< Jornal Estado de Minas >
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02/06/2005
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< Pano para mangas... > |
Parece uma jaqueta comum. O tecido é um pouco mais grosso, é verdade. Mas jaquetas com capuz costumam ser usadas como agasalhos, portanto é natural que seu tecido seja um pouco mais encorpado. Porém, se você reparar bem, vai notar que o capuz é especial: na posição correspondente às orelhas há dois pequenos alto-falantes e na borda, mais ou menos na altura da boca, um microfone. E, embutido no casaco, um módulo de comunicação sem fio que usa a tecnologia bluetooth, que permite que ele se comunique com qualquer dispositivo aderente ao padrão, de telefones celulares a “tocadores” de música no formato MP3, rádios FM ou seja lá o que for. Achou a idéia interessante? Pois ela não passaria disso, interessante, não fossem dois aspectos peculiares que a tornam quase revolucionária. O primeiro é que o controle do dispositivo (ou seja, discagem e atendimento do telefone, volume e seleção da música ou sintonia, no caso dos exemplos) é feito na própria jaqueta, tocando em pontos determinados ou esfregando o dedo sobre ela. E o segundo é a forma pela qual os sinais (tanto de áudio quanto de controle) são transmitidos: sem o uso de qualquer condutor elétrico de metal. Toda a conexão é feita pelo próprio tecido do casaco, que conduz eletricidade.
Não é mágica, é tecnologia. No caso, trata-se do tecido ElekTex, fabricado pela Eleksen (em < www.eleksen.com >), uma empresa sediada na Inglaterra. O tecido é composto de três camadas ativas. A do meio apenas conduz eletricidade quando pressionada e a intensidade da corrente conduzida é proporcional á pressão exercida. As duas externas são compostas de fibras condutoras de tecido (não metálicas). Em uma das camadas externas aplica-se uma diferença de potencial elétrico (tensão, ou “voltagem”) através de eletrodos paralelos situados em uma distância determinada e interligados por um conjunto de fibras condutoras que se estendem por toda a extensão do tecido. A camada do lado oposto é idêntica a esta, com a diferença que seus eletrodos situam-se ortogonalmente aos primeiros, ou seja, em ângulo reto com eles, formando um conjunto de eixos coordenados “X;Y”. E tudo isso é ligado a um minúsculo microprocessador “embutido” no tecido. Quando se aplica uma pressão a um ponto qualquer do tecido, as duas camadas exteriores são conectadas eletricamente exatamente no ponto em que a pressão foi feita, já que a camada intermediária somente conduz eletricidade quando pressionada. O microprocessador então mede as quedas de tensão nas fibras paralelas a cada eixo e na camada central, processa esses dados e emite uma saída com três valores. Os dois primeiros correspondem às coordenadas “X” e “Y” do ponto pressionado em relação à origem dos eixos e o terceiro é proporcional à pressão exercida (se isso parece complicado, veja a ilustração e acompanhe a explicação no sítio da própria Eleksen, em < www.eleksen.com/index.asp?mainsection=2&pageID=195 >). Resultado: o tecido funciona como um “sensor de toque”, de forma idêntica a essas telas sensíveis ao toque. A coisa mais óbvia a fazer com este tipo de material é um teclado maleável. E assim foi feito: um teclado inteiramente de tecido, no qual os símbolos das “teclas” são estampados e cujo único componente que não é feito de tecido é uma pequena caixa plástica que abriga o dispositivo de comunicação sem fio aderente ao padrão bluetooth com leds que indicam o estado da conexão sem fio e piscam cada vez que uma “tecla” é acionada. Quando não em uso, basta enrolar o próprio teclado em torno da caixa e botar no bolso. O teclado é voltado para telefones celulares e micros de mão, tipo “palmtop”, mas pode ser usado com qualquer dispositivo que se comunique com ele pelo padrão bluetooth. E essa não é a única utilização do ElekTex. Além da jaqueta citada no início deste artigo, fabricada pela empresa alemã Rosner, a Eleksen e seus associados já lançaram uma roupa de esquiar e uma jaqueta impermeável com controles para iPod, uma bolsa para reprodutores de MP3 (“MP3 players”) cujos controles são feitos deslizando os dedos sobre a própria bolsa e uma cadeira reclinável fabricada pela Celebrity Motion Furniture que tem, na base, um revestimento com tecido ElekTex que impede que, ao se reclinar, ela “amasse” qualquer objeto que eventualmente seja colocado sob ele, bloqueando o movimento quando “sente” a presença do objeto (veja a página sobre o “Touch and Rise Hazard Sensor” em < www.touchandrise.co.uk/main.htm >).
Sensores de toque não são novidade. Mas o ElekTex tem características revolucionárias, a começar pela ausência completa de quaisquer componentes metálicos (até as conexões são feitas com fibras condutoras). O tecido tem menos de 1 mm de espessura e pode ser amassado, dobrado, costurado, perfurado, lavado e passado, sem perder suas propriedades. Sendo totalmente maleável, se amolda à qualquer forma e pode ser colado ou grampeado em qualquer superfície. A localização do ponto pressionado é obtida instantânea e precisamente. E pode se integrado a qualquer tipo de produto. Sei não, mas acho que esse negócio ainda vai dar pano para mangas... B. Piropo |