro colocado é um raro caso de premiação dupla. Resumindo uma longa história que pode ser lida integralmente (em inglês) no sítio do Darwin Awards: dois soldados americanos decidiram ajudar a remover um pinheiro do jardim da avó de um terceiro que havia crescido (o pinheiro, não o soldado) mais do que desejado e atrapalhava a visão. Ladeando este pinheiro havia dois outros. Para evitar que a árvore tombasse sobre a casa, eles amarraram duas cordas no alto do pinheiro do meio e deram uma volta com ela em cada uma das árvores laterais de tal forma que quando a primeira tombasse, bastaria segurar as cordas para que a queda se desse no sentido oposto ao da casa. Para garantir que as cordas não iriam escapulir, cada soldado amarrou uma delas em torno do próprio tórax. Quando o terceiro soldado cortou o tronco da árvore central com uma motosserra, a árvore, que pesava algumas toneladas, caiu e, na queda, arrastou os dois soldados, primeiro para o alto, arremessando-os por cima das árvores laterais, depois na direção do solo, onde repousam eternamente fazendo jus à rara distinção de uma premiação dupla no Darwin Award com uma nota média de 7,9 obtida de um total de 9.086 eleitores. O segundo lugar foi obtido também com nota média de 7,9, porém com um total de apenas 7.820 votos (quem não entender porque a mesma nota com menor número de votos merece uma classificação superior, por favor peça aos amigos que me avisem caso venha a ser vítima de um acidente fatal para que eu possa inclui-lo na próxima disputa do prêmio, já que preenche as condições iniciais para ser um bom candidato). O agraciado foi o Sr. Gerhard, de 68 anos, que em 16 de julho de 2008, em uma pequena cidade da Itália, ficou preso em um engarrafamento ao atravessar uma passagem de nível ferroviária com seu Porsche Cayenne. Sendo forte candidato ao Darwin, o Sr. Gerhard não parou antes dos trilhos para esperar que os carros adiante dele se movessem. Pelo contrário, para ganhar tempo, como fazem todos aqueles motoristas “ixpertos” que fecham os cruzamentos com o sinal aberto, seguiu até perto do carro que estava à sua frente. Isto o deixou exatamente sobre os trilhos no momento em que as cancelas da passagem de nível se fecharam adiante e atrás de seu carro, prendendo-o ali enquanto o trem se aproximava. Quando ele antecipou as consequências de seu ato, desceu do carro e, ao invés de correr para fora dos trilhos, correu sobre eles diretamente no sentido de onde vinha o trem, agitando os braços freneticamente na tentativa de salvar seu carro esporte. Tentativa na qual ele foi parcialmente bem sucedido, já que o trem conseguiu frear antes de atingir o veículo em cheio, que ficou danificado mas não completamente destruído. Ao contrário do Sr. Gerhard, cujo corpo foi lançado a trinta metros de distância e o espírito à merecida glória do vice campeonato do Darwin Awards 2008. A propósito: se todo motorista que fecha o cruzamento com sinal fechado tivesse o destino do Sr. Gerhard, o trânsito fluiria bem melhor nas cidades brasileiras e o QI médio da população destas mesmas cidades exibiria um aumento significativo.
Finalmente, o campeão. Que, como eu disse, vocês conhecem. E, os que ficarem chocados com a escolha, lembrem-se: não fui eu quem o escolheu, foram 18.978 eleitores que lhe atribuíram uma nota média de 8,6 pontos, o que o tornou o ganhador indiscutível do laurel do ano passado. Eu, aqui, em benefício dos que não conhecem o fato, me restringirei a relatá-lo da forma mais respeitosa possível para não ferir os brios da comunidade a que pertencia o sacerdote e não correr o risco de ser acusado de mau gosto. Pois o inquestionável laureado com o galardão de campeão do Darwin Awards 2008 foi o Padre Baloneiro (The Balloon Priest, segundo o Darwin Awards), Pe. Adelir Antonio, de Santa Catarina, aquele que em 20 de abril do ano passado se dispôs a subir aos céus – e de fato o fez – pendurado em um cacho de balões de gás. Segundo o sítio, o padre tomou diversas precauções antes de decolar, como usar um traje de sobrevivência, escolher uma cadeira flutuante e levar consigo um telefone celular e um GPS. Infelizmente, ao atingir maiores altitudes, a direção do vento mudou e o padre foi soprado para alto mar. Conseguiu comunicar-se com o solo através do telefone celular, mas quando foi solicitado a informar sua posição consultando o GPS retrucou que não sabia usar o aparelho. Alguns dias depois seu corpo foi encontrado no mar garantindo sua entrada no glorioso reino dos céus e na não tão gloriosa galeria dos vencedores do Darwin Awards. Pois é isso. Cabe, porém, uma observação final. Considerando o voto de celibato tomado pelos sacerdotes católicos, até recentemente eu cultivava algumas dúvidas quanto à propriedade de incluir um padre entre os laureados com o Darwin Awards. Afinal, tecnicamente, quem faz voto de celibato retira automática e voluntariamente seus genes do conjunto de genes da espécie, em virtude de que, em princípio, sua presença ou ausência no rol dos vivos não deveria fazer qualquer diferença no que toca à qualidade deste conjunto. Pois quem dirimiu estas dúvidas de forma absolutamente peremptória foi Monsenhor Fernando Armindo Lugo de Méndez, o mui digno Presidente Lugo do vizinho e amigo Paraguai, que enquanto ainda exercia as funções de bispo católico demonstrou ser invejavelmente prolífico, contribuindo de forma corajosa e desassombrada para o aumento da população de seu país e do conjunto de genes da humanidade. Um fecundo presidente. E bota fecundo nisso... B. Piropo |