Mais uma interrupção na série sobre computadores para abordar um tema mais atual: a conexão de um celular com o micro mesmo contra a vontade da prestadora. Quanto à série, breve voltarei a ela. Ou não, porque ao que parece ela não está fazendo muito sucesso...
Telefones celulares são fruto de uma novíssima tecnologia. Não obstante, nos poucos anos em que existem, já sofreram mudanças fundamentais.
Os primeiros celulares eram, evidentemente, telefones. A diferença é que eram apenas telefones. Os mais sofisticados vinham com alguma memória na qual se podia armazenar uma quantidade limitada de nomes e números para facilitar a ligação, mas não mais que isso.
Hoje, os celulares são quase tudo. Além de telefones, mesmo os modelos mais simples trazem agendas de contatos, com nomes, telefones e endereços, transmitem e armazenam mensagens de texto, usam dezenas de “toques” (“ringtones”) diferentes e permitem a execução de jogos. Os mais sofisticados dão acesso à Internet com gerenciamento de correio eletrônico, permitem baixar “toques” musicais (“truetones”), incorporam sofisticadas agendas de compromisso, reproduzem músicas no formato MP3 que buscam na Internet, jogos interativos e clips de televisão. E, por último mas não menos importante, incorporam câmaras fotográficas ou de vídeo.
Tem gente que gosta. Mas há quem prefira, como eu, separar as coisas. Uso um micro de mão da linha Palm, com tudo o que preciso para suprir minhas necessidades básicas (é um modelo Tungsten T3 já com dois ou três anos de vida, mas perfeitamente satisfatório). E, para me comunicar, prefiro um telefone celular simples. Tanto assim que até há poucos meses eu usava um modelo jurássico, um celular que, imaginem vocês, só sabia falar. E que, infelizmente, um belo dia simplesmente faleceu. Dizem as más línguas que morreu de velho e é bem possível que assim tenha sido.
Como eu queria manter o número, para trocar o aparelho procurei a mesma operadora – mesmo porque, cliente há quase uma década, eu fazia jus a uns tantos “pontos” que poderiam ser convertidos em abatimento na compra do novo modelo. E, quando liguei para os responsáveis pelas vendas para especificar o tipo de telefone que eu desejava, listei minhas modestas pretensões. E acrescentei: “sem câmara fotográfica, por favor”.
Parece incrível, mas não foi possível atender minhas especificações. Pois todo modelo que apresentava as mínimas qualidades desejadas vinha também com câmara fotográfica. Quer dizer: baseado nos modelos disponíveis naquela ocasião, ou eu ficaria com um de segunda linha ou aceitaria um com câmara fotográfica. A (aparente) vantagem é que ele não custava mais caro por isso. Pelo contrário: era até mais barato que alguns modelos similares de outras marcas que não tinham câmara. Aceitei. Não estou aqui para fazer propaganda do fabricante, mas como o modelo tem a ver com o assunto da coluna, vai a citação: trata-se do “Prime shot” da LG mostrado na Figura 1.
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Figura 1: Telefone LG Prime Shot |
Afinal, pensei, nada me impediria de usar o telefone com câmara como se câmara ele não tivesse. Leda ilusão. Logo descobri que quem tem um telefone com câmara, querendo ou não, acaba usando o bichinho para fotografar uma coisa aqui, outra ali, mesmo que a qualidade da imagem fique muito aquém do que seria considerado satisfatório. Afinal, a câmara está tão à mão que a gente acaba por usá-la, tendo planejado ou não. Aliás, é exatamente com isto que a operadora conta e talvez seja essa a razão de incluírem a câmara praticamente sem custo adicional.
Aqui, cabe um parênteses para comentar o tipo de relação mantido no Brasil pelas grandes empresas com seus clientes. Talvez haja alguma exceção, mas confesso que não conheço nenhuma. A coisa funciona assim: a grande empresa dita as regras e estabelece as condições. Ao usuário cabe aceitá-las ou cantar em outra freguesia. E quando estabelecem suas regras, parece que as empresas usam como mote um velho ditado nordestino: “É só o venha a nós, ao vosso reino nada”. E recorrem a todo o tipo de “esperteza”. O usuário, coitado, acaba quase sempre desempenhando o papel de otário. Vejamos um exemplo.
Fotografar com o Prime Shot é muito simples. É verdade que a foto não fica lá grande coisa (veja o exemplo da foto da Figura 2, obtida na inauguração da ONG Magê-Malien; se você quiser saber mais sobre a ONG e a extraordinária figura de Mestre Bode, que aparece à esquerda, de camisa laranja, leia a Coluna do Piropo publicada no Globo de 19/09, disponível na seção Escritos – Coluna do Piropo/Trilha Zero de meu sítio, em < www.bpiropo.com.br >). Mas não exige habilidade alguma. Basta selecionar a função, apontar, enquadrar e disparar. Mais simples, impossível.
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Figura 2: foto tirada com o Prime Shot |
Como eu disse, “tirar” uma foto com o Prime Shot é fácil. O problema surge quando se deseja “tirar” a foto do Prime Shot, ou seja, extrai-la de lá transferindo-a para o computador. O telefone não se comunica por infravermelho nem bluetooth. Há um encaixe para um conector onde se poderia conectar um cabo que ligaria o telefone ao computador. Mas onde encontrar o cabo? Procure em qualquer loja da Vivo, a operadora que me vendeu o telefone. Se encontrar, ganha um doce.
Mas por que será que a operadora não põe à disposição de seus usuários um item que muito provavelmente seria um sucesso de vendas?
