< Jornal Estado de Minas >
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17/02/2005
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< Com a Mão na Cumbuca > |
Adolescente é um bicho danado. Os mais espertos e criativos, então, são terríveis. Por mais que os pais e responsáveis labutem para evitar que tenham acesso a determinados sítios da Internet, eles acabam engendrando um modo de dar uma passadinha por lá. Mas agora parece que a coisa vai ficar mais complicada. Pelo menos essa é a opinião das empresas RSA Security e i-Mature, que se juntaram para implementar uma tecnologia diabólica (pelo menos no ponto de vista dos adolescentes). Trata-se da AGR, sigla de Age-Group Recognition (reconhecimento de grupo etário), desenvolvida pela i-Mature, que pretende usar a vasta experiência da RSA em segurança e criptografia para integrá-la a um periférico que vai dar trabalho aos adolescentes que pretendam burlar a vigilância dos pais. Mas não só a eles. Impedirá também que adultos (eventualmente mal-intencionados) participem de salas de bate-papo destinadas a jovens. Burlar a AGR vai ser um osso duro de roer. A expressão é um tanto anacrônica mas cabe perfeitamente no contexto. É que pouca gente sabe que nossos ossos são uma estrutura dinâmica. A cada ano um décimo da massa óssea velha é substituída por massa nova e o acúmulo de cálcio e sais minerais faz com que os ossos endureçam pouco a pouco, ou seja, fiquem mais densos A avaliação da massa óssea é feita através de um teste denominado densitometria óssea. Ela pode ser realizada com grande precisão por meio de um exame radiológico semelhante ao Raio X (porém usando dose muito menor de radiação) ou por uma simples aplicação de ultra-som, uma técnica menos precisa mas que oferece resultados imediatos, é indolor e não tem contra-indicações. Como? Acha que já estou “misturando estação” e mudei de assunto no meio do artigo? Mudei não... Veja lá: como a densidade dos ossos varia com a idade, é possível estabelecer uma correlação razoavelmente precisa entre a densitometria óssea e a idade do indivíduo. E é justamente nisso que se baseia a AGR Imagine um dispositivo (que, quando comercializado, custará cerca de US$ 25) conectado a uma porta USB ou integrado ao teclado do computador, com um nicho onde cabe um punho fechado. Imagine agora que o internauta acabou de digitar o endereço de um sítio que, segundo o critério do responsável pelo computador, só pode receber visitas de adultos. Antes de estabelecer a conexão, aparecerá na tela uma mensagem solicitando delicadamente que o interessado meta a mão na cumbuca, ou seja, enfie o punho fechado no dispositivo. Um feixe de ultra-som é então disparado sobre a falange do dedo médio (o “pai de todos”) do usuário para efetuar a densitometria óssea e fornecer a idade a ela correlacionada. A i-Mature não informa qual é a precisão da avaliação mas assegura que é suficiente para determinar se o usuário é uma criança de menos de 13 anos, um adolescente ou um adulto de mais de 18. O que permitirá restringir também o acesso de adultos a sítios destinados a crianças e adolescentes. O papel da RSA na sociedade é usar sua experiência em segurança e criptografia para gerar uma identificação de usuário baseada nos dados brutos fornecidos pelo dispositivo da i-Mature Caso a tecnologia venha a se disseminar, a triagem poderá ser feita diretamente no sítio, impedindo definitivamente o acesso de visitantes fora da idade alvo (mas para isso é necessário que o computador de cada visitante disponha do dispositivo AGR para avaliar sua densitometria óssea). Pronto. Problema resolvido. A partir de agora, cada macaco no seu galho. No clube do Bolinha (ou da Luluzinha) adulto não entra. E acabou a farra dos adolescentes nos sítios de conteúdo adulto. A não ser, naturalmente, que o adolescente convença um adulto menos escrupuloso a meter a mão na cumbuca por ele. Ou, pior, que paralelamente à disseminação da AGR, floresça um movimentado mercado negro de osso de dedo de defunto velho. Como eu disse, adolescente é bicho danado...
B. Piropo |