< Coluna em Fórum PCs >
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11/02/2008
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< Windows Vista: Balanço anual e SP1 - I > |
2007 passou depressa. Tão depressa que, quase sem nos darmos conta, em janeiro de 2008 o Windows Vista completou um ano de vida e a Microsoft está prestes a pôr a disposição dos usuários domésticos e corporativos seu primeiro “pacote de serviços” (“service pack”), que breve se tornará conhecido como Vista SP1. Eu sei que falar do Vista aqui neste Fórum é mexer em vespeiro, despertar paixões, açular rivalidades e fazer eclodir uma tempestade de comentários contra e a favor. E sei também que macaco velho não mete a mão em cumbuca. Mas a obrigação de quem se dispõe a escrever colunas sobre informática é, como seria de esperar, escrever colunas sobre informática. E, segundo meu juízo, um assunto desses não pode passar em branco. Como não vi aqui no Fórum nenhuma coluna ou artigo analisando o tema, mesmo assumindo integralmente minha notória condição de macaco velho vou me atrever e enfiar a mão nesta cumbuca torcendo para que ela saia de lá com poucos arranhões. Então vamos nessa. Na quarta-feira, 30 de janeiro passado eu (e toda a imprensa especializada, naturalmente), recebi uma mensagem assinada pelos gerentes geral e de produto da Divisão Windows da MS Brasil, com o seguinte teor: “Hoje, a Microsoft comemora um ano do lançamento do Windows Vista para pequenas e médias empresas e para o consumidor final e gostaríamos de compartilhar grandes conquistas. Neste período, foram comercializadas 100 milhões de licenças do sistema operacional, sendo 10 milhões na América Latina e o Brasil é o maior mercado. Dentre as várias boas notícias, gostaríamos de destacar:
No lançamento do Windows Vista, a Microsoft garantiu que esse seria o sistema operacional mais seguro. Um estudo realizado nos últimos doze meses (Windows Vista One-Year Vulnerability Report) mostra que o Vista teve menos casos de vulnerabilidade do que os outros sistemas disponíveis, incluindo o antecessor Windows XP: Windows Vista – 9 patchs Windows XP – 26 patchs Mas ainda há muito a ser feito! Por meio dos sistemas de diagnóstico e update do Windows Vista, é possível continuar aprimorando a experiência do consumidor. Um exemplo são as melhorias que o Service Pack 1 do sistema operacional trará, impactando diretamente na qualidade, otimizando a infra-estrutura e oferecendo suporte para novas tecnologias e padrões”. Espremendo bem, dá para perceber que a MS desejou destacar com sua mensagem os seguintes pontos:
Então, pergunto: O que representam cem milhões de cópias vendidas diante do parque instalado de microcomputadores em todo o mundo? Sabendo-se que muitas destas cópias são “vendidas” como sistema operacional pré-instalado em máquinas adquiridas no varejo e conhecendo a facilidade com que se pode substituir o SO de um computador recém comprado, quantas destas cópias estariam efetivamente em uso? Em que ritmo o número de cópias vendidas tem crescido? O que minha experiência de usuário de Vista durante todo este ano me diz sobre as questões de compatibilidade e segurança apontadas pela MS? E, finalmente: o que esperar do Vista SP1? Pois vamos tentar responder. E, mesmo na qualidade declarada de usuário de Vista, tentar fazê-lo da forma mais isenta possível, buscando não ser “contra” nem “a favor”. Isto significa que, sempre que possível, procurarei substituir opiniões pessoais por afirmações e conclusões apoiadas em análise matemática de tendências baseada em números – dos quais a fonte será sempre citada (mas que, caso alguém me aponte outra que considere mais fidedigna, terei prazer em comparar seus dados com os da que me servi). Então mãos à obra. Para responder à primeira pergunta é preciso ter uma idéia do tamanho do parque instalado de computadores no mundo. Quantos computadores, do tipo “pessoal”, estariam em funcionamento sobre a face da Terra? Á julgar pelas previsões da IBM lá nos idos de 1980, hoje haveria em todo o planeta 25 mil computadores pessoais (este era o mercado potencial de máquinas estimado pela IBM para traçar as bases da concepção do primeiro