Sítio do Piropo

B. Piropo

< Jornal Estado de Minas >
Volte
01/01/2004

< O que a Intel nos >
<
reserva para 2004
>


Entramos no ano novo e ficamos aflitos para saber que novidades ele nos reserva. Em todos os campos, naturalmente, mas os leitores deste caderno têm um interesse especial no da tecnologia da informação. Ocorre que este, além de vasto, é volátil. As mudanças são muitas e rápidas. E a tarefa de abordá-las todas é imensa. Para simplificar nossa faina, vamos nos fixar em uma das grandes indústrias do setor, a Intel. Que exerce uma inconteste liderança no campo dos microprocessadores para a linha PC, um dos mais importantes da indústria. Liderança esta que, se não a habilita a ditar os rumos da indústria, pelo menos a credencia para indicar a direção para onde ela se move. Então, vejamos o que 2004 nos reserva.
Antes, uma advertência: é impossível escrever sobre um assunto como esse sem recorrer a termos técnicos. Então, para facilitar a leitura de quem se interessa pelo assunto mas não é especialista, vou procurar abordar o tema da forma mais sucinta possível e, sempre que me referir a algo que necessite uma explicação complementar, em vez de fazê-lo no meio do texto e correr o risco de romper a linha de raciocínio, tentarei destrinchar a coisa mais adiante. Por isso preparei itens referentes a placa-mãe, CPU, memórias, chipsets e Entrada/Saída, explicando detalhes relativos a esses assuntos que preferi evitar no texto do artigo. Assim, o artigo ficará suficientemente “limpo” para quem dispensar explicações técnicas, porém compreensível para os não especialistas: basta que recorram aos itens explicativos. Dito isto, vejamos as novidades da Intel para este ano.
Para começar, serão lançados dois novos microprocessadores. O primeiro, codinome Prescott, cujo lançamento havia sido previsto para o final de 2003 mas foi adiado para (provavelmente) fevereiro deste ano, terá características inovadoras porém não revolucionárias. O segundo, codinome Tejas, com lançamento esperado para o final de 2004, trará tantas novidades que, espera-se, inaugurará, finalmente, a marca Pentium 5. Aos detalhes.
O Prescott será mais um Pentium 4 que incorpora a tecnologia HT (“HyperThreading”; ver “CPU”), o mais novo membro da família “Pentium 4 SSE3”. Aliás, especula-se que doravante todo novo chip da Intel adotará a HT. A freqüência de operação de lançamento não será vertiginosa: 3,4 MHz (haverá também um modelo de 3,2 MHz, a mesma do topo de linha atual, e especula-se que ao longo de sua vida útil o Prescott chegue a 4 GHz ou 4,2 GHz). Mas será o primeiro chip da Intel a usar a tecnologia de camada de silício de 90 nm (ver “CPU”) e um dos primeiros a adotar uma freqüência de 800 MHz para seu barramento frontal (ver “Chipset”).
O Prescott acrescentará onze novas instruções ao conjunto de instruções da linha Pentium e usará uma interface de segurança denominada “La Grande”, exigida pelo Palladium, o futuro sistema da MS. Seu cache interno será de 1 MB, o dobro do máximo atual da linha Intel (ver “CPU”) e consumirá 103 Watts para fazer funcionar seus 125 milhões de transistores (todos em uma pastilha de silício de poucos centímetros quadrados – uma das razões para que seja tão fina).
As versões iniciais do Prescott ainda usarão os chipsets i875 (“Canterwood”) e i865 (“Springdale”), que suportam DDR 333 e 400 (ver “Memória”) em canal duplo, ou “dual channel” (ver Chipset). Por isso adotará o mesmo encapsulamento PGA de 478 pinos atualmente usado pelos chips topo de linha da Intel (ver “Placa-mãe”). Mas assim que o novo chipset, codinome Grantsdale, estiver disponível (logo falaremos dele), o Prescott passará a adotar o encapsulamento Land Grid Array de 775 contatos, o LGA 775 (ver “Placa-mãe), ainda usando memórias DDR 333 ou 400 em configuração de dois canais.
O sucessor do Prescott será o Tejas, tão revolucionário que provavelmente será o primeiro a adotar o nome comercial de Pentium 5. Também HT (na verdade um aperfeiçoamento da HT denominado “Extended Enhanced HyperThreading) será fabricado inicialmente com tecnologia de 90 nm, mas especula-se que futuramente haverá uma versão com camada de silício de apenas 65 nm e cache interno de 2 MB. Adotará desde o lançamento o chipset Grantsdale, portanto será fabricado apenas com o encapsulamento LGA 775. Mas inaugurará o uso de memórias DDR II nos micros de mesa Intel: serão módulos DDR II de 400 ou 533 MHz em configuração de dois canais. Adicionará oito novas instruções ao conjunto de instruções da linha Pentium, todas elas voltadas para áudio (facilitando a implementação de tecnologias de reconhecimento de voz, Dolby digital e “multistreaming” de áudio). Seu barramento frontal atingirá incríveis 1066 MHz e a freqüência de operação interna será de 4,5 GHz no lançamento, especulando-se que poderá atingir até 9 GHz no final da evolução do chip. Incorporará suporte ao padrão PCI Express desde o lançamento (ver Entrada/Saída).
