Coluna em Fórum PCs: Despedida
|
B. Piropo
|
|
Meus amigos: O sítio Fórum PCs saiu do ar no dia 30 de novembro de 2012. Seu enorme contingente de leitores lamentou profundamente o fato. Mesmo levando em conta que no último ano de funcionamento a qualidade do sítio decaiu bastante – em função das mesmas razões que levaram ao fechamento e que serão arguidas adiante – ainda podia ser considerado uma das melhores fontes de notícias e textos opinativos sobre tecnologia da Internet Brasileira. Mas razões empresariais – que pouco tinham a ver com o sítio propriamente dito e mais com a corporação que o adquiriu há pouco mais de um ano – acabaram levando a sua extinção. Não haverá mais aqui, portanto, a semanal "Coluna no ForumPCs". Ela será substituída pela "Coluna na IT Web", o sítio pertencente à IT Midia, empresa que havia adquirido o FPCs e para onde migraram as minhas colunas e as do Flávio Xandó, meu amigo e colega do FPCs. Minha última coluna no FPCs – sintomaticamente, sobre o então recém-lançado Windows 8 – foi publicada em 05 de novembro de 2012. Ela está aí abaixo, encimando a lista de colunas, onde permanecerá, enquanto existir este Sítio do Piropo, juntamente com todas as demais lá publicadas. Mas eu não poderia deixar esta página sem uma explicação. Por isto decidi agregar a este texto o conteúdo de uma série de comentários que publiquei na rede social Facebook que dá minha versão dos fatos que levaram ao fechamento do sítio e leva minhas despedidas aos colegas e leitores do FPCs. Aí vai ele. E, a todos os que tiveram a paciência de acompanhar minhas colunas no FPCs, obrigado. E, em vez de adeus, um até breve: já na segunda semana de dezembro minha nova coluna poderá ser encontrada no < http://itweb.com.br/ > IT web. Aqui vai o comentário no Facebook: Sim, meu amigo, meu companheiro Flavio Xandó: o FPCs se foi. É verdade, meu irmão Carlos Alberto Teixeira, que um dia me fez o maior elogio que um pai como eu pode receber e eu fiquei tão tocado que sequer soube reagir apropriadamente: as notícias são péssimas. Realmente, menina Elis Monteiro, filha/amiga tão querida: é uma tristeza. E você, companheirão Abel Alves, tem razão: era uma grande turma e poucos sabem tão bem disto como você mesmo, que um dia a integrou. Também eu, companheiro e amigo Wesley Moraes, ainda não consegui engolir a novidade. Quanto a você, Paulo Couto, muitas vezes meu mestre, algumas meu filho, todas meu amigo, e você, doce Cacau, ambos vincaram tão fundo este velho coração que não há nada que eu possa escrever para mostrar quão forte foi o vinco. Mas é fato, o ForumPCs acabou-se; Até o momento em que eu escrevo isto, a mensagem do Xandó [no Facebook] que anunciou o final do sítio já havia recebido mais de sessenta comentários e outras tantas pessoas a "curtiram". Eu gostaria que todas elas lessem mais este comentário de quem teve o privilégio de participar de uma iniciativa que, pelo menos para mim, representou um dos mais importantes marcos da Internet do Brasil. Não dá para avisá-las todas aqui [neste comentário no Facebook], sempre haverá de faltar alguma. Então, peço aos amigos, velhos leitores do FPCs ou não, que divulguem este meu comentário. Ele se refere a um pedaço da Internet brasileira que foi dela amputado precocemente de uma forma dolorosa, fala de uma era que se encerra, lembra um grupo de amigos. Milhões deles (o FPCs recebia regularmente alguns milhões de visitantes únicos por semana antes de ser vendido) que ficam sem seu porto seguro, seu local de reunião, seu ponto de encontro. Então penso que vale divulgar. Escrever, para mim, é uma atividade prazerosa por si mesma. Escrever sobre a tecnologia envolvida nas áreas de informática e telecomunicações, um tema que me agrada e que, embora eu não domine e sequer conheça um terço do que gostaria de conhecer sobre ele, é um prazer maior ainda. E escrever em um veículo onde eu convivia com pessoas de quem eu gosto, que eu admiro e cujos textos me agradam ler, era realmente o suprassumo do prazer. Pois bem: escrevo sobre estes temas há mais de duas décadas sem falhar sequer uma semana (minto: na semana em que, acidentado, estive imobilizado em uma cama de hospital no interior do Chile, falhei; mas na seguinte as colunas já estavam no ar). Escrevi no jornal O Globo, em um monte de sítios da Internet, em jornais de Brasília e Belo Horizonte onde continuo escrevendo, mantive programas de rádio e quadros sobre tecnologia na televisão, escrevi até em "revista de mulher pelada". Perdi a conta dos veículos, incluindo rádio, TV, revistas, jornais e Internet, que já publicaram as bobagens que andei