< Jornal Estado de Minas >
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28/08/2008
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< IDF 2008 San Francisco > |
O Intel Developers Forum – IDF – é um evento organizado periodicamente pela Intel para expor à indústria da informática e imprensa especializada os planos da empresa para o futuro próximo. Sendo a Intel a líder do mercado de microprocessadores, é de se esperar que o IDF seja um evento eminentemente técnico. E o da semana passada, em San Francisco, EUA, não poderia deixar de sê-lo. Mas, para variar, começou com um sopro de sociologia. Na palestra de abertura Craig Barret, atual Presidente do Conselho da empresa da qual foi presidente e principal executivo durante mais de dez anos, abordou o impacto que o uso da tecnologia vem causando na sociedade durante as últimas cinco décadas. Mas o fez de uma forma pouco usual. Em vez de se fixar nas mudanças ocorridas nos países industrializados, discutiu sua influência na melhoria da qualidade de vida daqueles que chamou de “os outros cinco bilhões”: a população do planeta que vive fora dos EUA, Europa Ocidental e Japão. Lembrou que hoje, apenas na China, há mais usuários de Internet do que o total da população dos EUA. E igual número de crianças chinesas estudando inglês (o que significa que dentro de uma geração haverá mais gente falando inglês na China que nos EUA). Já o número de chineses usuários de telefones celulares é o dobro da população americana. Mas não é só a China: a Índia, o Oriente Médio e alguns países da África e América Latina também entraram no mercado global, agregando quase do dia para a noite três a quatro bilhões de cidadãos à economia mundial, gente que mesmo desfrutando de um padrão de vida menos elevado, deseja seu pedaço do bolo. E todos estes países compartilham a certeza de que, para isso, precisam compreender e aprender a usar tecnologia. E a vêm usando principalmente na educação, desenvolvimento econômico, saúde e comunicações. Mas, prosseguiu Barret, não basta importar tecnologia. Há que desenvolvê-la localmente. E, levando em conta que 85% da população jovem do mundo vivem nos países de economia emergente, a chave para que eles tenham esperança e oportunidade de crescer é o desenvolvimento de soluções locais empregando tecnologia simples e barata. Barret ilustrou seu ponto de vista com alguns exemplos vivos. No campo da educação convocou o Dr. Johnny Chung Lee que, com um conjunto de “canetas eletrônicas” feitas artesanalmente e um Wiimote, o controle remoto do console de jogos Wii, consegue transformar uma simples tela de projeção em um dispositivo de entrada/saída para um computador ligado a um projetor por menos de US$ 50. Ou seja: um “quadro negro eletrônico interativo” que, além de sua óbvia utilidade como ferramenta de ensino, pode ser montado por alunos de eletrônica (veja em < http://www.cs.cmu.edu/~johnny/projects/wii/ >. Em seguida, no campo de desenvolvimento econômico, Barret apresentou Matt Flannery, o idealizador do projeto Kiva, cujo nome deriva da palavra Suaíli que significa “unidade”. A idéia é simples: dar a cidadãos dos países industrializados a oportunidade de financiar com pequenos valores (a partir de US$ 25) projetos de pequenos empreendedores que vivem em 40 países emergentes. Não se trata de caridade, mas de operação financeira recompensada com os devidos juros, intermediada pelo projeto. Vale a pena visitar o sítio do Kiva em < http://www.kiva.org/ > para ver como a coisa funciona e, quem sabe, efetuar um empréstimo. Para ilustrar o emprego de tecnologia de baixo custo na saúde, Barret apresentou o Dr. Miguel Angarita, da Colômbia, que idealizou um sistema de controle de informações médicas portátil, baseado no envio pela Internet da imagem obtida, por exemplo, com a câmara de um telefone celular comum, do código de barras de um cartão individual de saúde que contém a ficha médica do paciente eventualmente envolvido em um acidente para que as equipes de emergência possam tomar os cuidados adequados. E, finalmente, para ilustrar inovações tecnológicas no campo do meio ambiente, convocou o estudante Brian McCarthy, idealizador de um método ainda em fase experimental de fabricação de baterias solares de plástico, sem semicondutores. Projeto que permitirá a geração de energia “limpa” a baixíssimo custo. Mas o que tem o IDF a ver com tudo isto? Bem, é que Barret encerrou sua palestra lançando um desafio: o Intel’s Inspire-Empower Challenge, que escolherá as quatro melhores propostas de soluções tecnológicas nos campos da educação, desenvolvimento econômico, saúde e meio ambiente apresentadas até o IDF do próximo ano e oferecerá a cada uma delas um prêmio de cem mil dólares. Com uma condição: o dinheiro não poderá ser usado para fins particulares, mas apenas aplicado em ações