Evidentemente, essas novas CPUs exigirão chipsets adequados às suas inovações. E já há algum tempo, além de reinar soberana no mercado de microprocessadores, a Intel passou a disputar com afinco o de chipsets para suas CPUs.
No que toca a chipset, o primeiro deles já mencionamos: seu codinome é Grantsdale. Está inserido na nova estratégia da Intel de transformar o PC no centro da “digital home” (casa digital), povoada de dispositivos eletrônicos dos mais diversos, de entretenimento (TV, áudio, DVD, etc.) até utilidades domésticas (geladeira, máquina de lavar, controle de iluminação, dispositivos de segurança, etc.), tudo isso controlado por um PC. O Grantsdale deverá ser lançado ainda nos primeiros meses deste ano (especula-se que no final de fevereiro) e aceitará as futuras versões do Prescott e as primeiras do Tejas. Traz tantas inovações que os analistas de tecnologia consideram que representa o maior avanço em chipsets na última década, tão revolucionário quanto o Saturn, o primeiro a incorporar o barramento PCI.
O pioneirismo do Grantsdale se manifestará em diversos campos. Para começar, será o primeiro chipset da Intel a suportar o novo encapsulamento LGA 775. Além disso seu MCH, ou “Memory Controller Hub” (ver “Chipset”) será o primeiro a suportar memórias DDR II em duplo canal (suportará memórias DDR II 400 ou 533 mas será compatível com memórias DDR simples 333 ou 400), o primeiro a incorporar no próprio chipset o processador gráfico de alto desempenho Intel Extreme Graphics 3 e o primeiro a incorporar suporte ao novo padrão de interface PCI Express, com um canal PCI Express x1 para uso geral e um PCI Express x16 especialmente para vídeo (ver “Entrada/Saída”) diretamente ligado ao MCH.
Mas as maiores novidades estarão no ICH ou “I/O Controller Hub” (ver “Chipset”), um integrado inteiramente novo denominado ICH6/RAID (haverá uma versão mais simples, o ICH6, que não trará suporte a RAID). Ele trará integrado um canal PCI Express 1x, quatro portas padrão Serial ATA (em contrapartida, suportará uma única controladora ATA para manter compatibilidade com os HDs atuais) trará uma controladora para matriz de discos rígidos (RAID) com suporte para RAID 0, 1 e 0+1, oito portas USB 2.0 e incorporará um controlador de áudio de seis canais e alto desempenho em desenvolvimento pela Intel (codinome “Azálea”). Porém, além do suporte ao PCI Express, sua característica mais revolucionária será o suporte à rede sem fio (“wireless”) integrado no próprio chip, provavelmente padrão 802.11, ponto importante para um chipset que pretende equipar um equipamento de controle de uma “digital home” (mas o suporte à rede sem fio no chipset não liberará o usuário de usar uma placa de rede sem fio na máquina).
O Grantsdale foi concebido para ser o sucessor do i865 (Springdale), o chipset que equipa os micros de mesa da Intel. Haverá diversos modelos, uns mais, outros menos sofisticados, para atender a todos os segmentos do mercado.
A versão Grantsdale P será a padrão. Não incorporará o processador gráfico e, visando compatibilidade com o hardware atual, suportará barramentos frontais tanto de 533 MHz quanto de 800 MHz. Ainda para manter compatibilidade com o hardware atual, poderá funcionar com um único canal DDR (ou seja, não exige obrigatoriamente que pelo menos dois de seus quatro slots de memória DIMM DDR estejam povoados). Suportará até um máximo de 4 GB de memória RAM instalada. A versão G será uma versão P “incrementada” com o coprocessador Intel Extreme Graphics 3 integrado. Já a versão GV será uma versão G sem o canal PCI Express x16.
A versão GL provavelmente foi desenvolvida especialmente para a linha Celeron. Trará o coprocessador gráfico integrado mas suportará apenas dois slots para módulos de memória DIMM (o que restringe o máximo de memória instalada a 2 GB), seu barramento frontal operará apenas a 533 MHz, não suportará HT e não apresentará o canal PCI Express x16. Mas suportará o encapsulamento LGA775 (o que provavelmente indica que ainda este ano teremos um Celeron com barramento frontal de 533 MHz, encapsulamento LGA775 e suporte a memória DDR em duplo canal).
