Minha coluna anterior foi sobre a “Sidebar” de Windows Vista.
Por que teria eu escolhido justamente este tema?
Escolhi porque o Vista será a futura versão de Windows, o sucessor da versão mais recente, o Windows XP.
E isso seria o suficiente para despertar o interesse dos membros deste Fórum PCs? Teria isso alguma importância para eles ou a coluna não seria mais que um vão exercício da arte de “jogar conversa fora”? Vamos tentar analisar à luz de algumas estatísticas.
Há um sítio na Internet dedicado exclusivamente a facilitar o trabalho dos “webdesigners”, os desenvolvedores de páginas da Internet. Chama-se W3 Schools < http://www.w3schools.com/ > e seu slogan é “O maior sítio de desenvolvedores web da Internet”. Nele pode-se encontrar tudo o que interesse aos profissionais da Internet, desde “tutoriais” sobre as tecnologias usadas nesta área de conhecimento até notícias, referências, exemplos e estatísticas.
As estatísticas estão reunidas em uma seção da W3Schools, a “Browser Statistics”, em
< http://www.w3schools.com/browsers/browsers_stats.asp >,
atualizada mensalmente. Nela são refletidas as tendências no uso da Internet.
Estas tendências estão ali para ajudar os profissionais da Internet a planejar o projeto de páginas. Por exemplo: hoje (março de 2006), um profissional que ainda desenvolve páginas para serem vistas em telas com resolução de 640 x 480 pixels está desperdiçando espaço, já que a porcentagem dos internautas que usam esta resolução é próxima de zero. Os que usam resoluções de 800 x 600 pixels chegam a vinte porcento, uma fração pequena, porém não desprezível, enquanto 57% usam resoluções de 1024 x 768 pixels e 17 % resoluções superiores a esta última (não foi possível identificar a resolução usada por seis porcento dos internautas).
Com estes dados em mente fica mais fácil para o desenvolvedor planejar suas páginas, otimizando-as para uma ou outra resolução. Se ele quiser atingir à totalidade dos visitantes, pode conceber as páginas para serem vistas na resolução de 800 x 600 pixels. Os que usam resoluções maiores terão uma “sobra” de espaço nas janelas de seus navegadores mas isso não é tão ruim quanto ter que recorrer às barras de rolamento para poder visualizar a página inteira. Se ele preferir melhorar o aspecto das páginas adotando uma resolução de 1024 x 768 pixels dificultará o acesso apenas de um entre cada cinco visitantes, os 20% ainda apegados aos 800 x 600 pixels, uma decisão que pode ser aceitável dependendo da finalidade da página. Por outro lado, se ele otimizar suas páginas para resoluções superiores a 1024 x 768 pixels estará satisfazendo plenamente a menos de um quinto do total de visitantes, uma decisão claramente equivocada.
Um ponto especialmente interessante relativo ao “Browers Statistics” é que ele mostra não apenas os dados obtidos no último mês como também sua evolução ao longo do tempo, permitindo traçar aquilo que os técnicos chamam de “tendências”. Ainda nos fixando no exemplo das resoluções de tela: se este mesmo profissional consultar as estatísticas de outubro de 2002 verá que naquela época os internautas que adotavam resoluções de 800 x 600 pixels eram quase a metade do total enquanto os que adotavam resoluções de 1024 x 768 pixels mal chegavam aos 40 %. Uma análise destes dados deixa claro que enquanto a porcentagem dos usuários que adotam resoluções de 800 x 600 pixels vem caindo significativamente, a dos que usam resoluções de 1024 x 768 pixels cresce de forma igualmente significativa. Portanto não haverá de ser difícil concluir que dentro de algum tempo certamente não fará mais sentido otimizar páginas para a resolução de 800 x 600 pixels e, se alguém ainda a adota para satisfazer a totalidade de seus visitantes, deve preparar-se para reformular suas páginas.
Note que se o profissional pretende que suas páginas sejam eficazes (ou seja, transmitam a “mensagem” desejada para a maioria dos visitantes) o fato dele pessoalmente preferir esta ou aquela resolução de tela não faz a menor diferença. Ele pode achar que do ponto de vista do prazer visual suas páginas ficariam muito melhores se otimizadas para a resolução de 1280 x 1024 pixels. Mas sabe que se fizer isso elas se tornarão pouco eficazes, já que a maioria dos visitantes usa resoluções menores. Então, sendo ele um bom profissional, consulta as estatísticas, verifica quais são as tendências do público alvo e age de acordo independentemente de suas preferências e gostos pessoais.
