< Jornal Estado de Minas >
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12/05/2005
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< Chegaram os AMD de núcleo duplo > |
A tecnologia de fabricação de microprocessadores está, indubitavelmente, mudando sua tendência evolutiva. Até o momento todos os esforços se voltavam para melhorar o desempenho acelerando a freqüência de operação, pois CPUs funcionando mais rapidamente podem terminar suas tarefas mais depressa. Ocorre que razões práticas, dentre as quais se destaca o incremento do calor gerado quando a freqüência aumenta, estavam impondo limites ao crescimento desenfreado das freqüências de operação. Mas a demanda por melhor desempenho jamais se reduz. Resultado: a indústria procurou uma alternativa e achou o caminho do paralelismo. A idéia é simples: já que não dá para manter o ritmo de crescimento da freqüência de operação, vamos decompor o processamento em tarefas mais simples que possam ser executadas simultaneamente. O resultado foi o aparecimento dos processadores de núcleos múltiplos (multicore). Na prática, mais de um processador em um único encapsulamento.
A Intel deu a partida, mas foi seguida imediatamente pela concorrente AMD. Que já lançou no mercado a série 800, formada pelos modelos de núcleo duplo 865, 870 e 875 (de 1,8 GHz, 2 GHz e 2,2 GHz, respectivamente) do Opteron, seu processador de mais alto desempenho, voltado para o mercado de servidores. E lançará até o final deste mês os modelos da série 200, também de núcleo duplo: 265, 270 e 275 (mesmas freqüências que os modelos da série 800). Todos utilizando a mesma alimentação elétrica e o mesmo soquete de 940 pinos dos modelos atuais de núcleo único fabricados com a tecnologia de 90 nm (já veremos como esse aparente milagre é possível), o que significa que podem ser usados nas placas-mãe atuais mediante uma simples atualização do BIOS. A diferença entre as duas séries é que os processadores da primeira foram concebidos para serem usados em placas-mãe com quatro a oito processadores, enquanto os da segunda são destinados ao segmento mais modesto de placas-mãe de dois processadores (que passarão a se comportar como se tivessem quatro quando equipadas com dois processadores de núcleo duplo da série 200).
A que sortilégio teria apelado a AMD para conseguir “espetar” um processador de núcleo duplo no mesmo soquete e servido pelo mesmo chipset de um modelo de núcleo único? O nome do aparente milagre é “Direct Connect Architecture”, uma concepção de arquitetura interna que permite que os núcleos se comuniquem diretamente usando uma tecnologia batizada de Coherent HyperTransport, ao contrário do sistema classicamente empregado pela concorrente Intel, que usa uma arquitetura baseada no barramento frontal (FSB, ou Front Side Bus) para o mesmo fim. No esquema de interconexões empregado pela AMD, cada núcleo tem seus dois caches L1 de 64 KB cada (um para dados, outro para instruções) conectados diretamente a um cache L2 de 1 MB. Estes dois últimos caches (um de cada processador) se interligam diretamente através da “System Request Queue”, que por sua vez se responsabiliza pela a ligação ao “mundo exterior” através de um único “Crossbar”, idêntico ao usado pelas unidades de um só núcleo. Resultado: mesmo número de pinos, mesmo soquete, mesmo chipset.
Mas as mudanças não se limitaram à adição de um núcleo (embora, sem dúvida, seja este o aspecto mais espetacular). Além disso os novos chips incorporam um sistema avançado de proteção contra vírus (que coopera com o sistema operacional para impedir que sejam explorados os chamados “estouros de buffer”) e a tecnologia “Cool’n Quiet”, que perscruta permanentemente as necessidades do sistema e reduz de acordo o consumo de potência (e, portanto, a dissipação de calor), mantendo sempre um nível adequado às necessidades do processamento em condições mais silenciosas (devido à redução da rotação da ventoinha).
Por enquanto é isso. Mas espera-se novidades para breve na linha de processadores para micros de mesa (desktops). Portanto não se surpreenda se até o próximo mês a AMD voltar ao tema “núcleo duplo”, mas desta vez na sua linha Athlon 64. Quando isso ocorrer a linha de processadores AMD para micros de mesa ganhará mais dois elementos: os Athlon 64 FX (voltado para o segmento de jogos) e X2 (para sistemas pesados que rodam simultaneamente programas que exigem uso intensivo da CPU), ambos de núcleo duplo. Mas deverão ser mantidos, pelo menos por algum tempo, os atuais Athlon 64 (para o mercado doméstico) e Sempron (para o segmento econômico), com um só núcleo. Parece que a briga entre Intel e AMD vai esquentar. E tomara que esquente mesmo, porque sempre que eles brigam quem acaba ganhando somos nós... B. Piropo |