Além do Grantsdale, a Intel tem no forno mais um chipset, codinome Alderwood. Este será o sucessor do i875 (Canterwood), o “topo de linha” dos chipsets da Intel, destinado às placas-mãe de melhor desempenho. Sabe-se pouco ainda sobre este produto, previsto para ser lançado no final deste ano. Uma das novidades é que, além de todas as inovações incorporadas ao Grantsdale (como suporte a DDR II, PCI Express e LGA775) ele incorporará uma interface FireWire (IEE 1394, ver “Entrada e saída”) e seu barramento frontal suportará freqüências de até 1.066 MHz. E provavelmente será o chipset que equipará as placas-mãe destinadas à futura jóia da coroa da Intel: o microprocessador Tejas.
Basicamente, é isso. Evidentemente é bom lembrar que são previsões, cujo grau de certeza depende de dois fatores: a confiabilidade da fonte e a o tempo que falta para o lançamento. A confiabilidade da fonte é razoável: as informações foram obtidas nos mais sérios sítios da Internet dedicados à tecnologia (mas até eles podem errar). O tempo que falta para o lançamento é importante porque, mesmo durante o projeto, as idéias evoluem (por exemplo: embora se fale do Grantsdale desde o primeiro trimestre do ano passado, somente há poucas semanas a Intel mencionou a possibilidade de incorporar a ele suporte a redes sem fio). Mas vamos torcer para que não estejamos muito longe da verdade. Afinal, como disse o grande frasista americano Yogy Berra, “É muito difícil fazer previsões. Especialmente quando são sobre o futuro”.
Feliz 2004

Placas-mãe
A placa-mãe é uma placa de circuito impresso onde repousam os componentes mais importantes do computador: a CPU (ou microprocessador), a memória, os conectores onde se “espetam” as placas controladoras dos dispositivos de entrada e saída e o “chipset”, um conjunto de circuitos integrados que controla toda a comunicação entre esses componentes através do “barramento”, um conjunto de condutores elétricos (que aparecem como listras metálicas na placa-mãe) que os interliga.
Quando a Intel desenvolve uma nova CPU, um novo tipo de memória ou um novo meio de comunicação com os periféricos, é preciso projetar e fabricar uma placa-mãe com um novo chipset que suporte as novas tecnologias. É por isso que não se pode aumentar a capacidade de processamento de um computador simplesmente substituindo a velha CPU Pentium III por um reluzente Pentium 4 da última safra: o chipset da velha placa não suporta o novo processador. Na verdade, ele não pode sequer ser encaixado na placa-mãe: o velho P III vinha em uma pequena placa de circuito impresso que encaixava em um “slot” (conector) da placa-mãe, enquanto os P4 encaixam diretamente em um soquete. Nos novos Pentium 4 este soquete tem 478 pequenos orifícios para receber os 478 pinos metálicos que interligam eletricamente o microprocessador com a placa-mãe e por isso é denominado “Socket 478”. Esse tipo de montagem, ou “encapsulamento”, que usa pinos no processador que encaixam em orifícios no soquete, é conhecido pela sigla PGA, de “Pin Grid Array” (matriz de grade de pinos).
Um número tão grande de contatos exige uma grande superfície. Na verdade, quando você olha para um microprocessador moderno, o que você está vendo é seu encapsulamento, ou seja, o suporte para os seus contatos elétricos. O microprocessador propriamente dito ocupa uma área pouco maior que a unha de seu polegar, no centro do encapsulamento.
O problema é que na medida que os microprocessadores evoluem, é necessário aumentar o número de contatos elétricos entre eles e a placa-mãe. As próximas versões de CPU da Intel (codinome Prescott e Tejas) precisarão de 775 contatos, o que torna praticamente inexeqüível o uso do encapsulamento PGA.
Por isso os novos chips usarão uma tecnologia denominada LGA (de “Land Grid Array”, ou matriz de grade de campo). Um chip destes não tem pinos nem pequenas esferas para fazer contato. Tem, simplesmente, uma matriz de pontos metálicos na superfície inferior. Ela repousará sobre uma base (“land”) que terá uma matriz correspondente de contatos elétricos. Para que cada terminal do chip estabeleça uma conexão com o contato correspondente da base (que pode ser estampada na própria placa-mãe) interpõe-se entre o chip e a base uma malha de material isolante deformável, com pequenos orifícios cheios de um material condutor, também deformável, de modo que cada orifício se situe entre um ponto metálico do chip e seu contato na base. Isto feito, basta aplicar uma pressão suficiente para deformar o conjunto, estabelecendo o contato elétrico através do material condutor que preenche os orifícios. O encapsulamento LGA permite uma aproximação inferior a 1 mm entre contatos. Desta forma, pode-se estabelecer a conexão entre mais de mil contatos em uma superfície de 3 cm x 3 cm, bem menor que os soquetes atuais. A superfície base onde estão os terminais que farão a conexão com os contatos de um chip LGA de 775 terminais (os primeiros a serem usados nos microprocessadores da Intel) será conhecida por “Socket T”.