PC lançado em 12 de agosto de 1981). Mas a IBM errou, e errou feio. Mas errou quanto? Bem, determinar o número exato é impossível. Pode-se até ter uma idéia de quantos computadores foram vendidos desde o início de sua fabricação industrial até os dias de hoje porque, afinal, as vendas são registradas. Mas quantos deles já viraram sucata? Quantos foram aposentados? Quantos se perderam? Não dá para saber. Mas sempre se pode recorrer a uma fonte confiável de estatísticas globais. Como por exemplo a < http://www.worldometers.info/ > Worldometers (mas, como disse, aceito alegremente qualquer outra que venha a ser sugerida), um sítio da Internet que mantém no ar um conjunto de estimativas de dados continuamente atualizados sobre diversos assuntos e que me informa, por exemplo, que a população mundial já passa de 6,51 bilhões de indivíduos e teria 410 mil a mais caso o nocivo hábito do fumo não os tivesse matado apenas este ano. Pois bem, em sua < http://www.worldometers.info/computers/ > página dedicada aos computadores, o Worldometers fornece algumas informações interessantes. A primeira é que neste ano (ou seja, em um mês e meio) mais de 38 milhões deles já foram vendidos, dos quais quase a metade eram portáteis (do tipo “notebook” e “sub-notebook”, sem incluir os micros de mão tipo “handheld”). E afirma ainda que em 2002 foi vendido o bilionésimo computador, estimando que o segundo bilhão em vendas foi atingido em 2007 (segundo o Worldometers estes dados foram obtidos no Gartner Dataquest). Portanto, desde o início de sua fabricação até hoje, foram vendidos mais de dois bilhões de computadores. Mas quantos ainda estariam efetivamente em uso? Bem, aí a coisa é mais difícil e é necessário recorrer a estimativas. E para fazê-las o Worldometers cita algumas fontes, inclusive o próprio Gartner Dataquest, o respeitabilíssimo < http://www.idc.com/ > IDC, a não menos respeitável < http://www.sia-online.org/ > SIA (associação da indústria de semicondutores) e um relatório do < http://www.forrester.com/ > Forrester Research afirmando que ainda este ano o parque de computadores em funcionamento atingirá a marca de um bilhão de unidades ativas. Portanto, como nossos cálculos não exigem grande precisão, podemos considerar um bilhão de máquinas um número perfeitamente satisfatório inclusive porque, sendo uma potência de dez, facilita bastante o cálculo de porcentagens. Então partiremos do princípio que existem no mundo, hoje, cerca de um bilhão de computadores em funcionamento, cada um deles com seu sistema operacional. Este é o número total de possíveis instalações de sistemas operacionais. Ora, diante destes números parece fácil concluir que em um parque de um bilhão de consumidores potenciais, vender cem milhões de unidades em um ano pode ser, sim, razão de comemoração da Microsoft. É uma marca que representa quase dez porcento do mercado potencial. Que assume ainda maior representatividade se considerarmos que, deste bilhão de máquinas em funcionamento, uma parcela razoável é composta de máquinas antigas que não atenderiam aos requisitos mínimos para rodar Vista. O que reduz o mercado potencial efetivo a poucas centenas de milhões de máquinas. Muito bem. Mas, destas cópias vendidas, quantas foram efetivamente instaladas e estão em pleno uso? Bem, aí a coisa é diferente. É preciso saber que porcentagem de usuários está realmente usando Vista em suas atividades diárias. Como avaliar? Ora, se pensarmos que nos dias de hoje o acesso à Internet integra o rol de atividades diárias de praticamente toda máquina que se preza, uma forma aceitável de obter a informação que desejamos é verificar, dentre os usuários que visitam sítios da Internet, que porcentagem usa este ou aquele sistema operacional. Se considerarmos que tais porcentagens são representativas, poderemos extrapolá-las para obter o número total de usuários de cada sistema no parque instalado de um bilhão de máquinas. A melhor fonte que conheço para este fim é o excelente sítio < http://www.w3schools.com/ > W3Schools, de longe o melhor provedor de dados, instruções, tutoriais, artigos e informações sobre o projeto e desenvolvimento de páginas para a Internet de acordo