< Coluna em Fórum PCs >
|
||
08/12/2008
|
< Computex Taipei 2009 > |
Antes de qualquer coisa, um pedido de desculpas pela breve interrupção aos que acompanham a saga de Nicola Tesla. Mas ocorre que nos meios de comunicação há uma velha norma que imita Camões, o velho bardo: “tudo cessa quando a antiga musa canta, que um valor mais alto se alevanta”. E este valor mais alto chama-se “notícia”. No caso desta coluna, o anúncio da Computex Taipei 2009, um evento cujo porte exige atenção. Aos admiradores de Tesla, como eu, fica a promessa da retomada do tema na próxima coluna. Isto posto, vamos ao tópico de hoje. No princípio era a COMDEX. Depois, veio a Internet, os grandes anúncios e lançamentos passaram a ser feitos através dela e a COMDEX morreu. Pelo menos é isso o que circula entre os que militam no campo da informática. Pois eles que me desculpem, mas minha análise do fenômeno é um pouco diferente. No princípio, de fato, havia a COMDEX, uma feira organizada em Las Vegas, EUA, onde eram feitos anualmente os mais retumbantes lançamentos da então incipiente indústria da informática. O sucesso foi tão grande que ela gerou filhotes. Primeiro, desdobrou-se em duas edições, ambas nos EUA, a original, que passou a chamar-se COMDEX Fall, organizada no segundo semestre de cada ano sempre em Las Vegas, e a COMDEX Spring, no primeiro semestre, ora em Chicago, ora em Atlanta, EUA. Depois, continuou proliferando. A cada ano era COMDEX a não mais poder, espalhadas por todo o planeta. Até o Brasil ganhou sua edição anual, em São Paulo. Então, no início dos anos noventa, surgiu Windows e o marquetingue da MS forçou o aparecimento de um apêndice da COMDEX, o Windows World. Ficava o evento original voltado principalmente para hardware e o Windows World destinado a Windows e tudo o que lhe dizia respeito. Não custou muito para que a criatura devorasse a criadora: Windows World tornou-se tão grande que ofuscou a COMDEX. E tanto esta como aquele foram para o buraco. Portanto, embora nesse meio tempo a Internet tenha de fato exercido alguma influência, penso eu que não foi ela que matou a COMDEX: foi a ganância e a má administração que levaram ao desdobramento do evento em tantas edições que acabou perdendo seu caráter de grandiosidade e deixou de ser o foco da indústria. O resto é o resto. Mas por que este papo sobre a falecida COMDEX tanto tempo depois de seu passamento? Bem, é que a indústria está sempre à espera de mostrar suas novidades e quando se lhe oferece uma boa oportunidade ela dificilmente é desperdiçada. E tudo indica que surgiu um novo evento destinado a repetir o sucesso das primeiras COMDEX e que, até agora, tem evitado os erros que a levaram a desaparecer. Um evento anual, que começou há 29 anos como uma pequena feira local mas que veio crescendo pouco a pouco a ponto de se tornar, juntamente com o CeBIT germânico, o maior evento mundial no campo da tecnologia de informática e comunicações. Um evento gigantesco, bem no centro do que hoje é o eixo da indústria do hardware: a Ásia. Mais especificamente em Taipei, capital de Taiwan, ou Formosa, o país conhecido como República da China. Trata-se da Computex Taipei, que prepara sua edição de 2009.
E, para deixar claro que os chineses levam a sério o fato de exprimirem o conceito de “crise” pela justaposição dos dois ideogramas acima, o “wei” que significa “risco, perigo”, e o “ji” que corresponde a “oportunidade”, os organizadores da Computex Taipei 2009 agendaram uma entrevista coletiva com a imprensa internacional em Taipei, no último dia oito de dezembro, para deixar claro que pretendem se aproveitar da crise mundial vigente para gerar notáveis oportunidades de negócios. Eu estive lá e vou tentar explicar como eles pretendem levar a cabo tal façanha.