CPU
A CPU (“Central Processing Unit”, unidade central de processamento) ou microprocessador, é o componente mais importante do computador. Ela é a responsável pelo processamento de dados propriamente dito e foi quem mais evoluiu (basta lembrar que a CPU que equipava o primeiro PC, o 8088 da Intel, era quase mil vezes mais lenta que os novos Pentium 4). No que toca a ela, não há muito o que dizer. Ou melhor: há tanto, que não cabe aqui. Portanto, mencionaremos apenas o essencial para entendermos a evolução esperada para 2004.
Um dos pontos importantes é o chamado “encapsulamento”, mas esse já discutimos quando abordamos as placas-mãe. Outro, é a freqüência do FSB, ou barramento frontal, através do qual a CPU se comunica com o MCH, ou “Memory Controller Hub”, antiga north-bridge (ver “Chipsets”). Na era Pentium 4 essa freqüência atingiu o patamar de 400 MHz e chegou (até agora) ao máximo de 800 MHz. Breve chegará a 1.066 MHz (no Tejas).
Restam a considerar a espessura da camada de silício de que é feito o microprocessador, o tamanho do “cache” interno e a tecnologia HT, ou “HyperThreading”.
Microprocessadores são fabricados adicionando impurezas a uma placa de silício para gerar transistores. Quanto mais espessa esta placa, maior a resistência oferecida à passagem da corrente elétrica, o que aumenta a quantidade de calor gerada durante a operação. Mesmo tomando providências severas para manter a temperatura em limites aceitáveis (como o uso de ventoinhas e dissipadores de calor), se a camada de silício não for suficientemente fina, o calor produzido é capaz de derreter o chip. Por isso a indústria busca reduzir cada vez mais a espessura desta camada. No momento, os microprocessadores de última geração da Intel usam uma camada de silício de apenas 0,13 u (mícron, ou milésimo de milímetro). Mas esse ano ela será reduzida ainda mais, para espessuras da ordem de dezenas de nm (nanômetro, ou bilionésimo de milímetro).
Cache é uma porção de memória rápida que se interpõe entre a CPU e uma memória mais lenta, na qual se copiam trechos dessa memória mais lenta na esperança que o próximo acesso solicitado venha a estar no trecho copiado. Se estiver, a leitura é feita diretamente na cópia do cache, o que acelera consideravelmente o desempenho. Mesmo levando-se em conta que as memórias modernas, especialmente as DDR, permitem acessos extremamente rápidos (com freqüências da ordem de 400 MHz), isso pouco representa frente às freqüências internas das CPUs, da ordem de GHz. Daí a importância do cache interno, um trecho de memória situado no interior da CPU que opera na mesma freqüência interna desta CPU. Do ponto de vista de desempenho, quanto maior o cache, melhor. Atualmente, os Pentium 4 com freqüência de operação superior a 2 GHz dispõem de um cache interno de 512 KB (quilobytes). Os novos chips apresentarão caches internos ainda maiores.
Finalmente, “HyperThreading”, ou HT. Os processadores da linha Pentium são “multiescalares”, ou seja, dispõem internamente de duas linhas de processamento (“pipelines”) quase independentes. Até recentemente essas duas linhas atuavam simultaneamente, mas em conjunto, ou seja, dependiam uma da outra. Recentemente a Intel desenvolveu a tecnologia “Hyperthreading”, introduzindo alterações na arquitetura interna do Pentium 4 que tornaram essas duas linhas de processamento virtualmente independentes. O primeiro processador a usar esta nova tecnologia foi o Pentium 4 HT. O grau de independência entre “pipelines” não é absoluto, mas é suficiente para que certos softwares “enxerguem” uma CPU HT como se fossem duas CPUs independentes, simulando um sistema multiprocessado (ou seja, que usa mais de uma CPU na mesma placa-mãe). A tecnologia HT, lançada em 2003, acelera o desempenho em sistemas que utilizam multitarefa (ou seja, que rodam mais de um programa simultaneamente).
Por último mas não menos importante, há que mencionar a freqüência de operação interna da própria CPU (“core frequency”), que quantifica a rapidez com que são realizadas as operações internas. Atualmente o microprocessador de maior freqüência interna fabricado pela Intel é o Pentium 4 HT 3.2, que opera a 3,2 GHz. Mas os próximos lançamentos elevarão substancialmente esse valor.

