A COMPUTEX 2010 realizou-se semana passada – mais especificamente de 31 de maio a 4 de junho em Taipei, capital de Taiwan, um dos mais importantes centros de tecnologia da Ásia. Suas solenidades de abertura enfatizaram que esta foi a trigésima edição da feira. Talvez você não veja nisto nada de extraordinário, afinal há de existir por aí feiras mais longevas. Mas esta é uma feira de informática. E se você fizer as contas notará algo interessante. Conte “para trás” trinta edições e diga-me lá quando foi a primeira COMPUTEX. Percebeu? Sim, 1981, justamente o ano em que a IBM lançava seu primeiro PC, aquele que deflagrou a revolução da informática pessoal. Ou seja: para uma feira de computadores, não há dúvida que a COMPUTEX é tradicional. E bota tradição nisto.
É claro que as primeiras edições em nada pareciam com esta – que atraiu mais de 120 mil visitantes para percorrer seus quatro imponentes e sempre apinhados salões e visitar seus 4.800 estandes. Eram apenas reuniões das empresas membro da TCA (Taipei Computers Association), que organiza a feira até os dias de hoje, para discutirem meios de juntar esforços para expandirem seus negócios. Mas o fato de já existir em Taipei uma associação de empresários ligados à informática nos idos de 1981 não deixa de ser sintomático. Não é por acaso que a indústria de informática e comunicações é hoje a espinha dorsal da economia de Taiwan.
Comparada com a edição anterior, cuja cobertura vocês podem encontrar na seção “Escritos / Artigos no Estado de Minas” do Sítio do Piropo, em < www.bpiropo.com.br >, a deste ano apresentou um pequeno crescimento. Afinal, a economia mundial ainda está se recuperando dos efeitos danosos da crise de 2008/2009 e, portanto não se deveria esperar mesmo uma grande expansão. Mas houve, sim, um efetivo crescimento tanto do número de visitantes esperados como de expositores. O que foi devidamente ressaltado pelos organizadores e indica que, apesar de longeva, a COMPUTEX ainda se encontra em expansão, justificando seu novo dístico: “Shaping the Future”, ou “Moldando o Futuro”. E a satisfação dos organizadores tinha razão de ser: durante esta edição foram realizados mais de cem Fóruns e palestras de aberturas para discutir as tendências atuais e explorar as futuras.
E quais seriam estas tendências? Pelo que percebi, as palavras de ordem da COMPUTEX 2010 foram computação em nuvem, USB 3.0, leitores de “livros eletrônicos” (“eBook readers”) computadores portáteis tipo “tablet" e centrais de entretenimento doméstico tipo ”media players”.
Já falaremos deles. Mas antes deixem-me mencionar um produto que atraiu minha atenção pela originalidade (e não somente a minha, posto que figurou entre os ganhadores do premio “Design And Innovation”, destinado a agraciar as empresas que mais colaboraram com a inovação no projeto de dispositivos e acessórios dentre as representadas na COMPUTEX).
Trata-se de um dispositivo que, a mim, velho batalhador do tempo das válvulas a vácuo, pareceu realmente um achado: o amplificador de som i-Phanthom, fabricado pela Add On Technology. Um desenho moderníssimo, acabamento metálico, formato sinuoso, em suma: um enfeite para a sala. Coisa fina: traz encaixe para iPod e tudo o mais que se exige de um produto contemporâneo. Mas quem reparar bem encontrará, no centro do aparelho, em uma espécie de depressão, um componente que costuma se esconder nas entranhas dos equipamentos, mas que neste está em absoluta evidência, exposto como se fosse (e, na verdade, é) o ponto alto do amplificador.
O interessante é que a maioria dos frequentadores da feira, representantes da geração “do estado sólido”, provavelmente sequer reconhecerá o componente. E por uma simples razão: nunca viram algo igual. Trata-se, quem diria, de uma arcaica válvula a vácuo, daquelas que se usavam nos rádios e demais equipamentos eletrônicos da primeira metade do século passado e que desapareceram com o advento do transistor e a inauguração da era da eletrônica do estado sólido. E, procurando bem, além da válvula em destaque, se poderá notar duas outras, só parcialmente aparentes, um pouco mais à frente.
Ora, quem diria, as válvulas, que nos velhos tempos costumavam se esconder envergonhadas, não somente retornaram por exigência dos puristas do som, como passam a ser o ponto de atração do amplificador moderno. Sinal dos tempos...
Mas voltemos ao que realmente interessa em uma feira: as indicações que ela oferece sobre as tendências futuras que mencionamos pouco acima.
Sobre a computação em nuvem não dá muito para discutir. Durante o evento ela foi o assunto de seminários, palestras e fóruns, mas afinal é uma nuvem. E, como tal, é etérea, abstrata, impalpável. Para falar dela seria necessário que eu tivesse participado dos eventos específicos que dela trataram, mas então não daria para percorrer a feira. Optei pela última e deixei a nuvem pairando sobre o evento, como convém. Vamos, então, ao restante.
Indiscutivelmente, USB 3.0 é a interface do momento. E só não se falou mais nela porque a Intel ainda não decidiu incluir o padrão em seus novos “chipsets”, aqueles que suportam seus processadores de última geração. Caso isto tivesse ocorrido, a interface USB 3.0 “explodiria” ainda este ano. Mas como, por enquanto, os únicos “chipsets” que suportam o padrão são os da AMD, ainda não houve a explosão. Mas o simples fato de que todos os fabricantes de placa-mãe que suportam os chips da AMD já a incluíram em seus produtos garante o sucesso da nova interface.
