Há pouco mais de ano e meio (em setembro de 2004, para ser preciso) escrevi aqui um artigo (ainda disponível na seção Escritos / Artigos no Estado de Minas de meu sítio, em < www.bpiropo.com.br >) sobre um programa que, tanto quanto eu saiba, não tem similar: o Babylon, então na versão 5.
Semana passada, para o lançamento no Brasil da versão 6, Noah Bell, o Diretor de Vendas da Babylon, esteve entre nós. Como convém a um diretor de uma empresa cuja atividade principal se baseia na tradução, Mr. Bell é poliglota e o Português está entre os idiomas que domina. E usa para falar com grande entusiasmo das novas características acrescentadas a esta versão.
O Babylon é um programa de consulta a dicionários e enciclopédias que acaba de agregar a função de tradução de textos. Acontece que há dezenas de programas por aí que fazem a mais ou menos isso. Então como justificar a afirmação que o Babylon não tem similar?
O que torna o Babylon único entre seus pares é a forma pela qual recebe texto e a imensa variedade de fontes que ele pode consultar.
Nos programas convencionais, para introduzir um termo ou expressão há que digitá-lo em uma caixa de entrada de dados (pelo menos copiá-lo na janela de origem e colá-lo nesta caixa) ou ainda selecionar o trecho de texto e acionar algum comando ou tecla de atalho. No Babylon nada disto é necessário: basta pousar o ponteiro do mouse sobre o termo que se deseja consultar e executar um único clique. E o usuário pode escolher com que botão clicar. O padrão é a combinação “Ctrl+botão direito” mas eu, por exemplo, que uso um “wheel mouse” (aquele mouse que tem uma “rodinha” para rolar textos que também funciona como botão adicional), preferi um clique com a “rodinha” para invocar o programa.
Executado o clique sobre um termo qualquer na tela, não importando em que programa, janela, caixa de texto ou janela de aviso apareça, ele é capturado diretamente do vídeo por um dispositivo de reconhecimento ótico de caracteres (OCR engine) “embutido” no próprio Babylon, introduzido no programa, processado, e o resultado é apresentado em uma janela que, se você assim o desejar, desaparece após a consulta. Simplificando: estou lendo um texto, digamos, em uma página da Internet e encontrei uma palavra cujo significado desconheço. Movo o ponteiro do mouse para ela e “clico” com a roda do mouse. Imediatamente abre-se a janela do Babylon exibindo o resultado da consulta. Quando eu me der por satisfeito, basta mover o ponteiro do mouse para fora da janela que ela desaparece silenciosamente como surgiu. Isto é tudo.
Tanto quanto eu saiba, nenhum outro programa usa método tão simples e conveniente para capturar dados de entrada. E não é por outra razão que o “slogan” do Babylon é “Information @ a click”, ou “informação a um clique”.
O Babylon pode ser obtido diretamente da Internet no sítio (em português) < www.babylon.com.br >. Pode-se baixar uma versão de avaliação (completa, porém com período de vigência limitado) ou comprar o programa. E, neste caso, pode-se escolher entre uma licença de uso (que dá direito ao uso permanente do programa, mas não a atualizações gratuitas de versão) por R$ 148 ou a uma assinatura anual (que deve ser renovada a cada ano mas permite atualização gratuita) por R$ 73 (se você já tem a licença de uso do Babylon 5, a atualização para a versão 6 custará R$ 97). Além disso é possível adquirir o chamado “conteúdo Premium”, que inclui diversos dicionários Michaelis, Signum, Larousse, Oxford, Webster e Enciclopédia Britânica. Nesse caso o preço varia com o conteúdo escolhido (o mais caro é o Dicionário Oxford e Thesaurus: R$ 270).
A coisa funciona assim: quando se instala o Babylon, instala-se também certo número de fontes de consulta. Estas fontes podem ser dicionários, glossários ou enciclopédias. Há mais de mil e oitocentas fontes disponíveis, das quais mais de mil e duzentas são gratuitas e o restante, considerado conteúdo “Premium”, instaladas mediante o pagamento adicional. O conjunto de fontes cujo custo está incluído no custo do produto inclui dicionários e enciclopédias em cinqüenta idiomas, inclusive dicionários bidirecionais (como Inglês-Português / Português-Inglês) do inglês para treze idiomas, todos gratuitos. Cada um deles pode ser incluído na instalação ou adicionado posteriormente via Internet. E podem ser gerenciados (habilitado ou desabilitados para consulta, excluídos e acrescentados) através da janela “Meus dicionários” do Babylon.
Veja, na Figura, a janela “Meus Dicionários” com a lista de fontes de consulta instaladas nesta máquina que vos fala.
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Figura 1: janela “Meus dicionários”. |
Parte das fontes que constam da lista foram instaladas por padrão. Algumas ferramentas relativas aos idiomas que costumo usar com maior freqüência foram instaladas posteriormente, escolhidas entre as centenas de fontes gratuitas disponíveis. E, se desejar, posso acrescentar tantas quantas achar necessárias clicando na entrada “Adicionar glossários” da janela “Meus dicionários”, o que abrirá a janela “Adicionar Dicionários” (no idioma em que o Babylon foi instalado) que permitirá ter acesso ao sítio dos desenvolvedores onde podem ser escolhidas fontes de consultas adicionais entre o conteúdo “Premium” e os dicionários gratuitos.
