< Coluna em Fórum PCs >
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04/05/2009
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< Tuitando > |
O Twitter é uma rede social que permite a seus usuários trocarem entre si pequenas mensagens de até 140 caracteres conhecidas como “tweets”. O parágrafo anterior tem exatos 140 caracteres e, portanto, corresponde ao tamanho máximo de um “tweet”. O que se pode comunicar deste modo tão sucinto? Antes de prosseguir convém esclarecer que esta é a segunda coluna que escrevo sobre o assunto. A primeira destinou-se a publicação em jornal, mais especificamente em minha coluna semanal “Técnicas e Truques” do suplemento de informática do Estado de Minas de 07/05/07 e no do Correio Brasiliense na segunda-feira subsequente. Então por que escrever mais uma aqui no FórumPCs? Bem, é que em jornal fica-se limitado ao espaço disponível. Além disso, o universo de leitores é diferente. Mas a razão principal não é nem uma nem outra: é o fato do FórumPCs ser um meio interativo que me permite conhecer a opinião dos leitores quase imediatamente. E, particularmente sobre este tópico, estou muito interessado na opinião de vocês. Porque minha visão do Twitter não é lá das mais favoráveis e eu gostaria de conhecer os argumentos daqueles que pensam de forma diferente – opinião que, naturalmente, será por mim respeitada como tenho certeza que a minha por eles o será. A forma de participar do Twitter é simples. Visita-se a página principal, entra-se com algumas (poucas) informações pessoais – que, para quem desejar, podem ser complementadas mais tarde na página “Settings” – e escolhe-se uma senha. Isto feito, pode-se usar um recurso do próprio Twitter para fazer uma varredura nas listas de contatos dos principais provedores de correio eletrônico tipo “webmail” (mais especificamente: GMail, Yahoo, AOL, Hotmail e MSN) para verificar se algum amigo já está inscrito na rede, Mas atenção: para que esta varredura seja feita você terá que fornecer seu endereço de correio eletrônico em cada provedor e sua senha, que em princípio deveria ser guardada a sete chaves. Seja como for, encontrados os amigos, quem assim o desejar pode passar a “segui-los” e enviar-lhes uma mensagem informando que está disponível no Twitter para ser “seguido” (“seguir” – ou “to follow” em inglês – é a forma pela qual o Twitter designa o ato de seus membros trocarem mensagens, ou “tweets”). Ou pode ainda escolher em uma longa lista de “celebridades” (me desculpem pelas aspas as que constam da lista e são de fato “célebres” segundo a acepção do Houaiss: “distinto pelo saber, mérito e demais qualidades louváveis; notável, ilustre”; acepção que não abarca, por exemplo, participantes semianalfabetos do biguebroder, apresentadores/as de programas vespertinos sensacionalistas da televisão, cronistas de fofocas e outros tantos intelectuais de igual estirpe) para ser seu (dela) seguidor e tomar conhecimento de fatos sobre sua (dela) vida, fatos estes de importância transcendental sem o conhecimento dos quais seria impossível seguir vivendo, tipo: “Fui entrevistado pela revista Caras” e outros tantos acontecimentos de igual relevância. “Tweeter” (com dois “EE”, não com “I” como o nome da rede) é o nome que se dá em inglês àqueles altofalantes de pequeno diâmetro concebidos para reproduzir os sons mais agudos. O nome provém do significado do vocábulo “tweet” que, ainda em inglês, significa “gorjeio”, “pio” (de pássaro). No caso da rede, foi usado com a intenção de deixar claro que as mensagens trocadas devem ser curtas e concisas como o piar dos pássaros. Por isso um “tweet” não pode conter mais de 140 caracteres. Por que cargas d´água um negócio desses foi concebido? Bem, o mote do sítio é “What are you doing now?” (“O que você está fazendo agora?”). Em tese ele foi criado para que seus usuários comuniquem em tempo real aos respectivos seguidores o que eles, os “seguidos”, estão fazendo momento a momento. E nem sequer é preciso um computador ou qualquer outro dispositivo com acesso direto à Internet para se manter absolutamente atualizado sobre a vida alheia: quem preferir pode fornecer o número de seu telefone celular e as mensagens serão a ele enviadas direta e imediatamente sob a forma de mensagens de texto, ou “torpedos”. Mas e daí? Para que serve isso? Saber, mesmo, eu não sei. Nem desconfio. Por isso fui auscultar a fonte, ou seja, tentar descobrir no próprio Twitter qual viria a ser sua serventia. Lá encontrei a informação que o intuito de seus desenvolvedores foi criar um meio através do qual cada um de nós pudesse informar ao mundo – ou pelo menos a uma parte dele, nosso círculo de amizades – o que estamos fazendo momento a momento. Sim, e daí? Continuo sem entender qual a utilidade de um negócio destes.
