Quem acompanha o vertiginoso mercado da informática sabe que a Microsoft tornou-se o gigante que é hoje em virtude de sua extraordinária capacidade de prever os acontecimentos. Bill Gates, alma, coração e mente da empresa, descobriu esse novo universo ainda no curso secundário operando um computador de grande porte a que sua escola tinha acesso em regime de tempo compartilhado. Não obstante, assim que viu nascerem os primeiros microcomputadores, percebeu que eles representavam o futuro. Mas sua percepção foi ainda mais longe: a mina de ouro não estava nas máquinas, mas nos programas que um dia elas rodariam. E em 1975 fundou a Micro Soft, uma empresa destinada a desenvolver software para máquinas que mal começavam a existir, inventando assim o então inexistente mercado de software.
Desde então tem sido assim. A MS antevia oportunidades, aderia e seguia adiante, sempre na liderança. Assim foi com os sistemas operacionais, com a interface gráfica, com os aplicativos para escritório. Quando não saltava na frente, saía logo atrás mas atropelava antes da linha de chegada. A MS não deixava passar oportunidades. Aquela velha história: se via passar um cavalo encilhado, jamais perdia a chance de montá-lo e seguir cavalgando na liderança.
Eu disse “jamais”? Perdão, exagerei. Houve um que passou. E foi um cavalo e tanto, um campeão.
Pois deu-se que no início dos anos noventa a MS estava tão obsessivamente dedicada ao lançamento e consolidação do Windows 95, seu primeiro sistema operacional verdadeiramente multitarefa, que não reparou que bem a seu lado trotava despreocupadamente um puro-sangue chamado Internet. E deixou o bicho passar.
Desde então não tem feito outra coisa a não ser correr atrás dele. O Windows Live, anunciado pela MS há dez dias, é mais uma tentativa de alcançá-lo. Uma tentativa bem concebida, diga-se de passagem.
Mas o que é o Windows Live?
Segundo a MS, “é um conjunto de serviços pessoais de Internet e software projetado para reunir, em um único local, todos os contatos, informações e interesses importantes para o usuário”. Entendeu? Pois eu explico.
Nele você encontrará o Windows Live Mail, um serviço de correio eletrônico fornecido gratuitamente pela MS. Mas isso não é o HotMail? Sim, mas com um novo nome: Windows Live Mail.
Também no Windows Live você encontrará o Messenger, um serviço igualmente gratuito onde poderá trocar mensagens instantâneas com seus contatos, incluindo mensagens de voz, vídeo em tempo real, fotos e documentos. Mas isso não seria o Windows Messenger? Sim, mas com um novo nome: Windows Live Messenger.
No Windows Live você poderá criar sua própria página pessoal, seu “espaço online”, e compartilhar com seus amigos suas idéias, fotos, listas de músicas e manter seu próprio “blog”. Mas isso não é o MSN Spaces (<http://spaces.msn.com/>)? Sim, mas com um novo nome: Windows Live Spaces.
No Windows Live você poderá efetuar buscas sobre qualquer assunto na Internet. Mas isso não é o dispositivo de buscas do MSN (< http://www.msn.com/ >)? Sim, mas com um novo nome: Windows Live Search.
No Windows Live você poderá receber notícias atualizadas sobre qualquer assunto de seu interesse a qualquer momento. E, o que é melhor, personalizando sua tela. Mas isso não é o MSN? É, mas com um novo nome: Windows Live. Porque o Windows Live é a evolução do MSN.
Mas será que a MS espera galgar a liderança no segmento da Internet juntando meia dúzia de serviços que ela já oferece e mudando seus nomes? Onde está a novidade?
Bem, há alguns novos serviços.
Um deles é o Windows Live Safety Center, que oferece a oportunidade de efetuar uma varredura completa no computador em que se está trabalhando em busca de vírus. Você nem precisa ter um antivírus instalado na máquina, basta estar conectado. Sim, isso já existe, diversos desenvolvedores de antivírus oferecem produtos semelhantes, mas você o encontrará também no Windows Live (no campo da segurança haverá também o Windows OneCare Live, um serviço similar, porém mais amplo, que além de varredura de vírus oferecerá um firewall, serviços de manutenção, cópias de segurança e capacidade de recuperação, mas será pago mediante assinatura).
Outro é o Windows Live Favorites, um serviço que armazena sua lista de sítios favoritos e a põe à sua disposição em qualquer micro conectado. Também não é novidade, mas você a encontrará no Windows Live.
E, em um mundo cada vez mais conectado através dos mais diversos dispositivos, os serviços básicos do mundo “Live” como o Mail e Messenger estarão também disponíveis em dispositivos móveis, desde os micros de mão que rodam o Windows Mobile até telefones celulares com interface para Internet. Mas, afinal, também isso não é novidade.
Então, afinal, onde está a novidade?
Ainda não descobriu? Quem sabe é porque você não “pegou o espírito da coisa”. Que pode ser resumido em três palavras: transparência, portabilidade e desfragmentação.
Quanto à transparência, leia o que disse Osvaldo Barbosa de Oliveira, diretor do MSN para o Brasil e a América Latina:
“Live é uma iniciativa de toda a MS. Tome o Xbox Live, por exemplo. A idéia é jogar online. O serviço, que já existe há muito tempo, é uma demonstração de que é possível o usuário passar de forma muito simples do ‘offline’ para o ‘online’. O Xbox Live permite que você se conecte a outra pessoa sem ter que discar, sem dar senha, nada. Ele simplesmente faz”. Ainda segundo Osvaldo, em inglês a palavra para isso é “seamlessly”, que significa sem descontinuidade, imperceptivelmente. A idéia do Windows Live é fazer você trabalhar no ambiente de sua máquina e na Internet sem sequer perceber quando transitou de um para o outro, transparentemente. Segundo Osvaldo, um exemplo já implementado desse tipo de transparência é o iTunes: você usa a mesma interface para ouvir música e para comprar online. E nem percebe que estes serviços usam tecnologias inteiramente diferentes.