No próximo ano ocorrerá a 29ª edição da Computex Taipei. O evento deste ano, 2008, foi grande: mais de 1,700 exibidores oriundos de 25 diferentes países distribuídos em quase 4,500 estandes alojados em quatro diferentes pavilhões que atraíram cerca de 35 mil “compradores” (é assim que os organizadores se referem aos visitantes, já que a COMPUTEX não é aberta ao público, recebendo apenas convidados). Pois bem: o próximo, a se realizar durante cinco dias, de 2 a 6 de junho de 2009, será seguramente maior. Como podem seus organizadores – a TCA, Taiwan Computer Association, uma agremiação da indústria local, e a TAITRA, Taiwan External Development Council, uma agência governamental voltada para o fomento do comércio exterior – terem tanta certeza do crescimento em meio à crise? Para começar, o evento de 2009 será o primeiro a contar com a adesão da China (para quem não está a par dos acontecimentos do século passado e estranhar a “adesão da China” a um evento realizado na “República da China”, uma curta explicação que, para evitar acusações de partidarismo político de minha parte, foi copiada integralmente do < http://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica_da_China > verbete correspondente da Wikipedia: “Em maio de 1950, após a derrota das forças nacionalistas lideradas pelo General Chiang Kai-Shek na guerra civil chinesa [entre 1947 e 1949], os nacionalistas refugiaram-se para a ilha de Taiwan, e ali estabeleceram a sede administrativa do governo da República da China”; que, desde então, passou a conviver – em estado de maior ou menor belicosidade – com a chamada China Continental, República Popular da China ou, durante alguns anos, “China Comunista”; com a queda do muro de Berlim, desmembramento da URSS e coisas que tais, o convívio entre as duas Chinas mudou de feição e embora jamais tenham estabelecido relações diplomáticas efetivas, já que a China Continental continua considerando oficialmente Taiwan uma de suas províncias, adquiriu contornos suficientemente civilizados para que as relações comerciais tenham podido prosperar). E, para um evento ligado ao mundo da tecnologia da informação e comunicações, a adesão da China Continental (como a da vizinha Coréia do Sul, também representada na Computex) definitivamente não é nem um pouco desprezível: nada menos que trezentos estandes foram reservados pelas empresas de lá. Mas não é só isso. Em 2009 haverá um pavilhão a mais (cada um deles será voltado para um tema), fazendo com que o evento se espalhe por cinco diferentes locais - quatro deles vizinhos, bem ao lado do Taipei 101, o marco da cidade, um edifício de 101 pavimentos, 508 m de altura que durante algum tempo foi o prédio mais alto do mundo. Nestes cinco pavilhões espera-se que se acomodem 1.850 exibidores, oriundos de cerca de 30 diferentes países, distribuídos por 4.700 estandes nos quais se espera a visita de cerca de 44 mil “compradores”.
Na palestra de abertura da coletiva de imprensa o Sr. Li Chang, vice-secretário geral da TCA, enfatizou dois pontos. O primeiro é que a Computex Taipei não é um evento de tecnologia, mas um evento industrial, portanto não exibe protótipos, apenas produtos prontos para a comercialização. E o segundo e que se trata de um evento tipo “B2B” (business to business, ou seja, exclusivamente empresarial) e todos os esperados 44 mil visitantes serão potenciais compradores ou parceiros comerciais. Já o Sr. Walter Yeh, vice-presidente da TAITRA, por sua vez, preferiu focar os aspectos técnicos do evento procurando justificar o otimismo dos organizadores quando afirmou textualmente que “apesar da comoção econômica que está varrendo o mundo, estamos prevendo que a próxima Computex Taipei baterá o recorde do número de exibidores e estandes”. O Sr. Yeh baseia seu otimismo em um tripé formado pelos “netbooks”, pelos dispositivos móveis com acesso á Internet (MID, ou Mobile Internet Device) e pela chamada “nova geração de redes” (NGN, de Next Generation Networks). E justifica cada ponto. “Netbook” é o nome que se deu a computadores portáteis de pequenas dimensões, baixo preço, capacidade de processamento reduzida, porém otimizados para acesso sem fio à Internet e pequeno