Em suma: não se briga com as tendências. Procura-se determinar quais são elas e orienta-se o trabalho de acordo.
E que tem isto a ver com a razão de eu haver decidido escrever sobre a “Sidebar” de Windows Vista?
Bem, se voltarmos à mesma página do “Browers Statistics” encontraremos os dados relativos aos sistemas operacionais mais utilizados pelos visitantes do W3 Schools, uma amostra bastante significativa. Os dados correspondentes a abril de 2006 (mês mais recente disponível na ocasião em que esta coluna foi editada) indicam que quase noventa porcento (precisamente 89,2 %) dos internautas usam uma das versões de Windows enquanto menos de sete porcento (exatos 6,9 %) usam Linux ou Mac OS. E cerca de três entre quatro internautas (74 %) usam o Windows XP.
Mas os dados de um mês são apenas um ponto da curva. Para conhecermos a tendência precisaremos examinar um período mais longo. Digamos os últimos doze meses. Pois bem: montando-se uma tabela dos dados correspondentes aos últimos doze meses fornecidos pelo “Browers Statistics” tem-se os seguintes resultados:
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Tabela 1: Evolução da utilização de sistemas operacionais |
Um exame da tabela mostra que enquanto a utilização de Windows em geral e dos sistemas operacionais Linux e Mac OS somados não se alterou muito durante os últimos doze meses, a de Windows XP cresceu significativamente. Esta evolução pode ser melhor percebida se exibirmos as curvas de tendência em um gráfico.
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Figura 1: Gráfico da evolução da utilização de sistemas operacionais |
Como se vê do gráfico, enquanto o uso somado de todas as versões de Windows oscilou pouco em torno da linha correspondente aos 90 % de usuários e o uso somado dos sistemas Linux e Mac OS também se manteve estável em um nível próximo dos 6 % (variou de 6,2 % a 6,9 % do total de internautas), o uso de Windows XP vem crescendo quase continuamente nos últimos doze meses, registrando um aumento de dez porcento do total de internautas no período.
Como interpretar estes dados?
Em termos de análise de tendência o fato de que tanto a linha que mostra a evolução das porcentagens de internautas que usam Windows quanto a que mostra a evolução das porcentagens dos que usam uma das versões Linux e Mac OS terem se mantido praticamente horizontais nos patamares próximos a 90 % e 6 % respectivamente significa não apenas que Windows domina o mercado de sistemas operacionais como também que, caso não haja uma brusca mudança da tendência causada por algum fator inesperado, esta situação deve se manter inalterada no futuro próximo.
Já o aumento da porcentagem de utilização de Windows XP indica que durante o período houve uma tendência de migração de outras versões (ou sistemas operacionais) para o Windows XP, a versão mais recente de Windows.
Portanto, a análise desapaixonada dos números fornecidos por uma fonte independente de qualquer desenvolvedor de sistemas operacionais leva a duas conclusões claramente delineadas.
A primeira é que Windows domina o mercado de sistemas operacionais e caso não haja uma mudança de tendências deve continuar dominando pelo menos a médio prazo.
A segunda é que os usuários de sistemas operacionais tendem a migrar para a versão mais recente de Windows.
Dentro de menos de um ano, se não houver mais nenhum atraso, a versão mais recente de Windows será Windows Vista. Que está em versão beta, uma versão beta distribuída a um número reduzido de usuários cadastrados (ao contrário do que ocorreu com algumas versões anteriores de Windows, cujos exemplares “beta” foram largamente distribuídos).
Portanto, considerando-se as tendências estatísticas e o pouco que se tem divulgado sobre o que o Vista trará de novo, tudo o que diz respeito a ele deve interessar à maioria dos usuários de computadores. Logo, à maioria dos membros deste Fórum PCs.
Por isto decidi escrever sobre a “sidebar” de Vista, um elemento que foi incorporado apenas aos dois últimos “buids” disponíveis.