com os padrões “W3C” (World Wide Web Consortium). O W3Schools merece uma coluna só para ele (que, quem sabe, um dia eu ainda venha a escrever). Trata-se de um sítio de acesso gratuito (seu lema é “as melhores coisas da vida são de graça”) com uma imensa quantidade de informações, tanto didáticas quanto factuais, para facilitar a vida de desenvolvedores de sítios para a Internet. Que vão desde artigos comentando as tendências modernas e códigos de exemplos até tutoriais sobre HTML, XML, linguagens de “script” e estatísticas sobre os programas navegadores e resoluções da tela/número de cores mais usados. Tudo isto para orientar os desenvolvedores (por exemplo: gastar espaço de trabalho para criar telas adequadas a resoluções de 640x480 pontos hoje em dia é puro desperdício já que a porcentagem dos internautas que usam esta resolução é desprezível; e apenas 14% utilizam telas de 800x600 pontos, portanto quem desenvolver para telas de 1024x768 estará atingindo mais de 80% do mercado). Mas será que uma amostra constituída pelos visitantes de um único sítio seria representativa? Não posso esquecer que da última vez que citei os números do W3Schools alguém comentou que eu estava usando estatísticas de “um sítio obscuro”... Bem, o número de visitantes ao sítio pode ser obtido no próprio W3Schools. E aqui está, na Figura 1, capturada na página < http://www.w3schools.com/about/about_pagehits.asp > “About Us” do próprio sítio para evitar quaisquer erros de transcrição.
Foram mais de onze e meio milhões de visitantes apenas no mês de Janeiro passado. A distribuição geográfica destes visitantes, o número médio de páginas por eles visitadas, sua taxa de retorno e outras informações podem ser obtidas na mesma página, à qual sugiro uma visita. Mas seja qual for o critério usado para classificá-lo, um sítio que recebe mais de onze milhões de visitantes em um único mês dificilmente pode ser chamado de “obscuro”. E o que nos diz ele sobre os sistemas operacionais usados por estes milhões de visitantes? Bem, na página < http://www.w3schools.com/browsers/browsers_os.asp > “OS Platforms Statistics” estão exibidos os dados (que constam da Figura 2) sobre os sistemas operacionais usados pelos visitantes do W3Schools no mês de janeiro de 2008:
Lá está: Vista é o sistema operacional usado por 7,3% deles. Porcentagem que, se considerada representativa da distribuição de usuários no mercado global e aplicada a um parque instalado de aproximadamente um bilhão de máquinas, resulta em um total de 73 (setenta e três) milhões de usuários que efetivamente usam Windows Vista. Considerando que não há qualquer razão para que os visitantes do W3Schools privilegiem este ou aquele sistema operacional, os números indicam que, das cem milhões de cópias de Windows Vista alegadamente vendidas pela MS, 73% estão em pleno uso. Um índice nada desprezível para um sistema lançado há exatos doze meses, com mudanças radicais em relação a seu antecessor, mudanças que podem implicar um número significativo de incompatibilidades com os programas mais populares. Mas como comparar o número de usuários de Windows Vista com o dos demais sistemas operacionais disponíveis no mercado? Bem, a melhor forma me parece comparar as porcentagens que cada um deles detém (sempre partindo do princípio que os visitantes do W3Schools são uma amostra representativa dos usuários em geral). A comparação mostra que Windows XP ainda domina de longe o mercado de sistemas operacionais: há aproximadamente dez usuários de Windows XP para cada usuário de Vista. Em contrapartida, em segundo lugar vem justamente Vista. Há aproximadamente dois usuários de Vista para cada usuário de Windows 2000, Linux ou Mac OS, cerca de quatro usuários de Vista para cada usuário de Windows Server 2003 e quase vinte usuários de Vista para cada usuário de Windows 98. Também desta comparação Windows Vista não se sai mal. Portanto, as duas primeiras perguntas estão respondidas. Resta saber, entre outras coisas, em que taxa a adoção de Windows Vista tem evoluído. Para isto usaremos ainda as estatísticas do W3Schools, desta vez os dados bimensais recolhidos durante os últimos doze meses e exibidos na Figura 3.