Bem, a página de abertura do Twitter contém um vídeo explicativo. Quem sabe poderia ajudar a elucidar? Veja a figura 1, que mostra três de seus quadros sucessivos com legenda em português. Dizem as legendas, textualmente: “Mas você não mandará um e-mail a um amigo para dizer-lhe que você está tomando um café. Seu amigo não precisa saber disso. Mas, e as pessoas que querem saber sobre as pequenas coisas que ocorrem em sua vida?”. Ao que parece a ideia é insinuar que estas pessoas poderão ser informadas através do Twitter do fato aparentemente relevante que em tal ou qual momento você está tomando um café. O que, sem dúvida, é possível. Mas, por mais que eu dê tratos à bola, por mais que tente descobrir o que se esconde por detrás de uma ideia tão singela, me escapam as razões que podem levar uma pessoa a querer saber que alguém, seja lá quem for, estaria tomando um café neste ou naquele momento. E olhe que não estou dando asas à imaginação para escolher um fato especialmente desimportante, estou usando o próprio exemplo do vídeo do Twitter: tomar café. Não obstante tudo isso o Twitter é um sucesso estrondoso. Em todo o mundo, inclusive no Brasil. O número exato de seguidos e seguidores é um segredo não divulgado pela empresa. Mas pode ser estimado. Segundo a < http://en.wikipedia.org/wiki/Twitter > entrada correspondente ao Twitter na Wikipedia, o analista do sítio “Forrester Research” Jeremiah Owyang estima que o número de usuários da rede se situe entre quatro e cinco milhões enquanto o blog Nielsen.com estima que esteja próximo de seis milhões, com um total de 55 milhões de visitas mensais. O que faz do Twitter a terceira rede social da Internet (as primeiras são, respectivamente, Facebook e MySpace). Eu mesmo pude constatar pessoalmente a força do Twitter. Como não me agrada escrever sobre assuntos que ignoro, antes de abordar o tema resolvi abrir uma conta no Twitter e dar uma olhada no teor dos “tweets” que encontrasse. Com eles, não me surpreendi. Eram mais ou menos o que esperava: informações irrelevantes sobre pessoas que mal conheço comunicando coisas que não desejo saber sobre suas próprias vidas. Mas, no dia seguinte, qual não foi minha surpresa ao descobrir que, mesmo abrindo uma conta sem avisar a ninguém e fazer qualquer alarde, conta que evidentemente eu não tinha a menor intenção de usar, eu já tinha sete “seguidores”. Apressei-me então a postar meu primeiro (e, muito provavelmente, último) “tweet” para respeitosamente informar aos ditos seguidores que a conta havia sido aberta apenas para que eu tomasse conhecimento do funcionamento do Twitter, que definitivamente não pretendia atualizá-la e que solicitava desculpas pelo fato de não ter deixado isso claro, mesmo porque não saberia como fazê-lo (quer dizer, não foi exatamente isso o que escrevi, já que em 140 caracteres não cabe a explicação mais comezinha seja lá do que for, mas caprichei para tentar resumir a coisa o melhor que pude no espaço disponível; afinal, tratava-se de meu único “tweet” já que no Twitter não pretendo dar mais nem um pio...) Talvez meu espanto pelo sucesso do Twitter se deva a meu notoriamente escasso interesse sobre a vida alheia. De fato pouco me interessa saber o que fulano, beltrano ou sicrano fazem ou deixam de fazer com sua vida a não ser que o fato seja relevante para ele (no caso de ser uma pessoa querida), para mim ou para a sociedade em que vivemos. Mas como não me vem à mente qualquer fato com estas características que possa ser descrito com menos de 140 caracteres, para mim o Twitter continua sendo de utilidade pouca ou nenhuma. O que me não ajuda nem um pouco a entender como um negócio desses faz tamanho sucesso e atrai tanta gente. Será que deixei escapar algum aspecto crucial, aquele detalhe fundamental que esconde a real importância do Twitter? Mantive-me com esta dúvida até recentemente, ao ler uma nota de meu querido amigo Nelson Vasconcelos em sua coluna “Conexão Global” da seção de economia do Globo informando que “mais de 60% dos twiteiros deixam de usar o serviço já no primeiro mês”. Como é que é? Quase dois terços desistem em um mês? Vale a pena dar uma olhada nisso... Fui, então, à fonte citada pelo Nelson. E lá estava o artigo de David Martin, vice-presidente de Nielson Wire: < http://blog.nielsen.com/nielsenwire/online_mobile/twitter-quitters-post-roadblock-to-long-term-growth/ > “Twitter Quitters Post Roadblock to Long-Term Growth” (“Desertores do Twitter são uma barreira para o crescimento em longo prazo”) que informa em mais de 140 