< Coluna em Fórum PCs >
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29/01/2007
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Outro número especial: > |
Os que estão acompanhando a série sobre o numero Fi haverão de desculpar a interrupção. E desculparão pelo menos por duas razões. A primeira é que breve haverá uma nova coluna no ar, pois continuo trabalhando nela (os desenhos e animações dão mais trabalho que o texto e por pura teimosia – e não por qualquer pendor artístico – gosto de fazê-los eu mesmo). E a segunda é que o motivo é relevante: esta coluna que você está lendo é a de número cem, a centésima que publico neste Fórum. Algo que merece alguma reflexão, como toda efeméride (termo plagiado de mestre Xandó, colunista campeão – em quantidade e qualidade – que, mais diligente que eu, enquanto escrevo minha centésima coluna já chegou às 105). Afinal, cem também é um número especial. Ou não? Talvez não. Quem sabe 100 seja um número qualquer. Um racional inteiro como tantos outros. Se duvida, exprima-o em binário (1100100) ou hexadecimal (64h) e repare que não há nada de extraordinário nele. Por outro lado, para nós que vivemos subjugados ao sistema decimal apenas porque temos dez dedos nas mãos, parece haver algum encanto em números “redondos”, os múltiplos das potências inteiras de dez formados por um único algarismo seguido de qualquer número de zeros. Quem ainda não se convenceu disso que lembre o alvoroço que foi a celebração da entrada do terceiro milênio no ano 2.000. Uma loucura, particularmente se levarmos em conta que ocorreu em data errada já que o terceiro milênio só começou um ano mais tarde, pois milênios são formados por mil anos e não houve “ano zero”. Mas, pelamordedeus, não vamos entrar novamente nesta discussão que já deu o que tinha que dar no devido tempo. Portanto, se não por razões matemáticas, ao menos por razões sócio-sentimentais o número cem adquiriu certa distinção. Uma pesquisa por ele (em inglês, idioma que por enquanto ainda domina a Internet, já que cedo ou tarde isso mudará para o chinês, falado por vinte porcento da população mundial cujo acesso à Internet vem aumentando em taxa vertiginosa, como atestam o elevado número de mensagens tipo “spam” em ideogramas chineses que tenho recebido ultimamente) revela que entrar com o termo “hundred” no Google retorna 143 milhões de respostas enquanto o valor numérico “100” retorna a bagatela de dois e meio bilhões, desbancando com folga o ex-campeão “sex”, que só retorna 421 milhões (fiquei sinceramente surpreso ao constatar que a humanidade está mais interessada em “100” do que em “sex”). Portanto, o número cem tem lá seu valor. Comemora-se os cem primeiros dias de um governo, cem números de revistas, cem anos do nascimento de escritores e poetas (poucos vivos, já que escrever e poetar parece que não é uma atividade particularmente longeva), enfim, cem realizações seja lá do que for. Por que não cem colunas? O que justifica a interrupção, a comemoração e, sobretudo, a reflexão. Então vamos a elas. Primeiro, acima de tudo e principalmente: obrigado. Não, não olhe em volta procurando o destinatário do agradecimento. O alvo é você mesmo, que se dispôs a empregar seu tempo valioso na empreitada de ler esta coluna em busca, quem sabe em vão, de algum prazer ou informação. É a você mesmo que agradeço. Obrigado por ler o que eu escrevo. Afinal, se não há quem leia, para que escrever? Sem você, não haveria sentido na coluna. Nem no Fórum PCs, na Internet. Ou no mundo. Porque são os interlocutores, os companheiros, os viandantes que compartilham conosco desta longa caminhada que é viver, que dão sentido à existência. São aqueles como você, que dedicam algum tempo a ler meus escritos, que justificam o ofício de escrevê-los. A você, novamente, obrigado. Um agradecimento que abarca muito mais que a atenção dedicada à leitura. Vai além. Porque eu, que há três lustros escrevo em jornais e outros veículos (há quinze anos, para poupar uma visita aos vetustos senhores Aurélio e Houaiss), tive aqui a primeira experiência de escrever em Fóruns. E, asseguro, é algo inteiramente diferente. É verdade que quem escreve em jornais sempre mantém algum contato com os leitores. Especialmente nos últimos dez anos, com a disseminação da Internet fazendo o correio eletrônico entrar em nosso quotidiano. Tanto assim que eu, que continuo mantendo colunas nos jornais Estado de Minas e Correio Brasiliense (no primeiro, além da coluna, assino ainda o “Pergunte ao Piropo” uma seção de respostas a perguntas de leitores; tudo isso permanece à vossa disposição no < http://www.bpiropo.com.br/ > Sítio do Piropo), recebo diariamente um número considerável de mensagens com comentários, elogios e, eventualmente, espinafrações. Mas no Fórum é diferente. Aqui, o contato é interativo. Não se limita a uma fria troca de mensagens individuais. Aqui, a seção de comentários de cada coluna joga, quase literalmente, a discussão no ventilador. E ela se espalha, se desdobra, toma rumos inesperados, em suma: ajuda a melhorar a coluna... Porque os comentários não agregam apenas interação. Fazem muito mais que isso. Muitas vezes completam as colunas acrescentando coisas que deveriam ter sido mencionadas mas não me ocorreram, iluminando um ou outro aspecto do assunto que ficou pouco claro, abordando o tema por um ponto de vista diferente e, o mais importante, corrigindo os erros que minha pouca memória – ou ignorância mesmo – deixa passar. É como se eu escrevesse uma coluna em preto e branco e vocês, leitores, acrescentassem cores com seus comentários. E sou capaz de apostar que eu tenha mais prazer em ler os comentários que vocês em ler as colunas. Obrigado por isso também. E, finalmente, obrigado pelos elogios. Costumo dizer (e é verdade) que prefiro receber correções e espinafrações a elogios porque estes últimos apenas fazem inflar meu ego enquanto os primeiros me ajudam a melhorar. Repito: é verdade. Mas isso não quer dizer que os elogios sejam mal recebidos. Pelo contrário. Afinal, uma massagem no ego faz bem a qualquer um e eu não sou exceção. Por isso, obrigado também por eles, que em geral ultrapassam em número as espinafrações – menos, é claro, quando escrevo algo que desperte a jihad entre as tribos de Linux e da MS. O que me leva a mais um agradecimento. Obrigado aos ilustres (sem qualquer ironia) membros das tribos do Linux e do software livre em geral por me desancarem quando acham que estou exagerando nos elogios à MS e seus programas. Isso me mostra que há opiniões diferentes e que nem sempre o que “eu acho” corresponde ao que “todo o mundo acha”, me ajudando a manter uma postura mais equilibrada e a agregar um pouco da sempre bem-vinda humildade às minhas atitudes. E, repito, asseguro que não vai neste agradecimento qualquer tipo de ironia ou brincadeira. É sério. Mesmo porque, acompanhando os comentários nas demais colunas, dá para encontrar aqui e ali elogios e agradecimentos assinados por alguns dos críticos mais ácidos e ferozes quando o assunto é Linux. O que prova que a eventual diferença de opiniões não fez deles meus “inimigos”, apenas adversários, e somente em um ou outro campo de discussão. Nos demais, impera o respeito – que por sinal é mútuo, já que dedico a eles igual respeito – e a civilidade. O que justifica o agradecimento. Pois é isso. Chegamos ao primeiro cento e, com a ajuda de vocês, espero passar bastante dele. E sempre desejando que vocês sintam pelo menos tanto prazer em ler estas colunas quanto o que sinto ao escrevê-las. E, incidentalmente, obrigado por isso também... B. Piropo |