Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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28/04/2008

< Vista SP1: se nada mudou, >
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por que instalar? >


Na coluna anterior comentei que instalei o pacote de serviços SP1 em meu Windows Vista Ultimate e não notei mudanças no comportamento da máquina.

Então, por que instalar um negócio que nada muda?

Bem, a coisa não é bem assim. Existe uma diferença entre “não notar mudanças no comportamento” e “nada mudar”. Porque as maiores mudanças que o Vista SP1 agrega ao sistema não se notam simplesmente porque não são aparentes. Senão vejamos, começando pelo quesito “confiabilidade”, ou estabilidade do sistema.

Figura 1: Vista SP1.

A MS dispõe de três poderosas ferramentas de análise do comportamento das máquinas de seus clientes. São elas o CEIP (Customer Experience Improvement Program, ou programa de aprimoramento da experiência do usuário), a OCA (Online Crash Analysis ou análise em tempo real de travamentos do sistema) e o WER (Windows Error Reporting, ou notificações de erros do Windows). Sempre que ocorre um erro que pode ser atribuído a Windows ou a um de seus aplicativos, que o sistema trava ou que o usuário experimenta alguma dificuldade em sua utilização, algumas informações são recolhidas sobre a natureza do problema e o estado da máquina no momento da ocorrência e, caso a máquina esteja conectada à Internet (ou durante a próxima conexão), tais informações são enviadas à MS.

São programas de adesão voluntária, ou seja, nenhum usuário é obrigado a participar deles. E as informações coletadas e enviadas à MS são anônimas. De acordo com a MS o objetivo destes programas é detectar dificuldades experimentadas pelos usuários na operação do sistema, falhas mais comuns, assim como eventuais incompatibilidades ou falhas nas rotinas internas do sistema que possam perturbar o trabalho do usuário, para se munir de dados que a ajudem a evitar que elas voltem a ocorrer. Já de acordo com seus detratores, trata-se de uma invasão da privacidade alheia que o império do mal, capitaneado por Bill Gates e seus algozes, concebeu para observar cada passo dos usuários de Windows e, quem sabe um dia, dependendo de seu grau de periculosidade, abduzi-los para suas naves extraterrenas e extrair todo o conhecimento de seus cérebros, enchendo com ele um dedal de tamanho médio.

Seja como for, os programas existem e há tanto quem fuja deles como o diabo da cruz como quem deles participe. E o número destes últimos é significativo.

Ora, mesmo os mais ferrenhos oponentes desta prática hão de concordar que ela pode contribuir de forma bastante eficiente para gerar um formidável banco de dados que ajuda a MS a determinar quais aplicativos são mais susceptíveis a falhas, em que circunstâncias elas ocorreram e por quais razões. Banco de dados este que, segundo os crédulos, é freqüentemente analisado por uma equipe de técnicos em busca das principais causas de problemas que afetam a estabilidade do sistema. Ou, segundo os incrédulos, em busca de dados sobre a vida privada dos usuários para que um dia, quando o Império do Mal dominar o mundo, providenciem o extermínio de seus adversários depois de submetê-los a sevícias que incluem a obrigação de assistir diariamente uma coletânea de vídeos do Bill Gates falando sobre as virtudes de Windows.

Eu me incluo no bando dos crédulos e tenho me beneficiado destes programas. De quando em vez surge uma pequena janela informando que um ou outro problema ocorrido em minha máquina já dispõe de solução e oferecendo um atalho (“link”) para o local onde ela pode ser encontrada. E não é que volta e meia isso dá certo? (Se você usa Vista e foi suficientemente (in)sensato – escolha manter ou remover os parênteses de acordo com suas convicções – para se inscrever em um destes programas, provavelmente já recebeu alguma ajuda deste tipo. Se não está inscrito, pode pelo menos consultar a lista de problemas ocorridos. Abra o Painel de Controle, clique em “Sistema e Manutenção” e no grupo “Relatório de Problemas e Soluções” clique no atalho “Exibir histórico de problemas”. Assim, se você é da tribo-que-é-contra-Vista, pode esculhambá-lo também quantitativamente, citando o número de problemas, e não apenas qualitativamente, tipo “minha namorada o achou feio”.