caracteres que “atualmente mais de 60 porcento dos usuários americanos do Twitter não retornam no mês seguinte, ou em outras palavras, a taxa retenção de audiência do Twitter, ou a porcentagem de usuários de um dado mês que retorna no mês seguinte é de cerca de 40 porcento” (“Currently, more than 60 percent of U.S. Twitter users fail to return the following month, or in other words, Twitter’s audience retention rate, or the percentage of a given month’s users who come back the following month, is currently about 40 percent.”) E ressalta que este porcentual foi medido depois da recente adesão de Oprah Winfrey, uma popularíssima apresentadora de televisão americana. Porque nos doze meses que antecederam à tal adesão esta taxa mensal de retenção resvalava lá pelos 30 porcento. No artigo, Martin expõe um cuidadoso estudo estatístico que o leva a afirmar que “A partir de certo ponto o número de novos usuários simplesmente não é suficiente para repor as deserções” (“There simply aren’t enough new users to make up for defecting ones after a certain point”). E fecha o artigo afirmando que “o Twitter não será capaz de sustentar seu crescimento meteórico se não estabelecer um nível mais alto de lealdade de seus usuários. E, Francamente, se Oprah não foi capaz de conseguir isso, eu não sei quem poderia” (“Twitter… will not be able to sustain its meteoric rise without establishing a higher level of user loyalty. Frankly, if Oprah can’t accomplish that, I’m not sure who can”). O artigo de David Martin, como era de esperar, despertou um bocado de protestos (“great amount of criticism”) da parte dos entusiastas do Twitter, que alegavam que Nielsen não teria considerado em suas estatísticas todos os aplicativos e outros sítios que integram a comunidade Twitter. Ele então repetiu o estudo, desta vez considerando os sítios TweetDeck, TwitPic, Twitstat, Hootsuite, EasyTweets, Tumblr e outros, e concluiu que os resultados não mudam. As conclusões, assim como os gráficos correspondentes, estão em seu artigo < http://blog.nielsen.com/nielsenwire/online_mobile/update-return-of-the-twitter-quitters/ > “Update: Return of the Twitter Quitters”. Mas não é só isso. Comentando o artigo de Martin, o analista Steven Hodson publicou em 28/04 no “The Inquisitr” o artigo < http://www.inquisitr.com/23004/the-numbers-twitter-doesnt-want-you-to-know-about/ > “Os números que o Twitter não quer que você saiba” (“The numbers Twitter doesn’t want you to know about”) onde afirma: “Eu sempre sustentei, e ainda o faço, que o número de novos assinantes realmente significa muito pouco. Na maioria dos casos estamos lidando com uma popularidade inicial que incha os números mas que, na fria luz do dia, não tem valor em longo prazo. O Twitter pode parecer que está explodindo em todo o horizonte, mas além da maré inicial de celebridades e outras figuras da moda, quantos deles ainda estarão lá em um mês, seis meses ou um ano?” (“I’ve always maintained, and still do, that sign up numbers actually mean very little. In most cases we are dealing with first blush popularity puffing up the numbers but in the cold light of day they have no lasting value. In this case Twitter might appear to be exploding across the landscape but beyond the initial flood of celebs and other glitterati just how many of them will still be around in a month, in six months or a year”). Ah, bom. Então não sou o único a achar que este negócio não passa de um modismo e seu crescimento explosivo não tem base sólida para se sustentar. Porque uma análise superficial dos artigos acima citados leva à uma conclusão da qual eu já vinha desconfiando há algum tempo, a saber:
E, mesmo sabendo que me arrisco a despertar comentários indignados de alguns tuiteiros, afirmo, com o devido alívio, que quando isto ocorrer, no que me diz respeito ele não fará a menor falta. Mas esta é só a minha opinião sobre o assunto. E eu gostaria de conhecer sua opinião. Que, naturalmente, pode ou não estar de acordo com a minha. Em qualquer caso você tem toda a liberdade de expô-la como melhor lhe aprouver na seção de comentários. Mas se porventura a leitura desta coluna o deixou furibundo a ponto de querer me dizer um par de desaforos, provavelmente você é um ferrenho fã e defensor do Twitter. Neste caso (e apenas neste caso), para provar que a limitação de espaço no Twitter é irrelevante, lembre-se de restringir seu comentário a não mais que 140 caracteres... PS: Sim, eu sei, o “Release Candidate” do Windows 7 já está disponível. Breve falaremos dele. B. Piropo |