Sítio do Piropo

B. Piropo

< Coluna em Fórum PCs >
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05/06/2006

< Pirataria: contra ou a favor? >
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Discussão da votação
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Na coluna anterior, “Pirataria: Contra ou a Favor?”, motivado sobretudo pelos comentários despertados pela que a antecedeu (que relatava a atividade de um taxista que remasterizava músicas de sua coleção de discos de vinil antigo e vendia CDs com seleções musicais em seu táxi), mencionei a nova iniciativa da Microsoft para coibir a pirataria de seu sistema operacional Windows XP que se desdobra em dois programas paralelos: Windows Genuine Advantage (ou WGA, que, quando o usuário se conecta ao sítio da empresa para transferir algum arquivo de seu Download Center ou Atualizações do Produto, verifica se a cópia instalada é legal e só permite a transferência caso positivo) e WGA Notifications (que, caso constate que uma cópia instalada é ilegal, emite sucessivas notificações informando disso o usuário e, até recentemente, efetuava comunicações periódicas com a MS informando à empresa sobre o número de notificações emitidas naquela máquina sem, no entanto, identificar o usuário; a coluna informava igualmente que esta última ação foi cancelada pela MS em virtude da reação contrária que provocou entre os usuários; atualmente só é feita uma conexão para informar se a cópia é ou não legal). E, após descrever ambas as iniciativas, propus uma votação sobre o tema que oferecia seis opções de voto que logo serão discutidas.

Hoje vamos tecer algumas considerações sobre esta votação. Antes, porém, faz-se mister ressaltar alguns pontos interessantes à margem de seus resultados.

O primeiro deles é a enorme discrepância entre o número de leitores (“visitantes”, no nosso jargão do Fórum) da coluna e a quantidade de votos recebidos. Com efeito, durante os sete dias em que a votação esteve ativa, a coluna recebeu cerca de oito mil visitantes dos quais apenas 257 (3,2 %) votaram na pesquisa.

O fato de a coluna ter recebido mais de oito mil visitantes em uma semana demonstra um interesse considerável pelo tema. Para registrar o voto bastava um par de cliques nos campos referentes à pesquisa. Como se explica, então, que tanta gente tenha se interessado e tão pouca tenha registrado seu voto (que, diga-se de passagem, ao contrário dos comentários, que abordaremos adiante, é anônimo)?

Honestamente, não sei explicar. Preguiça não é, pois para chegar à coluna são necessários mais cliques que para votar. Receio de explicitar a opinião e com isto se envolver em polêmica muito menos, já que o voto é anônimo. Suspeito que a razão tenha a ver com o mecanismo de votação.

A ação de votar é muito simples: basta clicar no botão de rádio correspondente à resposta desejada e, em seguida, no botão “Submeter voto”. Um dos problemas, receio eu, é a aparente inoperância do atalho (“link”) “Ver resultados”, situado no final do campo da pesquisa. Para quem não votou, um clique nele não mostra resultado algum: resulta apenas em um salto para o início da coluna. Para quem já votou ele é inútil, já que após o voto o campo da pesquisa é substituído pelo dos resultados, que vai sendo paulatinamente atualizado. Eu acredito que o fato da evolução dos resultados da votação não permanecer disponível para todos (ela é mostrada apenas aos que votaram) inibe o visitante, já que uma das mais fortes motivações para votar seria modificar o rumo de uma pesquisa que não está se desenvolvendo de acordo com aquilo que se deseja. Fica aqui portanto minha sugestão para que seja desenvolvida uma forma de permitir que mesmo aqueles que (ainda) não votaram tenham acesso à evolução da votação. Mas antes de qualquer outra coisa eu gostaria muito de ouvir (digo, ler) a opinião sobre o assunto daqueles que acompanharam a coluna até o final e não registraram seu voto (se não a quiserem expor publicamente, enviem-na em mensagens privadas para mim). Por que não o fizeram, já que o fato de ter lido a coluna deve indicar que o assunto lhes interessou?