Portabilidade é a facilidade que precisamos para viver em um mundo inteiramente conectado no qual devemos ter acesso a nossos dados e informações estejamos onde estivermos. O Windows Live nos oferece isso de uma forma singela: de qualquer máquina conectada à Internet vá até o sítio do Windows Live, entre com sua identificação de usuário (UserID) e senha e abra a sua página, com seus dados, suas mensagens, seus contatos, em suma, seu mundo. De qualquer lugar e usando qualquer dispositivo.
Mas o ponto crucial talvez seja o terceiro, a desfragmentação. Isso porque a MS descobriu que quanto mais tempo as pessoas passam conectadas, menos satisfeitas ficam com a “natureza fragmentada da experiência de Internet”. Então, a grande sacada do Windows Live não está na novidade dos serviços que nos oferece, mas na forma unificada como o faz, juntando todos eles, notícias, mensagens, favoritos, tudo, em uma única interface.
É claro que na medida que o projeto se firmar novos serviços serão oferecidos (Live ainda está em fase “beta” e embora alguns serviços já estejam disponíveis, novos deverão ser lançados no próximo ano). Alguns (a maioria, espera-se), serão gratuitos, sustentados por publicidade, no estilo inaugurado pelo mais que bem sucedido Google. Outros, como o já anunciado OneCare, pagos mediante assinatura. Mas, segundo a MS, o modelo a ser seguido é a MSN. Na verdade, o Windows Live é uma MSN aperfeiçoada e ampliada. Ainda citando Osvaldo Barbosa:
“O MSN é onde a MS avançou em software como serviço, principalmente custeado por publicidade. Com base no MSN e XBox Live surgiu a iniciativa de criar os novos serviços. Eu arrisco dizer que dentro de alguns anos não haverá software que não tenha como contrapartida um serviço ‘Live’ na Internet, complementando a experiência do usuário. A única coisa que manterá a marca MSN será o portal de conteúdo”.
É uma mudança e tanto, seja na filosofia da empresa (que nunca foi muito de dar nada de graça) seja na forma de trabalhar com o computador.
Vamos ver se funciona.
Incidentalmente: juntamente com o do Windows Live, a MS anunciou o próximo lançamento do Office Live. É uma iniciativa semelhante ao Windows Live, porém voltada para pequenas empresas, não para indivíduos. O serviço, gratuito na versão “Basics”, dará oportunidade às empresas de criar seu sítio na Internet com 30 MB de espaço em disco e cinco contas de correio eletrônico. Haverá mais duas versões, “Essentials” e “Collaboration”, ambas pagas através de assinatura, oferecendo mais serviços. As empresas que quiserem se inscrever na lista de espera da versão “Basics” beta deverão visitar o sítio < http://www.officelive.com >.
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FIgura 1 |
O gostinho do Windows Live
O campo de provas para o lançamento do Windows Live foi o projeto Start.Com (< http://www.start.com/ >) da MS, baseado em um conjunto de tecnologias conhecido como AJAX, uma técnica de programação para aplicativos interativos para a Internet que usa uma combinação de XHTML e CSS para apresentar e formatar informações, JavaScript para exibir dinamicamente e interagir com as informações apresentadas e XML para trocar dados de forma assíncrona com o servidor (o projeto Start.Com ainda permanece ativo, segundo Osvaldo Barbosa para testar novas tecnologias; visite-o e note como se parece com o Windows Live). Nele foram testadas não apenas as técnicas de programação como também as idéias e a interface (uma interface “limpa”, quase espartana, inteiramente diferente do “estilo MS”, que mais parece desenvolvida pelo pessoal do Google...)
O resultado pode ser testado diretamente na própria página do Windows Live, em < http://www.live.com/ >, se bem que a melhor maneira de fazê-lo seja seguindo “o caminho das pedras” sugerido pela própria MS: entrar através do sítio < http://ideas.live.com/ >, ler o texto de saudação (em português), de preferência clicar no atalho “Saiba Mais” para ter um pouco mais de detalhes sobre o assunto e, finalmente, clicar no atalho “Usuários beta entram aqui” para ser levado à página de registro de usuário do Live.
Se você já tem um endereço registrado no MS Passport Network (se tem uma conta HotMail, por exemplo), basta digitá-lo e entrar com a senha para passar para a “sua” página Windows Live. Do contrário, um clique no botão “Inscrever-se Agora” resolve o problema criando uma inscrição no Passport.
Já está na sua página? Se não, vá para o endereço < http://www.live.com/ > e faça seu “login”. Repare na interface espartana do Windows Live. Veja, no lado esquerdo, a “sidebar”. É ela (que pode ser oculta clicando em “hide sidebar”) que permitirá personalizar sua página. Através dela você pode incluir na sua página notícias sobre tópicos de seu interesse e um número razoável de “Gadgets”, pequenos programas que servem para as finalidades mais diversas. Fuce-a. Ponha objetos na página arrastando-os da “sidebar”. Retiro-os clicando no pequeno “x” na extremidade direita de cada barra título. Brinque. Experimente. Afinal, a coisa ainda está em estágio beta, o número de “gadgets” ainda é pequeno e as possibilidades ainda são restritas, mas bem que dá para ter um “gostinho” do Windows Live.
Bom proveito.
B.
Piropo