Guglielmo
Marconi nasceu em Bolonha, Itália, há exatos 130 anos.
Em 1895, após estudar as teorias de Maxwell, Hertz e Righi, conseguiu
transmitir sinais a uma distância de pouco mais de dois quilômetros
sem a utilização de fios. Foi a primeira transmissão
de rádio conhecida.
A tecnologia evoluiu rapidamente. No início do século
passado, os primeiros aparelhos de rádio atraiam pessoas maravilhadas
pelo aparente milagre de ouvirem palavras pronunciadas quase no mesmo
momento em outros continentes (não, eu não cheguei a presenciar
tais acontecimentos, mas sou obrigado a confessar que ouvi o relato
da boca de pessoas que os presenciaram).
Depois, o fenômeno da comunicação sem fio passou
a se integrar de tal forma às nossas atividades diárias
que hoje nem mais prestamos atenção a eles.
A
Era Wireless
Qualquer grandeza pode ser representada por um número (senão,
não seria uma “grandeza”). E números podem
ser expressos em qualquer sistema numérico. O que inclui o sistema
binário, um sistema numérico posicional (em que o valor
de um algarismo depende de sua posição relativa aos demais)
de base dois (que utiliza apenas os algarismos – ou dígitos
– um e zero) usado internamente pelos computadores, que se sentem
mais à vontade manipulando grandezas que assumem apenas dois
estados (ligado/desligado; carregado/descarregado e assim por diante,
como a maioria das grandezas elétricas).
A ação de codificar grandezas do mundo real em números
binários chama-se “digitalizar”. Toda criação
do engenho humano pode ser digitalizada, desde este texto banal que
você está lendo até as mais magníficas manifestações
de genialidade, como a produção literária de um
João Ubaldo (cada caractere ou sinal gráfico representado
por um número), a Mona Lisa de da Vinci (cada ponto da imagem
representado por um número correspondente à sua cor) e
a Ária da Quarta Corda, de Bach (onde as notas são codificadas
em números que representam suas freqüências, intensidades
e durações). E toda informação digitalizada
pode ser armazenada e processada por computadores ou transmitida de
um computador a outro.
Há diversas formas de transmitir informações. O
telefone, por exemplo, converte o som em impulsos elétricos que
trafegam pelo fio e são reconvertidos em som no destino. Isso
pode ser feito de duas formas: a analógica, na qual os impulsos
elétricos que percorrem o fio variam de forma análoga
à variação do som transmitido, e a digital, na
qual o som é digitalizado na origem, ou seja, transformado em
números binários, que são transmitidos pelo fio
sob a forma de impulsos elétricos que correspondem aos dígitos
um e zero que formam esses números, e reconvertidos em som no
destino. Esse tipo de transmissão é muito mais fiel, já
que permite usar técnicas de verificação e correção
de erros em cada número transmitido.
Computadores podem ser ligados em rede e trocarem dados entre si. Uma
rede local convencional usa condutores elétricos (cabos) para
transportar informações digitalizadas. Mas, da mesma forma
que o som pode ser transportado através de condutores (telefone)
ou usando radiação eletromagnética (rádio),
as informações digitalizadas que trafegam em uma rede
podem ser transportadas com ou sem o uso de fios ou cabos.
Há diversos meios de transmitir informações entre
computadores sem o uso de fios (“wireless”, em inglês).
Todos eles usam uma forma de “radiação” (transmissão
de energia de um ponto a outro sem suporte físico) que vão
desde a radiação infravermelha (usada pelo padrão
IrDA, estabelecido pela Infrared Data Association, de onde derivou o
nome) até a eletromagnética (usada, por exemplo, pelo
padrão Bluetooth, criado para comunicação entre
dispositivos situados a pequenas distâncias). A que está
se disseminando mais rapidamente é a conhecida popularmente pelo
nome de WiFi.
O
Padrão WiFi
WiFi é o nome comercial usado para designar um conjunto de padrões
desenvolvidos pelo comitê 802.11 do IEEE (Institute of Electrical
and Electronic Engineers). A função deste comitê
é padronizar protocolos e equipamentos para serem usados nas
redes locais sem fio, ou “Wireless LANs”. O nome deriva
de “HiFi”. Se você sabe o que é isso, ou é
um jovem muito bem informado ou não é um jovem: HiFi é
o acrônimo de “High Fidelity”, o nome usado no início
da segunda metade do século passado para designar os equipamentos
de som de alta qualidade, que “tocavam” os discos LP. A
intenção do nome WiFi é evocar “Wireless
Fidelity”, chamando a atenção para a qualidade e
confiabilidade da comunicação.