Grande parte das atualizações de Vista que a MS distribui regularmente são baseadas nas análises das ocorrências enviadas pelas máquinas dos participantes dos programas citados. Quando a causa do problema está ligada a software ou hardware de terceiros, a MS entra em contato com os responsáveis e tenta desenvolver uma solução conjunta. Com isto, pouco a pouco, os problemas existentes em um novo sistema, como Vista, vão sendo resolvidos. E as soluções tornam-se disponíveis através das atualizações periódicas do sistema.

A maior parte destas alterações foram incorporadas ao SP1. Por exemplo: embora o sistema recomende acionar a ferramenta “Remover hardware com segurança” antes de retirar um dispositivo de armazenamento móvel conectado a uma porta USB, muitos usuários se esqueciam deste detalhe e removiam abruptamente seus “pen drives” da máquina. Em grande parte dos casos isso não causava problema. Mas, naqueles dispositivos formatados pelo sistema de arquivos NTFS, esta prática freqüentemente provocava perda de dados. O SP1 incorporou rotinas que ajudam a evitar que isto ocorra. Outra alteração também resultante da análise de problemas recorrentes foi a melhoria da confiabilidade e desempenho do Vista ao entrar no modo “Dormir” para economizar energia e ao sair dele para retornar à operação normal. Além destes, apenas no que diz respeito ao item “rede”, a MS lista quase uma dezena de alterações para melhorar a confiabilidade do sistema.

Para o bem ou para o mal, a inclusão destas alterações, seja através das periódicas atualizações do sistema, seja através da instalação do SP1, raramente é perceptível (exceto, é claro, para a minoria de usuários que costumavam experimentar este ou aquele problema por elas corrigido). Mas adicioná-las à máquina, inclusive via SP1, garante que, caso um dia ela venha a reproduzir as condições de operação em que um daqueles problemas se manifestavam, seu usuário já não mais será incomodado por eles. E tudo isto apenas no que toca à “confiabilidade”.

Há também o quesito “desempenho”.

Uma das principais queixas contra o desempenho de Vista é a alegada demora na cópia de arquivos. Eu confesso que jamais me incomodei muito com isto já que efetuar grande número de cópias de arquivos não faz parte de minhas atividades habituais, mas entendo que pode representar um sério inconveniente para um grupo significativo de usuários. Pois bem: segundo a MS, após a instalação do SP1, a cópia de arquivos entre uma pasta e outra no mesmo disco rígido tornou-se 25% mais rápida, a cópia de arquivos de um computador remoto que não instalou o SP1 tornou-se 45% mais rápida e a cópia de um computador remoto que também instalou o SP1 tornou-se 50% mais rápida. Alguns comentários à coluna anterior confirmam esta mudança, outros afirmam que também neste caso “não notaram qualquer diferença” (se bem que quem não está mesmo a fim de notar diferença confunde Mariana Ximenes com Cláudia Jimenez só porque o sobrenome é parecido).

Mas esta não foi a única alteração no que toca ao desempenho. Somente no artigo
< http://technet2.microsoft.com/WindowsVista/en/library/417467e7-7845-46d4-85f1-dd471fbc0de91033.mspx >
“Overview of Windows Vista Service Pack 1”, um apanhado geral sobre o pacote de serviços, a MS cita mais de uma dezena de melhorias, inclusive aumento na rapidez ao adicionar e extrair componentes individuais de arquivos comprimidos, melhorias na transição entre os modos de hibernação e padrão e um aumento da ordem de sete a dez porcento na duração da carga de bateria em sistemas portáteis (se você usa freqüentemente “notebooks” por longos períodos alimentados apenas pela bateria, sabe que embora aparentemente pouco, dez porcento faz uma diferença e tanto).

E a segurança, como ficou? Bem, mesmo os mais ácidos críticos de Vista hão de concordar que este jamais foi um de seus pontos fracos. Sistema inexpugnável não existe, mas o número de vulnerabilidades detectadas no primeiro ano de vida de Vista foi significativamente menor que aquelas detectadas em igual período do Windows XP. E o Windows Defender detectou um número 60% menor de contaminações de máquinas rodando Windows Vista que em máquinas rodando o XP SP2. Não obstante, também neste campo houve melhorias, especialmente na criptografia de unidades de disco “BitLocker” (agora o usuário pode criptografar todas as unidades de disco, não mais apenas a unidade “C:”) e na versão “de 64 bits”. Além de aumentar mais ainda o nível de segurança no uso dos cartões inteligentes (“smart cards”) criando um canal adicional de número de identificação pessoal (Personal Identification Number, ou PIN).

