Nas duas últimas edições de seu PDF (Professional Developers Fórum) em San Francisco, EUA, a Intel deu bastante ênfase à sua tecnologia de virtualização.
Trata-se na verdade de um conjunto de técnicas implementadas no próprio microprocessador que permite rodar diferentes sistemas operacionais e distintos aplicativos em “partições” do sistema que se comportam como plataformas totalmente independentes. Não se trata do conhecido conceito de partições de discos rígidos, mas sim de partições do próprio sistema, ou seja, do computador. Através da virtualização, um único computador poderá se comportar como um conjunto de computadores virtuais, totalmente independentes, cada um com seu processador e subsistema de memória onde se pode carregar diferentes cópias do mesmo sistema operacional ou até mesmo diferentes sistemas operacionais, cada um rodando seus próprios aplicativos.
Recorrendo à técnica de virtualização o administrador do sistema poderá isolar uma parte da máquina para efetuar, por exemplo, uma atualização ou manutenção sem interromper as atividades das demais partições ou computadores virtuais. Ou criar partições em um computador que funcionem como computadores pessoais de tal forma que um ataque de vírus que eventualmente afete uma das máquinas permaneça isolado das demais. Usuários domésticos poderão criar em sua única máquina diferentes computadores, um deles dedicado a jogos, outro a aplicativos como planilhas e editores de texto e um terceiro para navegar pela Internet e destinar a cada uma delas os devidos recursos. E rodá-las todas ao mesmo tempo, evidentemente.
Tudo isso, naturalmente, traz grandes vantagens para o usuário, seja ele doméstico ou empresarial. Mas e as desenvolvedoras de software, como ficam?
Não percebeu ainda a natureza do problema? Esclareçamos: se, em sua máquina única com um único microprocessador você usar a técnica de virtualização para criar quatro partições, cada uma delas rodando uma cópia diferente do sistema operacional, quantas licenças você precisará pagar? Quatro, porque está rodando quatro cópias do mesmo sistema? Ou uma, já que se trata do mesmo sistema operacional rodando na mesma máquina com uma só CPU?
Eu não sei se você está preocupado com o assunto. Mas a Microsoft eu garanto que está. Tanto assim que, segundo artigo de Martin LaMonica publicado nesta segunda-feira no News.com da CNet
(< http://news.com.com/Microsoft+takes+stand+on+virtual+licensing/
[N.W.: na mesma linha] 2100-1012-5892155.html?part=dht&tag=ntop&tag=nl.e703 >),
a empresa alterará sua política de licenciamento de produtos (por enquanto) para servidores exatamente para “melhor acomodar programas de virtualização”. E vocês podem imaginar o que a MS quer dizer com “melhor acomodar” sua política de licenciamento...
O problema é que os primeiros microprocessadores da Intel destinados a servidores com a tecnologia de virtualização integrada já começaram a ser comercializados. E poderosos programas gerenciadores de virtualização, como o VMWare recentemente adquirido pela poderosa EMC e o Xen, da XenSource (além, naturalmente, do Microsoft Virtual Server da própria MS, que não é de ficar de fora de um mercado lucrativo) já estão na rua, possibilitando que um único servidor se multiplique em diversas máquinas virtuais. E até agora o modelo que vigora para licenciamento de software para servidores se baseia na cobrança de licenças “per-processor”, ou seja, uma licença para cada processador (o que era vantajoso para as empresas de software que cobravam tantas licenças quantos fossem as CPUs dos sistemas de servidores multiprocessados, mesmo que rodassem uma única cópia do aplicativo). Isso vale tanto para sistemas operacionais quanto para, por exemplo, gerenciadores de bancos de dados. Agora, na mesma máquina, podem coexistir diversas cópias de um sistema operacional, cada uma em sua partição e rodando diferentes aplicativos, como servidores de bancos de dados, de correio eletrônico e assim por diante.
Em conseqüência disso, ainda segundo LaMonica, a partir de dezembro vindouro, a MS passará a licenciar seus produtos para servidores baseada no número de instâncias do programa que estiverem rodando nos diversos computadores virtuais de uma mesma máquina (real) e não mais no número de processadores da máquina.
É claro que isso pode de alguma forma beneficiar o usuário e a MS enfatiza essa possibilidade. Por exemplo: um programa gerenciador de banco de dados rodando em um único computador virtual instalado em uma máquina com quatro processadores pagará uma única licença. Mas quem sabe que a MS é o tipo da empresa que não prega prego sem estopa, acabará percebendo que a longo prazo, com a disseminação da tecnologia de virtualização inclusive para as máquinas domésticas, ela acabará levando vantagem.
Seja como for, a nova política de licenciamento da MS repercutirá em todo o mercado dos aplicativos para servidores. E é bom que a concorrência, como BEA, Oracle, SAP e companhia, ponha as barbas de molho...
B.
Piropo