Hoje a designação é usada para três padrões
que diferem apenas quanto a rapidez da transmissão, alcance e
freqüência da radiação usada. O mais antigo
(e o único regulamentado no Brasil pela Anatel) é o 802.11b,
que adota a freqüência de 2,4 GHz e consegue transmitir dados
a 11 Mb/s. O seguinte, 802.11a, opera em 5,2 GHz e chega a 54 Mb/s.
O mais recente é o 802.11g, que busca compatibilizar os dois
anteriores (consegue se comunicar com ambos, mas se houver um único
dispositivo 802.11b em uma rede com diversos 802.11a, o fluxo de dados
máximo em toda a rede cai para 11 Mb/s).
O alcance do padrão WiFi não permite transmissão
de dados a longa distância (para isso a Intel criou um outro padrão,
conhecido por WiMax), já que restringe-se, na melhor das hipóteses,
a poucas centenas de metros. Mas, como a radiação eletromagnética
atravessa obstáculos (como paredes de alvenaria), é o
suficiente para eliminar um dos grandes inconvenientes das redes locais
convencionais: o cabeamento. Com WiFi é possível criar
uma rede local inteiramente sem fio que pode se estender desde os limites
de uma sala até abranger todo um prédio ou um conjunto
de edificações, como um campus universitário.
Redes
WiFi
Para montar uma rede WiFi é preciso um ponto de presença
(ou “ponto de acesso”) que troca informações
com um ou mais transceptores (ou “controladoras”) WiFi.
O ponto de presença pode ser um roteador de rede, que pode se
comunicar apenas com os transceptores WiFi ou ser misto, aceitando tanto
conexões sem fio quanto conexões convencionais por cabos.
Em pequenas redes não hierárquicas, como redes domésticas
ligadas à Internet por conexões de alta taxa de transmissão
(“banda larga”), o roteador é conectado ao computador
que originalmente recebia a conexão externa à Internet,
que passa a ser ligada diretamente ao roteador. As demais máquinas
recebem os transceptores, controladores de rede capazes de se comunicar
com o roteador por meio de conexões sem fio. Em máquinas
de mesa, o transceptor se conecta diretamente a um dos “slots”
da placa-mãe ou a uma porta USB. Em micros portáteis (“notebooks”)
ou de mão (“palmtops” ou PDAs), o transceptor pode
ser integrado ao dispositivo (a maioria dos notebooks e PDAs modernos
vêm com suporte WiFi integrado, a começar pelos que usam
o padrão Centrino, da Intel) ou usar controladores tipo PC Card.
Versões modernas de sistemas operacionais, como Windows XP e
2000, oferecem suporte nativo ao padrão WiFi. Micros dotados
de uma controladora WiFi rodando um desses sistemas são capazes
de detectar automaticamente a presença do sinal e oferecem utilitários
para gerenciar a conexão. Windows 98, Me e NT necessitam da instalação
de drivers para este fim.
A um único ponto de presença podem se conectar dez a vinte
usuários, mas quanto maior o números de usuários
simultâneos, mais lenta é a conexão de cada um deles,
já que o fluxo de dados é dividido entre todos. Para efetuar
uma conexão não é preciso a visada direta entre
o transceptor e o ponto de presença. Pode haver obstáculos
entre eles, inclusive móveis e paredes. Mas quanto maior a distância
e mais obstáculos, mais difícil será conectar.
Paredes de alvenaria não bloqueiam o sinal, porém paredes
inteiriças de concreto podem fazê-lo. Da mesma forma, vegetação
(árvores entre prédios vizinhos ou paredes cobertas com
hera ou trepadeira), assim como reservatórios de água,
podem causar sérias atenuações ou bloquear inteiramente
o sinal.
Em redes públicas, como as disponíveis em hotéis,
aeroportos, centros de convenções e outros locais de grande
afluência de público, o ponto de presença conecta-se
a um servidor, que por sua vez está conectado à Internet.
Dispositivos móveis equipados com uma placa controladora WiFi
podem se conectar ao servidor (e, através dele, à Internet
ou a uma rede local) enquanto permanecerem no raio de alcance do ponto
de presença.
No Brasil, o principal provedor de serviços WiFi através
de rede pública é a Vex, que oferece mais de duzentos
pontos de presença (veja a lista completa em <http://www.pointernetworks.com.br/cobertura/>),
quase nada frente aos dezenas de milhares disponíveis apenas
nos EUA. Para ter acesso à rede da Vex é preciso contratar
o serviço com um provedor Internet a ela associado, como o Terra,
WiFiG, aJATO, Brturbo Asas ou Velox wi-fi.