Memórias (SDRAM, DDR, DDR II, Dual Channel DDR)
A memória principal (ou memória RAM) é um dos componentes da placa-mãe cujo desempenho é mais importante para a sensação de “rapidez” do processamento. Isso porque, embora não “processe” dados (quem faz isso é a CPU), é a principal responsável por abastecer a CPU com os dados a serem processados. E ter uma máquina com uma CPU de altíssimo desempenho na qual foram instaladas memórias lentas é como usar um motor de Ferrari abastecido a conta-gotas. Por isso o principal indicador do desempenho das memórias é o fluxo de dados, ou taxa de transferência de dados, que mede a rapidez com que a memória pode fornecer dados à CPU.
A memória principal de nossos computadores nada mais é que um imenso conjunto de microscópicos capacitores (aquilo que antigamente chamávamos de “condensadores”). Um capacitor carregado armazena um bit “um”. Um capacitor descarregado armazena um bit “zero”. E assim, carregando e descarregando capacitores, a memória armazena milhões de bytes (cada byte é formado por 8 bits).
Mas não basta armazenar. É preciso saber onde se armazenou para poder “ler” quando for necessário. Então, esse imenso conjunto de capacitores é disposto em forma de grade, ou “matriz” (na acepção matemática do termo) para facilitar a localização. E quem cuida da tarefa de ler (ou escrever) os bits solicitados pela CPU nos pontos exatos dessa matriz de capacitores é o circuito controlador da memória, que inclui um “buffer” (pequena quantidade de memória para armazenar dados temporários) ligado ao barramento que comunica tudo isso com a CPU. Esse barramento funciona em uma determinada freqüência, ou seja, um dado ritmo. Vamos tomar como exemplo o barramento que foi padrão nos PCs durante alguns anos: o barramento de 100 MHz. Enquanto funciona, ele “pulsa” cem milhões de vezes por segundo. Nesse caso, “pulsar” significa emitir um pulso de tensão elétrica que é transportado pelas linhas do barramento (um barramento é formado por diversos condutores elétricos em paralelo; cada um deles é uma “linha”). “Emitir um pulso” significa fazer a tensão subir subitamente de zero até pouco mais de três volts e cair rapidamente. Tudo isso em cerca de 10 ns (nanossegundos, ou bilionésimos de segundo), na freqüência de 100 MHz. Ou seja: a tensão sobe, se mantém alta durante 5 ns, depois cai e se mantém nula por mais 5 ns, repetindo esse ciclo indefinidamente.
SDRAM significa “Synchronous Dynamic RAM”, ou RAM dinâmica síncrona. “Dinâmica” porque cada célula de memória é constituída por um capacitor, e capacitores tendem a se descarregar sozinhos, ou mudar de estado ao longo do tempo (explicar como isso é controlado para evitar perda de dados não cabe aqui, mas existe tecnologia para isso). “Síncrona” porque trabalha em sincronia com o barramento, ou seja, cada vez que o barramento “pulsa”, o circuito controlador da memória localiza o capacitor que corresponde ao endereço solicitado pela CPU (no caso de leitura), coloca o valor lá encontrado (“um” ou “zero”) no “buffer” e o empurra pela linha do barramento (no caso de escrita, é a mesma coisa, porém no sentido oposto: o bit vai da CPU para a célula de memória). Nos micros modernos, cujos barramentos de memória consistem de 64 linhas paralelas, cada ciclo (ou “pulso”) do barramento transporta 8 bytes. Na freqüência de 100 MHz, isso corresponde a uma taxa de transferência (fluxo) de dados de 800 MB/s (Megabytes por segundo). Essas memórias são conhecidas pela freqüência do barramento onde são instaladas: PC 100 (para barramentos de 100 MHz), PC 133 (para 133 MHz) e assim por diante.
DDR significa “Double Data Rate”, ou “dupla taxa de dados”. A sigla designa um tipo de memória SDRAM que consegue dobrar a taxa de transferência de dados através do barramento usando um expediente interessante. O controlador da memória, que alimenta o “buffer”, dispõe de dois dispositivos paralelos de busca de dados na matriz. Em cada ciclo, cada um deles fica responsável pela leitura de um bit, que é transferido para o buffer. Esses bits, por sua vez, são enviados sucessivamente pela linha do barramento durante o mesmo ciclo, o primeiro quando a tensão sobe, o segundo quando ela desce. Isso, como bem diz o nome, dobra a taxa de transferência de dados. Assim, em um barramento de 100 MHz, são transferidos 1.600 MB/s. Essas memórias são conhecidas pela freqüência aparente do barramento (ou seja, pela freqüência com que elas transferem os dados, que corresponde ao dobro da do barramento). Nesse caso são denominadas DDR 200, DDR 266, DDR 333 e DDR 400 (para barramentos com a metade dessas freqüências). Para obter o fluxo de dados dessas memórias basta multiplicar o número de bytes transferidos de cada vez (oito, devido às 64 linhas do barramento) pela freqüência. Eles são, portanto, 1.600 MB/s, 2.100 MB/s, 2600 MB/s e 3200 MB/s para memórias DDR 200, 266, 333 e 400, respectivamente (os dois valores centrais são aproximados, faça as contas).