consumo de energia (o que prolonga a duração da carga da bateria). O pioneiro, que acabou se tornando o paradigma do dispositivo, é o Eee PC da Asus – não por acaso uma das maiores indústrias de TI de Taiwan. Lançados há pouco mais de um ano, os netbooks hoje dominam as vendas de PCs para o usuário doméstico. Segundo a lista dos mais vendidos pela Amazon.Com em outubro deste ano, seis dentre os dez computadores portáteis que lideraram as vendas são netbooks da Asus, HP e Acer (outra indústria de Taiwan). Apenas em 2008 foram vendidas mais de doze milhões de unidades destes pequenos micros e as pesquisas estimam um crescimento superior a 150% para 2009, quando as vendas deverão atingir 32 milhões de unidades e a um total que deverá chegar a 50 milhões em 2010 (estimativa da Digitimes). Estes números levaram os organizadores da Computex Taipei 2009 a afirmarem durante a entrevista coletiva que este tipo de dispositivo desempenhará um papel vital na manutenção de um crescimento global sustentado de 6% da indústria de informática e comunicações em 2009 – com crise ou sem crise. O segundo ponto de apoio é a NGN (nova geração de redes), um conceito revolucionário, porém perfeitamente exeqüível. Trata-se, de forma muito simplificada, da “generalização” das comunicações envolvendo todo o tipo de meio, com ou sem fio, fibra ótica e mais o que for, sempre usando o protocolo IP (ou seja, com base na Internet) na qual os produtos finais não terão restrições de transmissão e poderão se integrar completamente. Usuários poderão ter acesso a ela meramente efetuando o registro (“login”) através da conta em seu provedor e, a partir de então, ter acesso a transmissão de voz, dados e vídeo (o chamado “triple play”) em qualquer lugar e a qualquer tempo, podendo se comunicar com qualquer parte do mundo enquanto aprecia sua novela predileta em uma tela colorida de alta definição cujo tamanho pode variar de poucas polegadas a algumas dezenas delas. E participar de videoconferências com os demais membros do grupo espalhados pelos quatro cantos do globo. Parece sonho? Talvez. Mas é um sonho ao alcance das mãos, olhos e ouvidos. Pelo menos dos 80 milhões de habitantes de Taiwan, onde as empresas de telecomunicação, com apoio governamental, estão investindo mais de US$ 200 bilhões na montagem de uma rede global que integra WiMax às comunicações com fio e que fornecerá serviços de transmissão de dados, voz e vídeo indistintamente para todo o país. O terceiro ponto, dispositivos móveis para acesso à Internet (MID), talvez seja o mais importante. O tópico engloba desde computadores pessoais de tamanho reduzido, como os próprios netbooks, até minúsculos telefones celulares, todos eles mantendo uma característica comum: acesso total, permanente e sem fio à Internet. Um tipo de dispositivo que gerou um mercado capaz de interessar aos gigantes da indústria, como Intel (com sua linha de processadores Atom de baixo consumo), Qualcomm, nVidia e VIA, entre outros. E a crise? Bem, segundo Walter Yeh é justamente ela que obriga as indústrias a buscarem um bom ponto de venda para exibir seus produtos. E, com o crescimento que vem apresentando nos últimos anos, a feira de Taipei está ocupando o lugar da velha COMDEX: o local do anúncio de novos produtos, lançamentos que atendam às exigências do mercado em tempos de crise, com baixo custo, baixo consumo de energia e elevada capacidade de conexão.
Pois é isto. A impressão que tive da postura dos organizadores durante a entrevista coletiva foi bastante positiva. Ao que parece as previsões de crescimento, mesmo durante a crise, estão baseadas em pesquisas efetuadas de forma séria e nas vendas antecipadas de espaço. Portanto, para quem é ligado à indústria de informática e telecomunicações, Taipei é o lugar para estar no início de junho do próximo ano. Só não espere visitar a feira toda. É verdade que são cinco dias, mas também é verdade que são cinco pavilhões com quase cinco mil estandes. Com a experiência que acumulei nas COMDEX dos velhos tempos, dá para afirmar que você até pode se programar para visitar mil estandes por dia. Mas lá pelo terceiro dia, duvido que passe dos quinhentos. Se chegar lá... B. Piropo |