< Jornal Estado de Minas >
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07/04/2005
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< Um concurso inesperado > |
Computadores são máquinas formidáveis. Sua capacidade de processamento tem evoluído tão rapidamente e seu preço caído tanto que hoje em dia estão por toda parte. E controlando praticamente tudo. Pense, por exemplo, em uma rede de televisão à cabo. São dezenas de canais, com uma malha de programação extremamente complexa. Para controlar isso, só mesmo informatizando tudo. Mesmo porque a época do filme e da fita ficou para trás. Hoje, com exceção da programação ao vivo, quase todo o conteúdo é digitalizado, de filmes a shows. E conteúdo digitalizado fica armazenado em discos rígidos. Para botar toda essa tralha para funcionar, basta criar uma grade apropriada escolhendo o conteúdo mais conveniente para cada horário e canal, inserir a programação no computador e temos conversado. Tudo funciona praticamente sem supervisão humana. Se bem que há ocasiões em que uma supervisãozinha humana bem que ajudaria... Dentre as áreas cobertas pela rede de TV a cabo Local Cablevision no Estado de New York, EUA está a de Wappingers Falls, que abrange parte dos condados de Duchess, Ulster, Putnam e Orange, situados ao Norte da Cidade de New York. Como manda a lei, dentre os canais por ela oferecidos, há canais locais destinados à programação regional, em geral soporíferas informações turísticas e históricas, reuniões de cidadãos ou programas gerados pelas escolas secundárias da região. Nada de muito trepidante. Um destes canais é o canal 18. Dia 20 de março último foi um domingo. Haveria de ser um domingo tranqüilo, sem nada de excepcional, especialmente no horário matinal da televisão. E mais especialmente em um canal local. Por isso foi com supremo espanto que o Sr. George Morton, residente na pacata e puritana cidade de Hopewell Junction, que dormita às margens do Rio Hudson com seus 2.610 habitantes, ao passar pelo canal 18 em busca de uma distração dominical, deparou-se com uma programação deveras inusitada para um canal local de uma cidadezinha rural do Estado de New York: um surpreendente concurso de dança realizado em Las Vegas. Porém o que tornava a coisa realmente extraordinária era o fato das concorrentes, moças, digamos, de excelente saúde, despirem-se enquanto dançavam. E despirem-se inteiramente, já que era um concurso para dançarinas de strip-tease, com os closes usuais e tudo o mais a que se tem direito. E, a julgar pelas reações, as meninas fizeram um baita sucesso. Não tanto com o Sr. Morton que, ao que parece, não é dado a essas estripulias. Tanto assim que não apenas telefonou imediatamente para a Cablevision para registrar uma queixa formal como também endereçou uma carta prenhe de indignação ao jornal regional, o Poughkeepsie Journal (cuja íntegra pode ser encontrada na seção “Cartas dos Leitores”, em Informada dos fatos, a intrépida equipe de reportagem do Poughkeepsie Journal pôs-se em campo para apurá-los (veja reportagem completa em Entrevistados, os responsáveis pela transmissão foram unânimes em se desculpar pelo ocorrido. Bill Powers, o porta-voz da Cablevision, declarou que se tratava de um erro na seleção dos programas (“program switching error”) que, tão logo constatado, foi corrigido tirando o programa do ar (presumo que a demora de pelo menos meia hora registrada pelo Sr. Morton deve-se ao fato de que ninguém vê mesmo esses canais locais, muito menos os responsáveis por sua programação; sem mencionar que mui provavelmente a maioria dos demais espectadores, ao contrário do Sr. Morgan, ficou “na moita”, curtindo uma manhã de domingo diferente até a turma da Cablevision se mancar e tirar as meninas do ar). Mas, seja como for, e para profunda consternação dos adolescentes da área de Wappingers Falls, Mr. Powers garantiu que “foram tomadas as providências devidas para que tal fato não venha a se repetir”. É nisso que dá deixar máquina tomar conta de tudo... B. Piropo |