DDR II, que acaba de ser lançada (o primeiro fabricante a produzi-las, Mícron Technology, começou a fabricação industrial há menos de um mês) é a segunda geração das memórias DDR. Ela conseguirá dobrar mais uma vez a taxa de transferência de dados através de um recurso engenhoso: além do controlador de memória usar quatro dispositivos de busca para localizar valores na matriz de capacitores e depositá-los em ordem no buffer que alimenta a linha do barramento, esse buffer funcionará com o dobro da freqüência do próprio barramento. Então, ainda usando o exemplo de um barramento de dados de 100 MHz, os quatro bits armazenados no buffer serão enviados sucessivamente em um mesmo ciclo. Essas memórias, que operarão inicialmente em barramentos de 100 MHz e 133 MHz, serão conhecidas por DDR II 400 e DDR II 533 e oferecerão um fluxo de dados de 3.200 MB/s e 4.200 MB/s respectivamente.
Dual Channel DDR (ou DDR em duplo canal) é uma tecnologia que tem mais a ver com o chipset que com a memória propriamente dita. Por isso falaremos nela quando discutirmos os chipsets.

Chipsets
“Chipset” significa “conjunto de chips”. E “chip” é o nome que se dá aos circuitos integrados, conjunto de componentes eletrônicos contidos em um único encapsulamento (uma peça única) destinado a cumprir uma dada missão. Em uma placa-mãe o chipset é o responsável pelo controle de todas as ações, particularmente as relacionadas à transferência de dados e envio de comandos entre os componentes da placa. Ele é, portanto, um elemento essencial não somente no que toca ao desempenho do micro como também para determinar que tecnologias podem ser usadas na placa. Assim, a evolução dos chipsets precisa obrigatoriamente acompanhar de perto não apenas a evolução das CPUs como também das demais tecnologias usadas no micro, especialmente as envolvidas com memória (DDR, DDRII, etc.) e canais de entrada e saída (E/S ou I/O, de “Input/Output”), como USB, Firewire, PCI Express e coisas que tais, que só podem ser usadas em um micro se o chipset oferecer suporte para elas.
Antigamente o chipset bem fazia jus ao nome (“chipset” significa “conjunto de chips”): era constituído por um grande número de chips espalhados em uma placa-mãe enorme. Depois os circuitos de controle foram se integrando cada vez mais, o que reduziu a um número impressionantemente pequeno os chips de uma placa-mãe moderna. E o chamado “chipset” se reduziu basicamente a dois chips. Um deles controla a interação entre CPU e memória (incluindo memória cache) e era, até recentemente, conhecido por “north bridge”. O outro, controla a interação com os dispositivos de armazenamento e E/S e era conhecido por “south bridge”. O primeiro ligava diretamente a CPU à memória principal através de um barramento rápido, conhecido por barramento frontal, ou FSB (de “Front Side Bus”). O segundo ligava a CPU aos dispositivos de Entrada e Saída (E/S) através de um ou mais tipos de barramentos.
Depois que lançou o Pentium 4 a Intel resolveu mudar a arquitetura básica de suas placas-mãe, adotando a chamada IHA (“Intel Hub Architecture”). A “north bridge” mudou de nome: agora chama-se MCH (de “Memory Controller Hub”) e passou a controlar, além da memória, a interface de vídeo de alto desempenho (AGP 8X ou, nos futuros chipsets, PCI Express x16; ver “Entrada/Saída”) e um canal de altíssimo fluxo de dados denominado CSA (“Communication Streaming Architecture”), destinado fundamentalmente à rede de alto desempenho (“Gigabit Ethernet”). O barramento frontal (FSB) agora liga a CPU ao MCH e, nas implementações atuais mais rápidas, opera a 800 MHz, permitindo um fluxo de dados entre CPU e MCH da ordem de 6,4 MB/s (mas logo chegará a 1.066 MHz no chipset Altwood, planejado para lançamento ainda este ano). A “south bridge” passou a denominar-se ICH (de I/O Controller Hub) e controla todas as interfaces de entrada e saída, desde as novas Serial ATA até as portas USB, barramento PCI, conjuntos de discos rígidos ligados em matriz (RAID) e mais o que a criatividade da indústria inventar. E não mais se liga diretamente à CPU, mas ao MCH. Assim, de acordo com a nova arquitetura da Intel, a CPU se liga ao MCH através do barramento FSB e o MCH, por sua vez, se liga ao ICH, que controla os dispositivos de E/S.
