Semana passada, durante a feira anual de eletro-eletrônica Consumer Electronics realizada em Las Vegas, EUA, a Intel lançou seu tão esperado microprocessador de núcleo duplo e baixo consumo de energia conhecido até então apenas pelo codinome Yonah. O novo chip recebeu o nome comercial de Intel Core Duo e deverá equipar as plataformas Centrino e Viiv enquanto a linha de micros de mesa e servidores continuará a ser atendida pelos Celeron, Pentium 4HT, Pentium D, Xeon e Itanium.
Juntamente com o microprocessador a Intel lançou novo logotipo com desenho semelhante à oval usada no antigo “Intel inside” mas com o “e” de “Intel” no mesmo nível que os demais caracteres além de alguns aperfeiçoamentos resultantes de reformulações nas suas plataformas Viiv e Centrino.
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Figura 1 |
Do Intel Core Duo serão fabricados seis modelos, todos com camada de silício de 65nm de espessura (os primeiros microprocessadores manufaturados em escala industrial com esta tecnologia), dois deles de consumo de energia extremamente baixo (apenas 15W/MHz), os modelos L2300 e L2400 (rodando a 1,5 MHz e 1,66 MHz respectivamente) e quatro com pouco mais do dobro do consumo específico (31 W/MHz), os modelos T2300, T2400, T2500 e T2600 (rodando a 1.66 GHz, 1,83 GHz, 2 GHz e 2.16 GHz respectivamente). Todos eles ostentam formidáveis 2 MB de cache L2, usam barramento frontal (FSB) operando em 667 MHz e incorporam as modernas tecnologias recentemente desenvolvidas pela Intel para aumentar a segurança (Execute Disable Bit, que impede a execução de código em trechos de memória destinados a dados, um recurso muito usado por criadores de código malicioso que provocam o chamado “estouro de buffer”) e reduzir o consumo de energia sem prejudicar o desempenho (“Enhanced Intel SpeedStep”, que permite ajustar a freqüência de operação de acordo com as necessidades de consumo de energia do sistema).
Segundo Ronaldo Miranda, Diretor de Marketing e Vendas de dispositivos móveis da Intel para a América Latina, os Core Duo “L” atenderão principalmente a linha de micros portáteis “sub” e “mini”, enquanto os modelos “T” visam os portáteis de maior poder de processamento, aqueles destinados eventualmente a substituir os micros de mesa onde o desempenho é mais importante que o baixo consumo. Mas mesmo estes apresentam uma invejável relação consumo/desempenho. Tão boa que, ainda segundo Ronaldo, diversos integradores em OEM (fabricantes de micros que usam processadores Intel), depois de analisar os primeiros testes com protótipos da linha Core Duo, decidiram ampliar a produção ou antecipar o lançamento de seus modelos equipados com os novos processadores. Isto porque constataram que, graças não apenas à espessura da camada de silício significativamente menor (fator decisivo na dissipação de potência) como também aos aperfeiçoamentos na arquitetura interna, um chip Core Duo apresenta um desempenho 70% superior a um processador equivalente da plataforma Sonoma rodando na mesma freqüência enquanto oferece um consumo de energia 28% menor.
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Figura 2 |
O primeiro fato a chamar a atenção nos novos lançamentos é o desaparecimento do nome do processador. Sim, porque até agora os chips da Intel tinham nomes: Pentium, Xeon, Itanium, etc. Mas “core duo” significa apenas que se trata de um chip com dois núcleos. Cadê o nome?
O nome sumiu por razões mercadológicas. Segundo Ronaldo Miranda, uma pesquisa do instituto InterBrand revelou que “Intel” é a quinta marca mais valiosa do mundo e a empresa achou que seria um contra-senso não se aproveitar disso. Por isso decidiu “focar na marca Intel” e doravante os microprocessadores da Intel serão conhecidos apenas como... microprocessadores da Intel. Os diferentes modelos serão designados por suas características principais, como “Core Duo L2400”, significando que se trata de um processador de núcleo duplo (Core Duo) de baixa tensão de alimentação (“L”, de Low-voltage) e de desempenho equivalente a um processador convencional rodando a 2400 MHz.