Analisemos os dados. Começando por agrupar os SO em três categorias. A primeira delas reúne os sistemas operacionais cujo porcentual de usuários se manteve estável durante o período observado e que, por conseguinte, não exerceu influência quer sobre o aumento do número de usuários dos que apresentaram crescimento, quer sobre a redução dos que apresentaram decréscimo. A Figura 4 exibe os gráficos de variação ao longo dos últimos 12 meses (ou seja, um ano exato a partir lançamento de Windows Vista) dos porcentuais de visitantes do W3Schools que usavam sistemas operacionais cujo porcentual não apresentou tendência de variação. A cada linha de gráfico foi acrescentada a correspondente “linha de tendência” (mostrada em preto), ou seja, uma reta que mostra a tendência de estabilização, crescimento ou decréscimo da linha de gráfico a que corresponde (considerando o período de tempo relativamente curto, as tendências foram todas consideradas lineares). Cabe informar que tanto os gráficos quanto as linhas de tendência exibidas na Figura 4 e nas duas seguintes foram traçados automaticamente a partir dos dados da Figura 3 lançados em uma planilha Excel.
Estes sistemas operacionais são Windows 2003 Server, que manteve um porcentual de usuários estável pouco abaixo dos 2% e Linux, cuja linha de tendência permanece praticamente horizontal pouco abaixo dos 3,5%. Esta estabilidade significa que, se houve migração de usuários para outros sistemas operacionais, os usuários que mudaram não foram aqueles que usavam Linux ou Windows Server 2003. O segundo grupo é constituído pelos sistemas operacionais que perderam usuários durante o último ano. A evolução dos porcentuais de usuários desses sistemas, assim como a linha de tendência desta evolução, é mostrada na Figura 5 (no caso deste gráfico, a figura foi editada para aproximar as linhas de modo a que coubessem no mesmo gráfico sem que, porém, sua inclinação ou a posição relativa dos pontos fossem alteradas).
Estes sistemas operacionais são Windows 2000, que perdeu cerca de 3,5 pontos porcentuais (de cerca de 7,8% para próximo de 4,2%), Windows 98, que perdeu cerca de 0,4 pontos porcentuais (de cerca de 1% para próximo de 0,6% e cuja tendência, ao que tudo indica, é desaparecer a curto prazo), e Windows XP, com perda aproximada de três pontos porcentuais (de pouco mais de 76% para pouco mais de 73%). Estas linhas indicam que estes foram os sistemas que perderam usuários para aqueles cujo porcentual aumentou. E perderam, juntos, cerca de sete pontos porcentuais (6,9, para ser exato). Finalmente o terceiro grupo reúne os dois únicos sistemas operacionais que, segundo as estatísticas do W3Schools, ganharam usuários no último ano e cuja evolução de porcentuais de usuários é exibida na Figura 6.
Estes sistemas são o Mac OS, que ganhou cerca de 0,4 pontos porcentuais (cuja linha de tendência mostra um crescimento de próximo de 3,8% para cerca de 4,2%) e o Windows Vista, que ganhou 6,5 pontos porcentuais no período (crescendo de 0,6% para cerca de 7,1%). Juntos, estes dois sistemas ganharam exatamente os 6,9 pontos porcentuais que Windows 98, XP e 2000 perderam. Portanto, ao que parece, as coisas se equilibram. A migração de usuários entre sistemas operacionais se deu do Windows 98, Windows 2000 e Windows XP para o Windows Vista e Mac OS. Um exame dos números mostra que o único sistema operacional a apresentar um crescimento significativo, a ponto de em um ano de vida assumir o segundo lugar em porcentagem de usuários, foi justamente o Windows Vista. O que parece dar razão à Microsoft quando afirma que o ritmo de crescimento do número de usuários do sistema é realmente significativo. Por fim, dois pontos que não podem ser consubstanciados por números já que se referem a conceitos inteiramente subjetivos referentes à minha experiência pessoal como usuário de Vista (desde antes do lançamento, quando ainda em versão beta). Mas deixemos este assunto para a próxima coluna... B. Piropo |