Note que para escolher o assunto não levei em consideração minha opinião pessoal sobre a qualidade dos sistemas operacionais da Microsoft, sobre Vista ou sequer sobre a própria sidebar. Escolhi em função do fato estatisticamente comprovado de que Windows é o sistema operacional usado por nove entre dez usuários de computadores pessoais, que estes usuários tendem a migrar para a versão mais recente e que Vista brevemente será esta versão. Portanto certamente haverá um número significativo de membros do Fórum PCs interessados nas novidades que o sistema apresentará e, na qualidade de colunista do Fórum PCs, cabe-me satisfazer sempre que possível a este interesse, independentemente de minha preferência pessoal.
Mas o que me levou a escolher o assunto desta coluna que você está lendo agora?
Bem, a coluna sobre a sidebar de Vista está no ar há menos de uma semana e já ensejou quase quarenta comentários. Sugiro que você dê uma olhada neles (me refiro aos primeiros quarenta, não sei o que será postado daqui em diante).
A maioria deles é absolutamente pertinente: revelam a opinião de cada um sobre a Sidebar, alegam que ela não representa novidade, citam produtos similares, mais antigos e, segundo os signatários, melhores. Ou acham que mesmo não sendo novidade a sidebar é interessante, gostam dela, acham útil. Em suma: exatamente o tipo de comentário que se espera em um sítio como este, freqüentado por gente que aprecia computadores, tem opinião formada sobre programas e sistemas operacionais e gosta de pô-las em discussão.
Mas em alguns comentários percebe-se uma espécie de “torcida contra” o Vista. São comentários que, salvo melhor juízo, refletem mais o desejo de quem o fez do que uma opinião isenta de usuário. Em geral provêm de pessoas que usam outros sistemas operacionais e acham que “seu” sistema é superior ao Windows. O que é natural, já que se preferissem o Windows o estariam usando em vez de “seu” sistema.
Esta coluna foi escrita pensando nestes usuários.
Se eles preferem seus sistemas operacionais, seja lá qual for, certamente forjaram sua preferência em sólidas razões. E se acham que “seu” sistema é melhor que o Windows, também estão absolutamente corretos: para eles, de fato, é melhor, pois se não fossem usariam outro.
E acho também perfeitamente natural que eles “torçam contra” o Vista, já que se dependesse deles todos os demais usuários estariam instalando “seu” sistema. O que também é compreensível. É um sentimento muito mais ligado à emoção que à razão, como aqueles que unem os membros de torcidas de clubes de futebol.
Mas ocorre que, ainda que seja efetivamente melhor que o Windows, o “seu” (deles) sistema, seja qual for, é usado por pouco mais de cinco porcento dos usuários. Portanto, é lícito supor que seja usado por pouco mais de cinco porcento dos freqüentadores deste Fórum. E, a julgar pelas tendências evidenciadas pelas estatísticas, isso não deve mudar nos próximos meses.
E acontece que por maior que seja a paixão que estes usuários dedicam a “seus” sistemas operacionais, por mais justas que sejam suas razões para defendê-los, por melhores que sejam suas intenções, nada disso exerce a menor influência nas porcentagens de uso. Querendo eles ou não, gostando ou não gostando, preferindo ou não preferindo, Windows é o sistema escolhido por noventa porcento dos usuários de computadores pessoais e, segundo uma análise fria das tendências mostradas pelos dados estatísticos, continuará sendo no futuro próximo, independentemente do meu, do seu ou do desejo de qualquer usuário tomado individualmente.
Como colunista deste Fórum, por mais que respeite a opinião destes usuários – e efetivamente respeito – penso que despertará mais interesse escrever sobre uma característica a ser incluída na nova versão de um sistema usado pela esmagadora maioria de usuários que sobre as excelências de um outro sistema que, por melhor que seja, é usado por menos de dez porcento dos leitores em potencial.
Assim, continuarei usando os mesmos critérios para escolher os assuntos de minhas colunas.
Eu sei que tem gente que vai gostar desta coluna e tem gente que não. E, como ela é postada em um Fórum, aberta a comentários, espero manifestações de leitores com opiniões favoráveis e contrárias. Que serão, adianto desde já, respeitadas seja qual for seu teor.
Mas por maior peso que tenham tais opiniões, uma coisa é certa: não adianta brigar com as tendências...
B. Piropo