Mas não serão apenas os felizes proprietários das placas-mãe para processadores da AMD que poderão se dar ao luxo de desfrutar da enorme rapidez de transferência de dados através das portas USB 3.0. Qualquer um de nós poderá fazê-lo simplesmente adicionando um adaptador à sua velha placa cansada de guerra. Para isto, tudo o que se necessita é um conector (“slot”) PCI express (dos pequenos, de dezesseis vias) vazio. Tem um “dando sopa” em sua placa? Pois basta comprar uma placa controladora USB 3.0 (que, em geral, vem com quatro “portas”) e encaixá-la no “slot”. Quem lembra dos tempos pioneiros da interface USB sabe perfeitamente como fazer.
Com as “portas” USB 3.0 na máquina, dispositivo não faltará: na COMPUTEX se via drive externo de todo o tipo e tamanho, “pen drives” das mais variadas marcas e capacidades e até mesmo um conversor USB 3.0 / SATA II fabricado pela Innostor. Portanto, talvez 2010 ainda não seja o ano do USB 3.0. Mas que 2011 será eu não tenho dúvida. Preparem-se. Por enquanto o problema é o custo, ainda elevado. Mas, assim que o padrão “se espalhar” e a concorrência começar a exercer seus efeitos benéficos, certamente os preços se tornarão mais acessíveis.
Depois dos dispositivos e placas adaptadoras USB 3.0 o que mais se via na feira eram as centrais de entretenimento doméstico tipo “media player”. Para quem não sabe do que estou falando, convém explicar. Trata-se de dispositivos que, basicamente, são constituídos por um meio de armazenamento de massa de grande capacidade (geralmente um disco rígido de pelo menos algumas centenas de GB) e pelo hardware e software necessário para gerenciar os arquivos (essencialmente de imagens, músicas e vídeos) e reproduzi-los em um sistema de som e TV (geralmente algo tipo “home theater” ou pelo menos uma TV de alta definição, mas convém frisar que o dispositivo de reprodução não faz parte do “media player” e pouco tem a ver com ele).
O problema está naquilo que os diversos fabricantes entendem ser “o hardware e software necessário” para reproduzir os arquivos. Pois na COMPUTEX 2010 havia “media players” para todo o gosto.
Os mais simples estão contidos em uma pequena caixa de plástico de tamanho suficiente para abrigar um ou dois discos rígidos de 3,5” e o hardware minimamente necessário para exibir seus arquivos. O software também é simples: uma interface franciscana com opções para exibir cada um dos tipos de arquivo (vídeo, músicas e imagens), uma entrada para configurar o aparelho e outra para criar e manejar as pastas que contém os arquivos. Por outro lado havia também na COMPUTEX “media players” constituídos por computadores completos, alguns do tipo “cubo” que, embora compactos, eram poderosíssimos, com encaixes para discos removíveis, ostentando acionadores de discos padrão “Blu Ray”, rodando Windows 7 Ultimate e usando programas altamente sofisticados.
Porém, simples ou sofisticados, na COMPUTEX havia “mídia players” a dar com pau. Aqui no Brasil eles ainda não são muito populares, mas tudo indica que logo serão. Pois esta parece ser a tendência mundial. Pelo que se viu na COMPUTEX 2010 e, sobretudo, com o significativo aumento do número de televisões de tela plana e alta definição na casa dos brasileiros devido ao aumento das vendas provocado pela Copa do Mundo, logo descobriremos as vantagens dos “media players” sobre os reprodutores de DVD tradicionais e eles começarão a se multiplicar também por aqui.
E finalmente chegamos ao item que, indubitavelmente, tomou conta da feira: os leitores de livros “eletrônicos” e os computadores tipo “tablet”.
Com o retumbante sucesso do lançamento do iPad da Apple, era de se esperar uma reação da indústria de computadores. E uma reação rápida.
Pois quem visitou a COMPUTEX 2010 já não tem dúvidas: a reação veio, e veio forte. Na forma de dezenas de novos modelos tanto de leitores de livros eletrônicos quanto de computadores portáteis (e, naturalmente, conectados) do tipo ”tablet”.
A diferença essencial entre eles é que o primeiro geralmente tem vídeo em preto e branco, só serve para ler arquivos (em geral no formato PDF) e é levíssimo, enquanto o segundo, além de permitir ler estes mesmos arquivos, tem telas coloridas, é um computador completo (alguns, bastante poderosos) e, além da tela sensível ao toque, possuem uma forma qualquer de entrada de caracteres.
Parece que quem tem algo a ver com a fabricação de computadores, especialmente portáteis, resolveu lançar seja seu leitor de “eBook”, seja seu “tablet”. O que inclui desde a Asustek, com seu Eee Pad já apresentado na feira (um micro equipado com um Intel Core 2 Duo, rodando Windows 7 e funcionando tanto como “multimídia player”, quanto como leitor de “eBooks”, dispositivo de acesso à Internet e, evidentemente, computador pessoal dos mais poderosos) até a MSI, que não mostrou mas anunciou para breve o lançamento de seu WindPad, com processador Atom Z530, tela de dez polegadas, câmara de vídeo de 1,3 MPx, suporte a comunicações sem fio 3G e WiFi, GPS, conector HDMI, bateria com duração de carga de oito horas, rodando Windows 7 Home Premium e pesando apenas 800 gramas.
E estes são apenas dois dos modelos mencionados na feira. Porque, pelo que se viu por lá, vem muito mais coisa pela frente. É esperar 2011 para ver.
B.
Piropo