Finalmente, não há sistema operacional que sobreviva se não mantiver o passo com as inovações da indústria. Inovações que se manifestam em dois campos: hardware, com o lançamento no mercado de novos dispositivos que precisam se comunicar com o sistema operacional, e software, com o lançamento de novos padrões. E em um ano aparece um bocado de coisa nova em ambos os campos.

No que toca a novos dispositivos de hardware, o SP1 agregou suporte à interface EFI (Extensible Firmware Interface) que, dentro de algum tempo, nas plataformas “de 64 bits”, substituirá os velhos chips que chamamos de “BIOS” mas que na verdade contêm muito mais que as rotinas básicas de entrada e saída: ali está armazenada toda a programação executada durante a partida de um computador, desde os testes iniciais até a carga do sistema operacional. Placas-mãe que suportam esta interface necessitam da colaboração do sistema operacional e a tendência é que em horizonte não muito distante todas as placas-mãe venham a suportar apenas a partida via EFI. Além disso, foi adicionado suporte a novos tipos de dispositivos de armazenamento como os discos óticos de alta definição (tanto HD-DVD quanto blu-ray) e dispositivos móveis que adotam o sistema de arquivos exFAT (Extended File Allocation Table), além de outros. E foram agregadas novas funções ao Windows Media Center, entre as quais o suporte a HDTV.

No que diz respeito a novos padrões, o SP1 agrega ao Windows Vista suporte nativo a novos padrões de comunicação sem fio, como o 802.11n do IEEE e o protocolo SSTP (Secure Sockets Tunnel Protocol) para proteger o acesso remoto a redes privadas virtuais (VPN). Além de mais umas tantas funções crípticas como AH (Authentication Header), ECSDA (Elliptic Curve Digital Signature Algorithm) e outras tantas que reforçam ainda mais os algoritmos de criptografia do Vista. E mais umas tantas siglas que talvez um dia venham a ter alguma importância mas que no momento, para ser honesto, eu não faço a menor idéia de para que servem. Mas, segundo a MS, o Vista já oferece suporte para todas elas graças ao SP1.

Finalmente, a MS aproveitou este ano de observação do comportamento do sistema para agregar funções e recursos que facilitam a instalação múltipla e o gerenciamento de sistemas, tornando a vida dos gerentes de TI bastante mais fácil.

Não cabe – nem faria sentido – detalhar aqui todas as mudanças e alterações incluídas no SP1 de Vista. Mas quem quiser obter informações adicionais pode consultar o artigo
< http://technet2.microsoft.com/WindowsVista/en/library/005f921e-f706-401e-abb5-eec42ea0a03e1033.mspx >
“Notable Changes in Windows Vista Service Pack 1” onde a MS lista as melhorias agrupadas por tipo ou função. E quem quiser uma lista realmente detalhada pode consultar o artigo
< http://technet2.microsoft.com/WindowsVista/en/library/20184cb6-7038-4e82-a32c-4bc10ffe56ab1033.mspx >
“Hotfixes and Security Updates included in Windows Vista Service Pack 1” onde a MS relaciona o numero do artigo de sua base de conhecimento (KB, ou Knowledgement Base), seu título e tipo, o componente afetado e fornece o atalho para quem estiver mesmo interessado nos detalhes. São quase setecentos itens, o que para quem acha “que o SP1 não mudou coisa alguma” talvez seja suficiente para reavaliar a posição.

Presumo que tenha conseguido responder à pergunta do título: instalar o pacote de serviços para que? Quem achar que não consegui, pode continuar a usar (ou não usar) Vista sem ele. Porém, em qualquer caso, algo me diz que cedo ou tarde sentirá falta do SP1.

Isto posto, deixemos para a próxima coluna meus comentários sobre o SP1, Vista, suas virtudes e seus defeitos. Até lá.

 

B. Piropo