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Figura 2: Janela Adicionar Dicionários. |
O objetivo inicial do Babylon, no lançamento de sua primeira versão há quase dez anos, era apenas traduzir termos e expressões. Tarefa que, embora na versão atual seja apenas mais uma das diversas disponíveis, continua executando muito bem. Veja, na Figura, o resultado fornecido quando eu cliquei sobre a palavra inglesa “model” que fazia parte da expressão “served as a model” de um texto de uma página da Internet exibida no meu programa navegador.
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Figura 3: resultado de uma consulta. |
Como se percebe, a primeira resposta corresponde à tradução do inglês para o português da expressão inteira, seguida da tradução da palavra. Em seguida, vêm os demais resultados obtidos na pesquisa (quase instantânea) em todos os dicionários instalados na máquina, cuja lista daqueles em que foi encontrada alguma menção ao termo aparece no painel esquerdo. E tudo isto com um único clique (se você acha que é informação demais, clique na entrada “Meus dicionários” do painel da esquerda e desmarque as fontes onde não deseja que a expressão seja pesquisada; por exemplo: os dicionários dos idiomas com os quais não está trabalhando naquele momento).
Mas esta é apenas uma das funções do Babylon. Muitas outras foram acrescentadas ao longo de sua evolução. Como a função de conversão.
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Figura 4: A janela de conversões. |
Para efetuar uma conversão basta clicar no atalho “Conversões” do grupo “Ações” do painel esquerdo para abrir a janela “Conversões” onde se pode escolher o que se deseja converter para que. Babylon converte quase tudo: cotações de moedas, unidades de medida e de tempo (veja, nos menus abertos da Figura, a lista de medidas que podem ser convertidas e, no alto, a temida conversão de pés cúbicos para litros).
Outra função, herdada das versões anteriores, é a de consulta à Internet. Imagine que você acabou de usar o Babylon para obter informações sobre um termo de seu interesse e obteve a resposta. E vamos supor que você quisesse complementá-la com informações adicionais obtidas através de uma pesquisa na Internet. Pois, ainda com o resultado da consulta na janela do Babylon, basta clicar no atalho “Busca na Web” do painel esquerdo. O Babylon imediatamente carrega seu programa navegador e efetua uma pesquisa na Internet com o termo consultado. O dispositivo padrão de busca é o Google, mas você pode escolher qualquer outro de sua preferência alterando as configurações do Babylon.
São coisas como essas que justificam os trinta e cinco milhões de usuários que o Babylon conseguiu atrair espalhados em todo o mundo dos quais, segundo Mr. Bell, quase três milhões deles encontram no Brasil.
Mas tudo isto são funções já incorporadas às versões anteriores. E o objetivo deste artigo é abordar as novidades da versão 6.0. Que, ainda segundo Noah Bell, foram incorporadas atendendo ao desejo dos próprios usuários.
Então vamos a elas.
A primeira novidade é reunir todas as funções, antigas e recentes, em uma janela que é exibida após um único clique. Assim, seja o que você desejar do Babylon, será obtido em resposta a seu clique, justificando o novo slogan.
A segunda é o resultado de um acordo entre a empresa Babylon e os responsáveis pela Wikipedia, a famosa enciclopédia virtual disponível apenas pela Internet, que permite que ela seja incluída entre as fontes gratuitas de consulta. Desta forma, seja qual for sua consulta, se houver na Wikipedia uma entrada correspondente ao termo consultado, ele será exibido na janela de resultados, ainda em resposta a seu único clique.
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Figura 5: a resposta a “Wikipedia”. |
Veja, na Figura, o curioso resultado de uma busca recursiva: as informações, obtidas via Babylon, fornecidas pela Wikipedia a uma consulta sobre o termo “Wikipedia”: uma explicação, nos cinco idiomas que correspondem aos dicionários instalados, do que vem a ser a própria Wikipedia. Se você tem uma conexão à Internet do tipo alta taxa (“banda larga”) mantida sempre ligada enquanto usa o computador, a consulta será feita automaticamente na rede. O que é o ideal, já que a Wikipedia é um ente em contínua evolução e consultando-a diretamente via Internet tem-se a garantia de obter o resultado mais atual (o próprio Babylon recomenda o uso preferencial conectado). Mas se você não se mantém conectado à rede ou se sua conexão for demasiadamente lenta, pode baixar e instalar seu próprio exemplar da Wikipedia.
Mas talvez a novidade mais interessante tenha sido a inclusão da função de tradução, agora incorporada ao próprio Babylon. A coisa funciona assim:
Imagine que você está lendo este artigo na tela de seu computador, decida consultar o Babylon e clique sobre uma palavra deste parágrafo.