que visem a implementação da idéia. Portanto, se você tem uma idéia promissora, inscreva-se em < www.intelchallenge.com >. Mas o IDF não se resumiu à palestra de abertura. Teve mais. Nele soubemos que a família Nehalem, baseada em processadores de microarquitetura dinamicamente escalável e de alto desempenho, se materializará ainda este ano na forma dos primeiros processadores Core i7 para computadores de mesa (David Perlmutter, Vice Presidente executivo da Intel, afirmou em sua apresentação que a tecnologia Nehalem será incorporada à linha de processadores para computadores móveis no início do próximo ano). Os primeiros núcleos de Nehalem, usando a tecnologia de fabricação de 45 nm, já saíram do forno e eu os mostro para vocês em primeira mão em foto tirada no próprio IDF 2008. Eles serão fabricados em versões de dois, quatro ou oito núcleos, terão controlador de memória integrado eliminando o gargalo formado por apenas um barramento de memória (FSB) e cada núcleo será capaz de operar dois canais de “multithread” (o que dá a um processador de oito núcleos a capacidade de executar até 16 diferentes rotinas simultâneas). Além de implementar a segunda geração de virtualização diretamente no processador, o Core i7 adotará gerenciamento dinâmico de energia, “desligando” completamente núcleos inteiros quando seu concurso não for necessário e “religando-os” quando preciso. O que acelera o desempenho dos núcleos que permanecem ativos (a Intel batizou esta funcionalidade de “modo turbo”, o que me fez recordar o velho 8088 de meu primeiro PC...). Durante sua apresentação Pat Gelsinger rodou alguns programas em protótipos dos primeiros Nehalem e garanto que a coisa impressiona.
A Internet, evidentemente, não poderia ficar de fora. Segundo Pat Gelsinger, Vice Presidente da Intel, ela não somente fará parte da vida diária de todos nós como o fará 24 horas por dia. Hoje estima-se que haja um bilhão de dispositivos conectados à ela. Gelsinger afirmou que em 2015 este número terá evoluído para impressionantes 15 bilhões. Alguns deles serão pessoais, como computadores de mão e telefones celulares. Outros serão vídeos e dispositivos tipo GPS para uso em automóveis e outros veículos, ou dispositivos de gerenciamento de energia e segurança doméstica. Alguns estarão em lugares públicos e revolucionarão a estrutura de serviços, como rodovias “inteligentes”, dispositivos de otimização de distribuição pública de energia e transportes. Mas, estejam onde estiverem, eles farão parte de nossa vida diária e permearão todas as nossas atividades sem que sequer percebamos. Serão baseados em sensores eletrônicos e processadores que, depois de instalados, esqueceremos que existem. Mas para que esta visão se materialize será necessário fabricar dispositivos de grande duração, baixa potência, baixíssimo consumo de energia, escaláveis e seguros. E o primeiro passo da Intel no sentido de produzir processadores com estas características já foi dado: é o Atom, já em plena produção e que equipa desde pequenos micros portáteis até dezenas de diferentes “MIDs” (Mobile Internet Devices, ou dispositivos móveis com acesso à Internet). Os atuais processadores da linha Atom dispensam ventoinhas para dissipação de calor, consomem menos de 5 watts e são do tamanho de uma moeda de dez centavos. Os das próximas gerações (codinomes “Tolapai” e “Menlo”) serão ainda menores e de consumo mais baixo. Segundo Gelsinger, há no momento mais de setecentos projetos em desenvolvimento para uso de Atoms em dispositivos portáteis e embarcados.
Finalmente, quase de passagem, assim como quem nada quer, David Perlmutter exibiu em sua apresentação uma das maiores novidades do IDF 2008: um SSD em pleno funcionamento. Para quem não sabe: SSD é acrônimo de “Solid State Disk”. Trata-se de um dispositivo de armazenamento semelhante aos atuais “pen drives”, porém de grande capacidade, cuja finalidade é substituir os atuais discos magnéticos. Segundo Perlmutter, as unidades de 80 GB já estão sendo fabricadas e estarão no mercado no próximo mês, enquanto as de 160 GB estarão disponíveis um pouco mais tarde, porém ainda este ano. Por serem destinadas a uso em computadores portáteis, são muito menores que os discos magnéticos, mais leves, dissipam uma fração da potência consumida por estes, além de não necessitarem de peças móveis nem terem o desempenho afetado pela fragmentação de arquivos. E, já que mencionei o desempenho: na demonstração efetuada por Perlmutter, a unidade SSD instalada em um notebook permitia que fossem efetuadas leituras 112 vezes mais rapidamente que em um disco magnético de 5.400 RPM instalado em uma máquina idêntica. Quer dizer: ao que parece a Intel vai entrar na disputa dos dispositivos de armazenamento. E, dependendo do preço (não revelado) de seus SSD, vai entrar para ganhar... B. Piropo |