Chipsets, enquanto no estágio de projeto, recebem nomes de código. Depois de lançados, recebem o “part number”, pelo qual será conhecido comercialmente. Assim, até o ano passado a Intel vinha desenvolvendo dois chipsets para o Pentium 4 sob os codinomes de Springdale e Canterwood. Quando lançados, em 2003, receberam, respectivamente, os “part numbers” i865 e i875 e são hoje os chipsets mais avançados fabricados pela Intel. Foram os primeiros a adotar a tecnologia IHA e introduziram o uso de dois canais de comunicação com a memória, ou seja, seus MCH (antiga north-bridge) contêm dois controladores de memória. Os slots da placa-mãe que recebem os módulos de memória são ligados a esses controladores por dois barramentos de 64 linhas cada, formando dois “canais” independentes (na prática é como se a memória principal fosse ligada à CPU por um barramento de 128 linhas). Quando se “espetam” dois módulos de memória, cada um em um slot ligado a um barramento diferente, o fluxo de dados entre a memória e a CPU se faz simultaneamente por estes canais. Essa tecnologia chama-se duplo canal, ou “dual channel”. Um chipset i875 com dois módulos de memória DDR 400, um em cada canal, é capaz de manter um fluxo de dados de 6.400 MB/s entre CPU e memória (curiosamente, a Intel, que geralmente é pioneira no lançamento de novas tecnologias, desta vez “comeu mosca”: o primeiro chipset a adotar a tecnologia de Dual Channel DDR foi o nForce2, da rival NVIDIA).

Entrada/Saída
Antigamente, Entrada e Saída resumia-se aos conectores de vídeo e teclado, uma porta paralela, duas portas seriais e praticamente nada mais que isso. É verdade que os dispositivos de entrada e saída eram essencialmente teclado, vídeo e impressora. Máquinas mais sofisticadas tinham um modem e, mais tarde, o mouse tornou-se quase obrigatório. Mas caixas de som, gravadores de vídeo, escâneres, câmaras digitais e similares, nem pensar.
Depois, as coisas complicaram. Surgiram novos dispositivos de E/S que não somente exigiram maior número de “portas” como também, e principalmente, taxas de transferência de dados muito maiores. E surgiram novos tipos de conexões para periféricos.
A começar pelo PCI, hoje já quase obsoleto: um barramento de 32 linhas operando a 33 MHz que liga a CPU aos slots onde se “espetam” as placas controladoras dos periféricos. Nesse barramento, o fluxo máximo de dados é de 132 MB/s (quatro bytes transferidos por ciclo pelas 32 linhas a 33 milhões de ciclos por segundo) que deve ser distribuído entre todos os periféricos que compartilham o barramento. Atualmente quase toda placa-mãe traz um conjunto de slots PCI. Mas hoje ele pode ser considerado obsoleto (falaremos adiante sobre quem irá substitui-lo).
Um fluxo de 132 MB/s é decididamente pouco para o vídeo, especialmente quando se pretende rodar programas como jogos, com seus efeitos tridimensionais em alta resolução. Para atender a essa demanda foi criada uma variante do barramento PCI denominada AGP (de “Advanced Graphics Performance”, ou “desempenho gráfico avançado”). O AGP, tecnicamente, não é um barramento, já que aceita apenas um periférico, o vídeo (barramentos são estruturas de interligação de diversos dispositivos). Para acelerar o desempenho do PCI, o AGP começou dobrando sua freqüência de operação para 66 MHz (AGP 2X), elevando o fluxo de dados a 264 MB/s. Depois, dobrou novamente, chegando a 133 MHz (AGP 4X), atingindo a um fluxo de 533 MB/s. Finalmente, ainda não satisfeito, dobrou o número de linhas, alcançando o formidável fluxo de 1.066 MB/s em suas 64 linhas operando a 133 MHz. Esse prodígio é conhecido por AGP 8X e seu fluxo de dados é tão elevado que não é suportado pelo ICH (I/O Controller Hub, antiga south bridge): ele, juntamente com o CSA (um canal criado especialmente para Gigabit Ethernet) e o controlador da memória (ou os controladores, nos chipsets que usam Dual Channel DDR) são os únicos canais ligados ao MCH (“Memory Controller Hub”, antiga north bridge). O resto permanece ligado ao ICH.
Mas o que é o resto?