Digamos que a palavra tenha sido “computador”. Em resposta a este único clique Babylon abrirá sua janela com quase uma dezena de respostas, que incluem desde o significado da palavra “computador” nos diversos idiomas cujos dicionários foram instalados até as entradas correspondentes nas duas versões da Wikipedia onde ela é encontrada (português e espanhol, neste último caso, automaticamente adaptada para “computadora”). Entre elas aparece a “Tradução de texto”, que contém todo o parágrafo seguido de duas caixas de entrada para escolha dos idiomas e do botão “Traduzir”.
É ela que permite traduzir todo o parágrafo de um idioma para outro.
Babylon não reconhece o idioma, portanto é necessário entrar não somente com o idioma para o qual se deseja efetuar a tradução como também com aquele em que foi escrito o texto original. No caso, entrei com “Português” na primeira caixa, com “Inglês” na segunda e cliquei no botão “Traduzir”. O resultado está aí na Figura.
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Figura 6: Resultado de uma tradução. |
Confesso que não sou um grande entusiasta dos programas tradutores, mas neste exemplo sou obrigado a dar o braço a torcer. Compare o texto original, acima das caixas e do botão, com a versão para o Inglês imediatamente abaixo efetuada pelo Babylon. Não chega a ter valor literário, naturalmente, mas é mais do que suficiente para que, digamos, um americano que não “pesca” uma só palavra do Português tenha uma idéia perfeitamente razoável do significado de minhas intenções ao escrever o parágrafo.
A função de tradução não é executada pelo próprio Babylon. Embora incluída no pacote das funções gratuitas, é um serviço provido pela LEC, Language Engineering Company, uma empresa americana estabelecida em Belmont, MA. Sua especialidade é “engenharia lingüística”, campo a que se dedica desde 1985. São mais de vinte anos de estrada, portanto.
Semelhantemente à conversão de grandezas e cotações de moedas, o serviço de tradução exige que se esteja conectado à Internet. Ele abrange dezessete idiomas: Português, Inglês, Francês, Italiano, Espanhol, Holandês, Alemão, Russo, Japonês, dois tipos de Chinês (“T” e “S”), Coreano, Turco, Hebraico, Árabe, Turco, Polonês, Ucraniano e Persa (Farsi) e traduz textos de qualquer um deles para qualquer outro, sempre com um único clique.
Neste ponto cabe um comentário.
Cada vez que penso na tradução automática de textos lembro-me de uma passagem curiosa. Há alguns anos trabalhei em um grande projeto executado por uma empresa de consultoria britânica para um cliente chileno. Eu estava envolvido nele como consultor técnico. Devido a uma cláusula contratual, toda a documentação gerada em inglês teria que ser obrigatoriamente acompanhada de uma tradução para o espanhol. Dado o porte do projeto, era necessário traduzir milhares de páginas de texto e, para acelerar o processo, cada documento era inicialmente submetido a uma tradução automática que, posteriormente, era revista e sofria as correções necessárias.
Era um projeto grande. A equipe era composta de muitas dezenas de pessoas: engenheiros, desenhistas, tradutores, secretários, pessoal da administração, todas trabalhando em um mesmo ambiente, um imenso salão lotado de escrivaninhas, pranchetas e computadores. Ali imperava o silêncio, perturbado somente pelo murmúrio de conversas em voz baixa entre alguns elementos da equipe (era no Chile, um país tão sisudo que nem parece latinoamérica...). Pois com toda esta seriedade, de quando em vez o silêncio era quebrado pelo som de uma gargalhada.
Da primeira vez que isto ocorreu durante uma de minhas visitas não pude conter o espanto. Que diabo seria aquilo em um ambiente tão solene? Diante de minha pergunta, o colega chileno que me acompanhava retrucou com um sorriso: “Ah, isto acontece de vez em quando desde que se começou o serviço de tradução automática”. O que dá para avaliar os absurdos que estes programas de tradução costumam produzir.
Quando Mr. Bell me falou entusiasmado sobre o serviço de tradução recentemente incluído no Babylon, contei-lhe este “causo”. Ele não se surpreendeu. Comentou que este tipo de coisa era natural, mas que a LEC tem aprimorado tanto sua tradução automática que talvez o, digamos, “coeficiente de gargalhadas” ainda não tenha chegado a zero mas certamente se reduziu bastante.
Mesmo porque, disse ele, o objetivo do serviço não é efetuar a tradução de grandes blocos de texto, mas apenas dar uma idéia do que o original deseja exprimir. E isto fica claro na nota “About Machine Translation Technology” que faz parte do documento ao qual se tem acesso clicando no atalho “Sobre a Tecnologia de Tradução Automática” logo abaixo do botão “Traduzir” da janela de resultados do Babylon. Aqui vai um trecho dele, que mantive exatamente como foi traduzido do Inglês pelo próprio Babylon:
“Apesar do fato que nenhuma tradução é 100% preciso ou entrega resultados iguale a tradução humana, esta grande característica nova, baseado no texto mais avançado, tecnologia de tradução, lhe ajuda a entender textos em idiomas você está menos familiarizado com”.
Deu para entender, pois não? E a menção aos “idiomas você está menos familiarizado com” pode até ter lhe despertado um sorriso. Mas dificilmente uma gargalhada...
B.
Piropo