< Jornal Estado de Minas >
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16/12/2004
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< Acidentes acontecem > |
Em pouco mais de uma década, telefones celulares passaram de objeto de desejo a acessório vulgar, tipo de coisa “que todo mundo tem”. E “todo mundo” é todo o mundo mesmo, da frigidez dos países nórdicos aos cálidos paises tropicais. Tanto lá quanto cá, da mesma forma que celulares são comprados (ou presenteados, o Natal está aí para isso mesmo), são perdidos ou danificados. Afinal, acidentes acontecem. Mas que tipo de acidente? No Brasil, não sei. Desconheço as estatísticas. Mas na Suécia, lá no extremo do outro hemisfério, a fabricante Siemens decidiu descobrir e, segundo o sítio Cellular-news (em < http://www.cellular-news.com/story/11367.shtml >), fez uma pesquisa com este objetivo ouvindo justamente os profissionais que estão mais bem informados sobre o assunto: os revendedores, a quem o pobre usuário procura para adquirir outro aparelho e que está sempre disposto a ouvir pacientemente a triste história do aparelho anterior. Trezentos deles foram interrogados para descobrir quais eram as causas mais comuns da perda ou dano de celulares. E alguns dos resultados foram surpreendentes. A causa mais comum, presumo, é a mais comum mesmo tanto na Suécia quanto em qualquer outra parte do mundo: deixar o aparelho cair no chão. Tão comum que eu mesmo já perdi um assim. Portanto não há muito o que comentar sobre ela. Mas confesso que não esperava pela que veio em segundo lugar. Não por sua natureza, já que todos sabemos que pode acontecer, mas pela freqüência com que ocorre. Estranhei ser a segunda causa mais freqüente guardar o celular no bolso de uma calça justa (geralmente jeans) e sentar-se. Quer dizer: a segunda causa mortis mais freqüente de celulares é o esmagamento em bolsos. A terceira, pelo menos para mim, também foi inesperada: usar o celular na chuva. Eu não sabia que na Suécia chovia tanto e tão forte. Afinal, que chuva é essa capaz de inutilizar um aparelho celular? Mas está lá, em terceiro lugar, e quem sou eu para discutir com os suecos. Mesmo porque discutir com sueco não parece ser uma coisa muito saudável. Ao que tudo indica, é um povo de pavio curto e pouco complacente diante de contrariedades. E olhe que eu não tinha a menor idéia que eram assim até conhecer a pesquisa da Siemens. Pois não é que a quarta causa mais freqüente de acidentes (se é que se pode chamar assim) com celulares é serem arremessados no chão pelo dono em um acesso de raiva? Mas logo os suecos, com aquele jeitão de quem não está nem aí, quem diria... Sobre a quinta causa, o que me espantou não foi sua ocorrência, mas a forma de catalogá-la: aparelhos danificados por crianças ou cães. Que um celular deixado ao alcance de crianças corre risco de vida estou farto de saber. E, evidentemente, estou totalmente ciente do tipo de tratamento dado a tais aparelhos pelos cães. O que me causou espécie foi a reunião de dois agentes (para mim) tão diferentes no mesmo item da pesquisa. Assim como se cães e crianças fossem um subgrupo da categoria “animais de estimação”. O que me leva a cogitar que ou os cães são muito paparicados na Suécia ou as crianças suecas levam uma vida de cachorro... A sexta causa é minha velha conhecida. Não aconteceu comigo, mas com uma amiga: morte por afogamento em vaso sanitário (do celular, não da amiga). Na verdade, não foi propriamente caso de morte, mas de perda de sentidos temporária: a vítima foi levada prontamente à assistência técnica, restabeleceu-se e está em plena função até hoje. Só me penitencio por tanto haver estranhado a causa quando tomei conhecimento do acidente. Se soubesse que era tão freqüente a ponto de constar entre as dez mais comuns lá na Suécia não teria criticado tanto a moça. A sétima é parecida, com a diferença que não há como recuperar a vítima: queda acidental no mar. Não só porque – embora certamente não pareça – a água do mar é muito mais agressiva aos componentes de um circuito eletrônico que o líquido contido em um vaso sanitário como também por não existirem muitos candidatos a um mergulho nas águas geladas do Mar Báltico apenas para salvar um celular. Ou seja: nesse caso, a queda é sempre fatal. A oitava causa é mais comum do que parece, tanto lá quanto cá: esquecer o celular no teto do carro. Com celulares, desconheço precedentes, mas sei do caso de um jovem que fez isso com sua bolsa, no tempo em que era moda homens usarem bolsa, e ao sair dirigindo sem se dar conta do ocorrido espalhou seus pertences por meia Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Fazer o mesmo com o celular é perda certa. A nona causa revela duas características interessante da personalidade dos suecos, a primeira relativa à forma física, a segunda à intelectual. Uma mostra uma notável dedicação aos exercícios, outra mostra... bem, decida você o que mostra: a nona causa mais freqüente de perda de aparelhos celulares pelos suecos é encharcá-los de suor por mantê-los junto ao corpo enquanto se exercitam nas academias de ginástica. Depois, ficam cá os brazucas a caluniar os lusitanos... Finalmente a décima causa pode não ser tipicamente sueca, mas não conheço caso no Brasil: deixar o celular cair na neve. Desta, pelo menos, estamos livres. Pois aí estão as dez razões mais comuns que levam os suecos a perderem seus telefones celulares. Examine-as de novo a partir de um ponto de vista, digamos, mais tupiniquim. Descarte a nona por razões óbvias, dispense a décima por improvável, tire os cães da quinta deixando só as crianças e pense nas demais. Seriam as mesmas no Brasil? Aos olhos dos habitantes de qualquer grande cidade brasileira, não parece estar faltando alguma coisa? Reflita! Descobriu? Isso! Eu sabia que você iria estranhar. Pois não é que na Suécia, entre os dez causas mais freqüentes de perda de celulares, não consta furto, roubo ou assalto à mão armada? País danado essa Suécia... B. Piropo |