escrevendo por aí. Mas em nenhum deles escrevi com tanto prazer quanto para o FPCs. Em nenhum deles os leitores interagiam de forma tão apaixonada, travando discussões memoráveis que muito me divertiram, muito me agradaram e, sobretudo, muito me ensinaram (na verdade não sei se aprendi mais com meus leitores do que eles comigo ou se foi o contrário). A liberdade na escolha do tema era absoluta e, fora as exceções de praxe, a reação dos leitores era sempre positiva escrevesse eu sobre o lançamento de um sistema operacional, sobre a vida de um personagem histórico, sobre o prêmio IgNobel ou sobre um estranho animal chamado "cerumano" ou "carioca ixperto". O FPCs era uma festa. E acabou-se a festa... Podem alinhar mil razões para explicar por que o FPCs saiu do ar. Alguns citam suas teorias com tristeza, outros com uma alegria oculta misturada com uma ponta de inveja difícil de disfarçar. Nenhum deles passa sequer perto dos motivos que efetivamente levaram o sítio a sair do ar. Talvez nem eu, que também cultivo minhas hipóteses mas não faço questão de divulga-las, discuti-las ou polemizar sobre elas. Como já disse alhures, senti a perda do FPCs como sentiria a perda de um amigo querido, e se o amigo se foi, pouco importa se a morte foi causada por atropelamento com bicicleta ou desabamento de edifício. O que importa é que se foi. Mas, por respeito àqueles que tanto se incomodaram com a perda, e considerando que acompanhei os acontecimentos mais ou menos de perto, vou tentar expor meu ponto de vista. Porque, meu amigo Gabriel Torres, frases como "Não faz sentido uma empresa comprar um site para depois fechá-lo" parecem cheias de verdade e soam como os provérbios do Conselheiro Acácio, mas fora do contexto não significam muita coisa. Pois há situações em que, sim, isto faz sentido. O FPCs foi comprado pela empresa IT Mídia há cerca de um ano. A aquisição fazia parte dos planos estratégicos da empresa, que oferece diversos produtos, entre o quais se destacam duas revistas, a realização de diversos tipos de estudos e fóruns corporativos e alguns produtos digitais dentre os quais o IT Web, onde eu e o Flávio Xandó passaremos a escrever nossas colunas doravante. Os planos estratégicos eram ambiciosos e foram expostos pelos próprios dirigentes da IT Mídia aos membros e colaboradores do FPCs em uma reunião específica para este fim. Não me cabe divulgá-los, mesmo porque seria antiético, mas asseguro que o FPCs tinha um papel relevante nestes planos. Ocorre que grandes empresas não são como sítios de tecnologia que têm um "dono", como o próprio FPCs era antes da aquisição. Nestas, seus rumos são ditados sobretudo pela vontade do dono, que decide o que e como fazer. Naquelas, as decisões são discutidas em colegiados e sofrem influências das contingências do mercado, da economia do país e de um mundo de outros fatores. Inclusive humanos, envolvendo as relações entre os dirigentes e a composição do corpo do colegiado. E tudo isto muda ao longo do tempo. Pois bem: foi basicamente isto que aconteceu com IT Mídia e FPCs: em um dado momento, em função de diversas mudanças internas e evolução das contingências externas, o plano estratégico foi alterado. E, de acordo com as diretrizes então adotadas, não havia papel para o FPCs na nova conjuntura. Foi por isto que o FPCs saiu do ar. Nada que tivesse a ver com o próprio fórum, nada que tivesse a ver com seus membros e colaboradores, nada que tivesse a ver com sua qualidade. O FPCs acabou porque nos novos planos estratégicos da IT Mídia não havia lugar para ele. Perto do final tentou-se uma forma alternativa pela qual o FPCs sobrevivesse mais ou menos como era antes. Ela acabou por se revelar antieconômica. E grandes empresas são empresas, não são indivíduos. São regidas por um código próprio onde atividades antieconômicas não têm lugar. A decisão final, irreversível, foi fechar o FPCs. Então, de forma bastante resumida, estas são as razões pelas quais não mais temos o FPCs. Minhas colunas e as do Flávio Xandó continuarão a ser publicadas no IT Web, mantida a mesma periodicidade. O foco do IT Web não é assim tão diferente daquele sempre mantido pelo velho FPCs. Afinal, tecnologia sempre será tecnologia e os usuários, domésticos ou corporativos, são pessoas com as mesmas inquietações e dúvidas. Quem achar que vale a pena ler os excelentes escritos do Xandó, que tenho certeza, mesmo por lá, vez por outra contará seus saborosos "causos", ou dar alguma atenção às bobagens que este vosso criado escreve, lá os encontrará. Portanto, aos leitores, (espero) até breve. Ao FPCs, adeus. Um dolorido adeus. B.Piropo |