As velhas portas serial e paralela de antigamente tornaram-se obsoletas e praticamente desapareceram. E, com o tempo, a transmissão de dados em paralelo, tradicionalmente mais rápida por usar um grande número de linhas simultaneamente, tornou-se mais lenta que a serial, que usa apenas um condutor para transporte de dados (na verdade dois, mas o segundo nada mais é que um aterramento). Isso porque nas elevadíssimas freqüências com que os dados são transmitidos hoje em dia, tornou-se mais fácil transmitir bytes empurrando depressa seus bits, um após o outro, no mesmo condutor, que fazê-los chegar ao destino exatamente ao mesmo tempo através de diversos condutores em paralelo (exatamente mesmo; nas freqüências atuais, da ordem e GHz, uma fração de bilionésimo de segundo faz diferença). Por essa razão toda transmissão de dados moderna está migrando para padrões seriais. Por isso a maioria dos periféricos modernos usa um conector USB (“Universal Serial Bus”, ou barramento serial universal), já na versão 2.0 que suporta uma taxa de transferência de 480 Mb/s (Megabits por segundo), correspondente a 60 MB/s. Ele é controlado pelo ICH. Os periféricos externos que exigem desempenho ainda melhor, como discos rígidos portáteis e câmaras de vídeo, usam o barramento conhecido como “FireWire” ou padrão IEEE1394, cuja taxa de transferência de dados da versão mais recente (conhecida por FireWire 2) atinge a 100 MB/s, o que, para um periférico externo, é uma taxa de respeito. Tanto o USB quanto o FireWire aderem ao padrão “Plug and play” (ou seja, são reconhecidos pelo sistema operacional, que carrega os drivers necessários e faz os ajustes para que o periférico seja usado sem nenhuma interferência do usuário) e suportam ligação “à quente” (“hot swapping”), ou seja, sem precisar desligar o micro.
Finalmente, também a conexão de periféricos internos está se tornando mais rápida. Discos rígidos, CD-ROMs e DVDs, que até recentemente aderiam em massa ao padrão ATA (de AT Attachment, que adota uma transferência de dados através de 32 linhas paralelas ligando o dispositivo à controladora) que chegou ao fluxo máximo de 133 MB/s e dificilmente passará deste limite, estão migrando para o modo serial, mais precisamente para o padrão Serial ATA, ou SATA, que já está no mercado e atinge a fantástica taxa de 150 MB/s na versão inicial (prevê-se que a evolução do padrão leve a taxas de transferência da ordem de 1 GB/s).
Então, basicamente, um chip ICH (antiga south-bridge) atualmente contém uma controladora de barramento PCI (apenas por questões de compatibilidade, mas que deve desaparecer breve), duas controladoras ATA clássicas (também por compatibilidade e que devem ser em breve substituídas pelas controladoras SATA) e um conjunto de portas USB. Além delas, se o fabricante assim o desejar, pode integrar diretamente no ICH uma ou mais controladoras SATA, um controlador de áudio de diversos canais, um controlador de matriz de discos rígidos (RAID, de “Redundant Array of Inexpensive Disks”), uma controladora de rede e mais o que lhe der na veneta. Inclusive um coprocessador gráfico, como a Intel pretende fazer em alguns de seus novos chipsets.
Uma das grandes novidades dos chipsets da Intel a serem lançados esse ano é o suporte ao PCI Express, o sucessor do PCI. Pelo nome, pode-se pensar que seria uma evolução do padrão PCI. Ao contrário, é algo absolutamente novo, a começar pelo fato de que, ao contrário do barramento paralelo do PCI, adota uma transmissão serial (embora possa ser configurado para funcionar como diversas conexões interdependentes em paralelo).
O PCI Express é mais uma demonstração que a conexão paralela está com seus dias contados. Trata-se de uma conexão serial que operará inicialmente em uma freqüência de 2,5 GHz (mas que foi concebida para atingir em versões futuras mais de 10 GHz). Ainda não foi lançada oficialmente, mas sabe-se que os novos chipsets da Intel (como o Grantsdale e Altwood) oferecerão suporte a ela. O PCI Express pode ser usado seja como barramento (interligando o ICH a diversos periféricos), seja como comunicação ponto a ponto, interligando apenas um chip a outro. E apresenta a possibilidade de combinar mais de um canal, que operarão em paralelo, aumentando proporcionalmente o fluxo de dados. A combinação mais poderosa é o denominado PCI Express x16, onde dezesseis canais são combinados em paralelo e pode atingir um fluxo de dados de 4 MB/s. O PCI Express x16 é considerado o sucessor do barramento AGP para controladoras de vídeo e alguns modelos dos novos chipsets da Intel (especialmente os que trarão processador gráfico integrado) trarão um destes canais para uso de vídeo.

B. Piropo