Incidentalmente, para aqueles que não sabem como enviar mensagens privadas: basta estar registrado no FórumPCs estar “logado” (ou seja, entrar com sua identidade de usuário e senha), clicar no atalho (“link”) “Mensagem Privada” do seu menu pessoal (que aparece para os usuários registrados na coluna esquerda de qualquer página do Fórum), clicar em “Nova Mensagem”, entrar com o endereço do destinatário (no caso de mensagens para mim, “B.Piropo”, sem aspas e sem espaço após o ponto), preencher o campo de Assunto e entrar com o texto.

O segundo ponto é a natureza dos comentários. Até o momento em que escrevo esta coluna, foram 130, oriundos de cerca de cem membros registrados do Fórum (alguns teceram mais de um comentário, por isto os números não coincidem). É curioso acompanhá-los em ordem cronológica para verificar como evoluíram.

Os primeiros, como seria de esperar, discutiam o tema da coluna: o direito da Microsoft validar as cópias de seu sistema operacional, alguns apoiando, outros contestando. Depois, sutilmente, o eixo da discussão se alterou para questionar o quase monopólio   exercido pela empresa no mercado de sistemas operacionais, evidenciado pelo fato (que os usuários dos demais sistemas não apreciam que seja mencionado) de que mais de noventa por cento dos usuários de micros da linha PC usam uma versão qualquer de Windows. Até que, precisamente no décimo terceiro comentário, o termo “Linux” é mencionado pela primeira vez. A partir daí, com raras exceções que servem apenas para confirmar a regra, a discussão voltou-se para o tema de sempre: a guerra Linux x O Resto do Mundo. Em suma: os primeiros dez por cento dos comentários foram pertinentes ao tema. A maioria dos demais descambaram para a eterna discussão monocórdia: Linux é melhor que Windows; não, Windows é melhor que Linux; mas Linux é de graça; Windows é pago (ou pirateado) mas é mais fácil de usar; Linux só é difícil no começo, depois fica fácil; meu pai é mais forte que o seu, minha professora é mais inteligente que a sua; mas minha mãe é mais bonita que a sua; mas minha irmã é mais gostosa; e segue por aí, sempre nesse nível e nesse tom, repetindo de um lado e do outro infatigável e rigorosamente os mesmos argumentos. Haja paciência...

Existe, é claro, alguma relação entre o software livre e a redução da pirataria. E eu entendo perfeitamente que o uso de sistemas operacionais como o Linux e aplicativos como o Open Office constitua uma alternativa válida, lícita e poderosa contra a prática ilegal da pirataria por propiciar gratuitamente acesso a bons produtos que podem substituir cópias ilegais de sistemas operacionais e software em geral. Não somente entendo como estou inteiramente de acordo com isto.

O problema (e esta é apenas uma opinião que, admito, pode estar errada) é que me parece que com sua agressividade, insistência e recusa em mudar de tema, alguns (pelamordedeus, reparem: eu escrevi “alguns”, não “todos” nem mesmo “a maioria”, escrevi apenas “alguns”, só isso, “alguns”, por misericórdia, tenham piedade deste pobre colunista...) evangelizadores de Linux, em seu afã de converter os ímpios e os incréus , acabam alcançando o objetivo exatamente oposto: ao invés de atrair usuários com argumentação persuasiva os afastam com a animosidade que criam contra si mesmos (e por extensão, contra o sistema que defendem) por usarem tanta agressividade – que algumas vezes beira a pura grosseria.

Sim, eu sei que o parágrafo anterior vai deflagrar uma saraivada de comentários pouco elogiosos cujos signatários serão os eternos paladinos do software livre. Mas sugiro aos demais que observem os termos em que tais comentários serão vazados para que entendam o que quis dizer com “agressividade” algumas linhas acima. E sugiro aos referidos paladinos que reflitam um pouco sobre o tema e me concedam ao menos o benefício da dúvida: será que eu não teria razão e uma mudança de atitude seria mais proveitosa, atraindo mais usuários para o software livre? Se concordarem com isso, prometo ajudar. Como já disse alhures, tenho grande simpatia pela causa e gostaria muito de colaborar. Pena que até agora eles mesmos tenham me impedido, praticamente me obrigando a divulgar coisas que eu preferiria não abordar (posso dar exemplos, se forem solicitados).

