O Intel
Developers Fórum (IDF) é um evento organizado pela Intel,
que reúne em torno de si os principais atores da indústria
do hardware e software para discutir a tecnologia de ponta da informática
e telecomunicações. E onde ela aproveita não somente
para prestar contas dos progressos da tecnologia apresentada nos eventos
passados como também para revelar alguns de seus planos para
o futuro. O IDF é realizado duas vezes por ano e corre mundo.
A edição Fall deste ano ocorreu de 16 a 18
de setembro (há duas semanas, portanto) em San Jose, Califórnia,
junto à sede da empresa, e será repetida em Formosa, Índia,
Rússia e China durante este mês de outubro.
A programação do IDF consiste em diversos fóruns
paralelos onde desenvolvedores se reúnem para discutir detalhes
de determinadas tecnologias, uma grande exposição de produtos
desenvolvidos pela Intel e seus parceiros (este ano com quase duzentos
exibidores) e uma série de palestras de abertura (keynotes)
sobre temas diversos, uma ou duas por dia, realizadas na parte da manhã
e sempre apresentadas por altos executivos da Intel.
As seções técnicas dos fóruns são
tecnologia em estado bruto. Não é coisa para quem bebe
mel, é para quem come abelha. Até dá para assistir,
mas fica difícil escrever aqui sobre temas tão avançados.
Já as keynotes são mais leves. Nelas, um executivo da
empresa escolhe um assunto e discute seus rumos e o papel nele desempenhado
pela Intel. E esse ano uma das mais interessantes foi a apresentada
por Louis Burns, Vice-Presidente e gerente geral do Desktop Platforms
Group da Intel. O tema era A casa digital.
No início de sua palestra, Burns apresentou uma intrigante pergunta:
ele, cinqüentão, desde a infância acompanhava a concepção
de casa do futuro nos desenhos da Disney e, mais tarde,
nos Jetsons. Muito daquilo que era sonho naquela época já
se havia tornado realidade. Então porque a casa do futuro automatizada
dos desenhos animados ainda não havia se materializado? E porque
ele achava que agora era a hora?
Por duas razões, respondeu o próprio Burns. A primeira
é que os dispositivos domésticos e seu conteúdo
estão, afinal, se digitalizando. E a segunda é que, enfim,
a rede doméstica está se tornando uma realidade.
Segundo Burns, chegamos ao limiar em que a maior parte dos dispositivos
domésticos, dos toca-discos às câmaras
fotográficas, passando pelos telefones celulares, DVDs, câmaras
de vídeo e, muito em breve, televisões, abandonaram a
tecnologia analógica e abraçaram definitivamente a digital.
E quase todos são capazes de se comunicarem entre si e
com os computadores domésticos por um sem número
de tecnologias sem fio, desde o simples e limitado infra-vermelho até
a rede Wi-Fi, passando pelo bluetooth. A combinação desses
acontecimentos cria as três condições básicas
para que um dispositivo possa ser bem sucedido para uso doméstico:
ser simples (de preferência sem exigir nada além de conectar-se
à rede elétrica e ligar para começar
a ser usado), ser conectado (nenhum dispositivo poderá ser uma
ilha, encasulando seus dados; todos deverão se comunicar
e compartilhar informações, de preferência automaticamente)
e, finalmente, oferecer um conteúdo de primeira categoria (permitindo,
por exemplo, que você assista o último lançamento
cinematográfico em sua casa, no aparelho que desejar e quando
tiver vontade). E essas três condições estão
maduras.
Mas não basta que uma tecnologia esteja madura para acontecer.
É preciso que o mercado a solicite. E, no que toca a mercado,
Burns apresentou números impressionantes. Segundo ele, apenas
no ano passado e nos EUA, foram gastos 214 bilhões de dólares
no setor de home improvement (reformas e melhorias em residências).
Dinheiro gasto em melhorar as condições de conforto do
lugar onde pretendemos passar cada vez mais tempo. E o fenômeno
é mundial: no Reino Unido foram gastos em média três
mil e seiscentos dólares no setor e na China, quarenta milhões
de proprietários gastaram em média mil dólares
cada na reforma de suas residências o que, considerando a renda
média do país, é um número extremamente
expressivo. Portanto, ao que tudo indica, estamos próximos, afinal,
de desfrutar a casa do futuro.
O problema é que tanta interatividade e conectividade não
pode vingar sem que sejam estabelecidos rígidos padrões,
do contrário dispositivos fornecidos por diferentes fabricantes
jamais conseguirão falar a mesma língua. E
é aí que entra o Digital Home Working Group (<www.dhwg.org>),
um grupo de dezessete empresas do ramo de eletrônica doméstica
(Consumer Electronics), informática e provedores de conteúdo
concebido para desenvolver um conjunto de padrões voltado principalmente
para a interoperabilidade. O DHWG foi fundado em junho passado e conta
com a participação de gigantes do porte da Intel, Microsoft,
IBM, Sony, Sharp, Samsung e Panasonic, apenas para citar alguns.
Ao que parece, chegamos, afinal, à era da casa do futuro.
Mas o que poderemos esperar dela? Alguns protótipos de dispositivos
foram mostrados durante a palestra de Louis Burns. Como o LCD Media
Center (a ser lançado nos próximos meses pela Gateway)
que funciona como um dispositivo de entretenimento integrado,
capaz de tocar música e gravar um programa de TV em segundo plano
enquanto você disputa um jogo com um adversário remoto.
Tudo isso ao mesmo tempo. Ou a nova set-top box da Intel,
capaz de fornecer vídeo on-demand através
de uma conexão banda-larga comum. Além de um conjunto
de DMAs (Digital Media Adapters), dispositivos que permitem
transferir dados, como música, vídeo ou fotos digitais,
entre aparelhos como TVs, PCs e conjuntos estereofônicos. E você
pode até mesmo programá-los para fazer isso automaticamente:
depois de usar sua câmara digital para filmar uma tarde no jardim
zoológico com a família, basta entrar em casa para que
a câmara automaticamente seja detectada pela rede doméstica,
informe sua condição de carregada e transfira
o filme para o disco rígido de um dispositivo de armazenamento,
pronto para exibi-lo na TV digital.
Parece sonho? Talvez. Mas a tecnologia para realizar tudo isso já
existe, foi testada e aprovada. Falta agora quem invista na fabricação
dos dispositivos e seu lançamento no mercado.
E,de nossa parte, grana para comprá-los, naturalmente.
Que não há de ser pouca, diga-se de passagem.
B.
Piropo