O segundo fato digno de nota é o lançamento Core Duo, haver precedido o de seu irmão de núcleo único, o Core Solo, contrariando a tendência de lançar primeiro o chip de menor desempenho, em geral mais fácil de fabricar em larga escala. Segundo Miranda isso se deve a uma mistura de motivos de ordem técnica e mercadológica.
As razões de ordem técnica são simples: testes de manufatura realizados durante a fase final do projeto revelaram que seria possível partir diretamente para a fabricação do modelo de núcleo duplo com um nível de confiabilidade adequado. E a Intel decidiu lançá-lo imediatamente.
Mas, então, porque adiar o lançamento do modelo mais simples e de menor desempenho? Bem, aí entram as razões mercadológicas. Acontece que a atual linha Sonoma da plataforma Centrino atende perfeitamente as necessidades de um imenso nicho de mercado com seu chipset e processador Pentium M. E sofreria com a concorrência direta do Core Solo. Então não se trata de capacidade de manufatura ou produção, trata-se de uma decisão de mercado: o Core Solo somente será lançado no final deste ano ou começo do próximo, garantindo uma razoável sobrevida à linha Pentium M.
As plataformas que ostentarão o Core Duo são a Centrino, destinada a dispositivos móveis, cuja versão, sucessora da Sonoma, era até agora conhecida pelo codinome Napa e recebeu o nome comercial de Centrino Duo, e a Viiv, a nova plataforma da Intel voltada para o entretenimento.
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Figura 3 |
A plataforma Centrino foi totalmente reformulada para merecer o nome Duo. E, segundo Miranda, a reformulação se baseou em três vetores: o processador propriamente dito, que agora é o Core Duo, e os módulos gráfico e de comunicações do novo chipset Mobile Intel 945.
O chipset gráfico incorpora algumas características que permitem oferecer um desempenho significativamente melhorado. Seu coprocessador gráfico GMA 950 será capaz de exibir vídeo compatível com HDTV (Televisão de alta definição) na tela de um notebook, uma proeza à altura das placas gráficas de alto desempenho, porém sem custo adicional. Já o módulo de comunicações (sem fio, naturalmente) será baseado no chip Intel Pro Wireless 93945 ABG que suporta o padrão WiFi (IEEE 802.11) a/b/g.
Infelizmente ainda não é desta vez que a plataforma Centrino incorporará o suporte ao padrão WiMax. Miranda espera que isto aconteça até 2007, quando o padrão WiMax “e”, recentemente aprovado, já tiver entrado no mercado.
Sobre a plataforma Viiv, que também extrairá grandes benefícios de um processador de baixa dissipação de potência, já falamos aqui há um par de meses (Veja o artigo “A próxima década”, publicado em 10/11/2005 ainda disponível na seção “Escritos / Artigos no Estado de Minas” de meu sítio, em < www.bpiropo.com.br >). Ela destina-se ao mercado do entretenimento doméstico (o lar digital, ou “digital home” concebido pela Intel) e está sendo implementada apenas em oito países que já dispõem da infra-estrutura necessária, com provedores de conteúdo e desenvolvedores trabalhando em consonância com ela. Ainda segundo Ronaldo Miranda, a Intel vem trabalhando desde o ano passado para preparar o lançamento da plataforma no Brasil para o final deste ano ou início do próximo.
Mas como ficarão os preços dos novos chips e, sobretudo, como eles se comparam em desempenho aos da concorrência? Bem, isso a Intel não revela, portanto é o tipo da informação que precisa ser garimpada alhures. Segundo artigo de Marguerite Reardon na CNET News, os preços dos novos Core Duo serão semelhantes aos cobrados pela Intel para a linha Pentium M. O mais rápido deles, o T2600, deverá ser vendido por US$ 637 no mercado americano.
Quanto ao desempenho, o sítio Anandtech apresenta uma comparação do Core Duo com o Athlon 64 X2, também de núcleo duplo. E os chips apresentaram um desempenho equivalente. Segundo Anandtech, o incremento em desempenho do controlador interno de memória do Athlon 64 X2 é compensado pelo cache L2 de 2 MB do Core Duo. Em contrapartida, no que toda à relação desempenho / consumo de energia, o Core Duo é insuperável.
Tempos interessantes estão por vir na arena dos microprocessadores. Esperemos. Como eu costumo dizer, toda vez que eles brigam, quem ganha somos nós, consumidores.
B.
Piropo