Incidentalmente: houve exceções, é claro. Embora fosse difícil de encontrá-los no meio da discussão sem fim entre Linux x O Resto do Mundo, foram tecidos alguns comentários extremamente pertinentes sobre questões legais envolvendo pirataria, sobre a sutil diferença o que é “legal” e o que é “justo” e sobre a obrigatoriedade de cumprir ou não leis consideradas injustas que enriqueceram bastante a discussão. A estes, obrigado pela colaboração. Agradecimento que se estende aos muitos comentários que elogiaram a coluna. Embora eu sempre diga (e aqui reitero) que críticas são mais úteis que elogios, não há como contestar que os últimos são mais agradáveis de receber...

Finalmente, vamos à pesquisa. Aqui está, na figura, seu resultado.

Clique para ampliar...
Figura 1: Resultado da pesquisa (clique para ampliar)

Antes de prosseguir, uma observação. O que vai ser discutido do próximo parágrafo em diante é o resultado da pesquisa, ou seja, a opinião daqueles que votaram, não a minha. Para expor e discutir minha própria opinião tenho o privilégio de dispor de uma coluna, portanto não faria sentido misturá-la com a pesquisa. Portanto, o que será exposto adiante não coincide necessariamente (nem necessariamente discrepa) da minha opinião. É apenas uma análise dos porcentuais obtidos. Mas antes de prosseguir, gostaria de abrir um parêntese para dar um “pitaco” sobre o tema. Seguinte: achei estranho não encontrar entre os comentários qualquer menção ao uso comercial de software ilegal. Isto porque, embora eu seja capaz de entender (embora nem sempre concordar) com algumas justificativas para o uso de produtos pirata, acho inaceitável que eles sejam usados profissionalmente. Ou seja: até dá para aceitar (embora sabendo ser ilegal) que o micro montado para a criança de cinco anos jogar joguinhos e aprender a usar computador use uma cópia pirata do sistema operacional, mas considero absolutamente inaceitável que um computador, seja de uma pequena (ou grande) empresa, seja pessoal, usado para fins profissionais, apele para cópias ilegais. Se o produto é usado para ganhar dinheiro, não é admissível que isto seja feito às expensas de quem detém seus direitos de propriedade, mesmo sendo o homem mais rico do mundo. Em suma: software usado para defender “algum” tem que ser legal e não há como justificar o contrário. Agora, voltemos à pesquisa.

Note que não se indagou ser ou não direito da MS validar as cópias. E não se fez propositalmente, já que em sua fase atual, tanto o WGA quanto o WGA Notifications são programas de adesão espontânea. Explicando melhor: a MS não “invade sem licença” a máquina do usuário para verificar a validade da cópia. Ela apenas o faz se o usuário, por sua própria vontade e informado disso, baixar e instalar o controle ActiveX que faz a validação. E isto ocorre apenas quando o usuário, por seus próprios meios, estabelece uma conexão com uma das duas páginas onde o WGA se manifesta: o “Download Center” da empresa e a página de atualização do sistema operacional. Se o usuário não desejar validar sua cópia, basta recusar-se a transferir e instalar o controle ActiveX. Portanto a validação só é feita com o conhecimento e aquiescência do usuário. E, se ele sabe e concorda com ela, não há que discutir o direito da MS de efetuá-la.

Isto posto, observemos o resultado da votação. A primeira opção, com pouco menos da metade de votos (46%), aceita que a MS valide a cópia mas não vá além disso, ou seja, não tome nenhuma providência à respeito. As demais cinco opções que, somadas, representam pouco mais da metade dos votantes (54%) aceita que a MS tome alguma providência (que pode ir desde simplesmente impedir que sejam transferidos os arquivos oferecidos gratuitamente naquelas duas páginas acima citadas até o bloqueio do funcionamento do sistema operacional caso o usuário de uma cópia pirata recalcitre em legalizar sua situação). Portanto, no que diz respeito à licitude e ética da MS de tomar alguma providência para garantir seus direitos de propriedade, a opinião dos votantes está claramente dividida, quase ao meio, com predominância dos que aceitam que a empresa faça algo para garantir seus direitos.