Bem, garantir não garanto, mas examinando bem a questão não é difícil chegar a uma conclusão. Se ela é verdadeira ou não, depende exclusivamente do modo pelo qual a Vivo trata seus usuários: com ética ou com esperteza.
Porque sem o cabo não há outra forma física de comunicação entre o telefone e o micro. Portanto, o único meio restante de transferir as fotos é enviá-las pela internet. Pagando (caro) pela conexão, evidentemente.
O problema é que se a Vivo foi esperta, o otário fui eu. E como esse é um papel que não me agrada, decidi tomar alguma providência. Se você tem um telefone celular Prime Shot ou assemelhado e deseja tirar fotos com ele e transferi-las para seu micro, prepare-se para aprender uma forma perfeitamente legal de fazer isso sem passar por otário. Mas vai precisar do cabo, que tanto quanto eu sei só pode ser encontrado no exterior.
O Prime Shot é o nome de fantasia de um modelo de telefone celular fabricado no Brasil pela LG. A especificação do modelo é “BX6170”. Se você se decidir a comprar ou encomendar o cabo no exterior, vai precisar dela. Se seu modelo é diferente, procure pela especificação no compartimento da bateria.
De posse da especificação, procure o cabo. Não é muito fácil encontrá-lo, mesmo no exterior. Nos EUA, onde estive recentemente para participar do PDF da Intel, procurei em vão em dezenas de lojas de eletrônica, informática e até nas especializadas em celulares. Somente o encontrei em uma loja da Verizon, uma prestadora que oferece a seus clientes modelos semelhantes de celulares. E ainda assim não consegui comprá-lo sozinho. O cabo, que conecta o telefone a uma porta USB do micro, veio como parte do “Mobile Office Kit”, que além dele inclui o software necessário para conectar o micro com a Internet usando os serviços da Verizon. Que, infelizmente, só funcionam nos EUA.
O que me interessava eram o cabo e os drivers, portanto paguei satisfeito os trinta e tantos dólares que me custou o “kit”. Como cada foto tem entre quinze e trinta KB, logo ele sairá de graça. A única condição para que a coisa funcione é que cabo e drivers (que fazem parte do “kit”) sejam compatíveis com o modelo do telefone celular, BX6170 no caso do Prime Shot. Aí estão, na Figura 3, o cabo e o único dos dois CDs que compõem o kit que você irá usar, o que contém os drivers.
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Figura 3: Cabo e CD para LG-BX6170 |
Agora, ficou um bocadinho mais fácil. Inseri o CD no drive, esperei a execução automática do programa de instalação e, na primeira tentativa, instalei o pacote todo: drivers e programas.
Não funcionou.
Os drivers foram instalados sem problema e, assim que o telefone foi conectado ao micro através do cabo, foi reconhecido imediatamente. Mas quando tentei configurar o programa, apareceu uma mensagem informando que infelizmente o modelo BX6170 não era suportado por ele. Ao que parece este modelo fabricado no Brasil ainda não chegou ao mercado internacional.
Fazer o que? Bem, a primeira providência foi usar a Restauração do Sistema de Windows XP para desfazer as alterações causadas pela instalação dos drivers e do programa. A segunda foi visitar o sítio da LG para verificar se ela punha à disposição de seus clientes algum programa de conexão de seus celulares com o computador.
Punha. Apenas no sítio da LG brasileira, já que o modelo Prime Shot é fabricado aqui. O sítio da LG nacional fica em < http://br.lge.com/ >, onde você encontra as especificações dos celulares que suportam o padrão CDMA (entre os quais o Prime Shot) em
< http://br.lge.com/md/product/prodcategorylist.do?actType=list&categoryId=
[NA MESMA LINHA] 0000060101&parentCategoryId=0000000601&categoryLevel=4 >
e os programas e manuais dos aparelhos em
< http://br.lge.com/md/product/sidemenuBoard.do?action=list&group_code=
[NA MESMA LINHA] 0000060101&list_code=PRD_SW&target=swlist&categoryId=0000000601&modelCategoryId=
[NA MESMA LINHA]0000060101&categoryLevel=4&parentId=ROOT >.
Inclusive o programa “LG Prime Shot Link” em
< http://br.lge.com/md/product/sidemenuBoard.do?action=read&group_code=0000060101&list_code=PRD_
[NA MESMA LINHA]SW&catPrdBbsId=10208&page=1&target=swread&categoryId=0000000601&parentCategoryId=
[NA MESMA LINHA] 0000060101&parentId=ROOT&searchkey=&categoryLevel=4 >
(ainda em versão beta, porém perfeitamente funcional; seu arquivo chama-se “LGLink20_2KXPBETA04LA.exe” e ocupa pouco mais de seis MB de espaço em disco).
Agora ficou fácil. Na segunda tentativa, comecei com o disco Nr 1 do kit da Verizon, instalando os drivers e apenas eles. Deixei de lado o CD 2, que instala os programas. Depois, executei o programa de instalação do LG Prime Shot Link, que havia baixado do sítio da LG. Terminada a instalação, bastou configurar o programa, criando uma identidade e senha e confirmando a porta, detectada automaticamente pelo programa.
Agora não somente posso transferir as fotos do telefone para o computador (a que você viu nesta coluna foi transferida assim) como também editar no micro – e não no ridículo teclado do telefone celular – a agenda de endereços, telefones e compromissos. Além de ter acesso à maioria das funções do telefone através do programa Prime Shot Link.
O que me fez sentir um bocadinho mais esperto (no bom sentido, naturalmente).
B.
Piropo