Penso que disso pode-se concluir que a maioria dos votantes é contra a pirataria, se bem que aqueles que não o são (interpretando que tenham esta posição os que aceitam a validação mas não aprovam qualquer iniciativa da MS contra os detentores de cópias ilegais) atinjam quase a metade do universo de participantes da pesquisa.

O que varia, no entanto, é até onde consideram válido que a MS possa ir em defesa de seus direitos de propriedade.

A baixíssima porcentagem daqueles que aprovam que a MS receba informações sobre o que foi encontrado na máquina (um total de apenas dois por cento, distribuídos quase igualmente entre os que concordam – quatro votantes – o os que discordam – cinco votantes – que o usuário seja identificado) deixa claro que, mesmo entre aqueles que aprovam que a MS tome alguma iniciativa para coibir o uso de cópias pirata, raríssimos são os que aceitam que sua privacidade seja invadida, ainda que ele mesmo não seja identificado. Em resumo: a quase totalidade é radicalmente contra o envio à empresa de qualquer outra informação exceto a validade (ou não) da cópia instalada.

Menos de um décimo (precisamente 7%) aprovam o WGA Notifications, aceitando que a MS incomode o usuário de cópias ilegais com avisos periódicos informando-o disso. Definitivamente, esta iniciativa da MS não é um sucesso de público.

Porém os que aceitam que a MS tome alguma providência quando constata a existência de uma cópia pirata se dividem quase igualmente no que diz respeito ao grau desta providência: pouco menos da metade deles (24% do total) acham que o funcionamento do sistema operacional deve ser bloqueado, enquanto pouco mais da metade (27% do total, soma dos votos nas opções 2 a 5) pensam que a MS deve se limitar a impedir a transferência de software gratuito (utilitários e atualizações do sistema) oferecidos por ela própria.

Ao fim e ao cabo, o resultado da pesquisa pode ser assim resumido:

- apenas uma porcentagem insignificante (2%, ou seja, um entre cada 50 votantes) está de acordo com que a MS extraia informações sobre o conteúdo da máquina, mesmo anonimamente;

- quase exatamente um quarto (24%) dos votantes acha que a MS deve ser radical na defesa de seus direitos de propriedade: depois de avisar ao usuário que sua cópia é ilegal e caso ele não tome qualquer atitude para legalizá-la, consideram lícito e ético que a empresa bloqueie o funcionamento do sistema operacional ilegalmente adquirido;

- pouco mais de um quarto dos votantes (27%, soma dos votos das opções 2 a 5) acha que a MS deve tomar alguma atitude para coibir o uso de cópias pirata, mas não que bloqueie o funcionamento do sistema (embora achem aceitável que ela impeça a transferência de software gratuito da própria MS para máquinas cujo cópia do sistema operacional é ilegal);

- e, finalmente mas não menos importante: a maioria (mais da metade, exatos 56%, soma dos votos das opções 2 a 6) dos votantes é contra a pirataria e acha que a MS deve tomar alguma providência para garantir seus direitos de propriedade, embora divirjam quanto ao grau desta providência.

Isto, a meu ver, representa uma postura elogiável dos usuários (pelo menos dos membros deste Fórum). E, mais que isso, uma evolução muito positiva que, de acordo com o que tenho podido observar, se registrou ao longo dos últimos anos. Isto porque, penso eu, se uma pesquisa como esta fosse realizada há, digamos, dez anos, a porcentagem dos defensores das cópias legais seria presumivelmente muito inferior.

Não sei se isto é resultado das campanhas de esclarecimento das empresas desenvolvedoras de software (que incluem muitas outras além da MS), da maior facilidade que os usuários dispõem hoje para adquirir software legal e pagar em moeda nacional, dos custos que baixaram significativamente desde a queda da malfadada “reserva de mercado da informática” (quem que não sabem o que foi isso: melhor nem querer saber) ou da própria conscientização coletiva do universo de usuários.

Mas acho um bom sinal...

 

 

B. Piropo