Quando
a Internet começou a se popularizar, a única forma de
acesso era a conexão através da linha telefônica
e modem. O que, para páginas apenas de texto como as que então
se usava, era mais que suficiente. Mas, assim que foram desenvolvidos
meios de criar páginas com conteúdo multimídia
(figuras, animações, sons e mais o que a imaginação
mandar), tornaram-se evidentes as limitações da transmissão
através da linha telefônica comum, cuja taxa máxima
é limitada em 56 quilobits por segundo (Kb/s) por razões
técnicas. Era necessário um acesso mais rápido.
Surgiram então os diversos sabores de Internet rápida
(também conhecida pela infeliz expressão banda larga)
que usam conexões por cabo, satélite, rádio e ADSL
(essa última usando o mesmo par de condutores do telefone comum,
mas transmitindo em outra faixa de freqüência para escapar
da limitação dos 56Kb/s). Cada uma delas tem suas vantagens
e, sobretudo, desvantagens. Todas são relativamente rápidas,
mas nenhuma satisfaz plenamente. O que realmente gostaríamos
de ter é um acesso à Internet rápida que dispense
cabos, fios, modems, conversores ou trapizongas afins. No máximo
seria aceitável uma pequena placa controladora espetada em um
slot de uma máquina de mesa ou em uma das entradas (PC Card,
USB ou Firewire) de um micro portátil.
Pois graças ao padrão IEEE 802.16, recentemente aprovado,
e ao consórcio WiMAX, esse ideal está mais perto do que
parece. Se forem bem sucedidos, em um par de anos teremos acesso sem
fio à Internet rápida em praticamente qualquer parte,
pelo menos nos grandes centros urbanos, simplesmente encaixando uma
placa controladora WiFi, do tamanho de um cartão de crédito,
no conector PC Card de nosso micro portátil ou algo equivalente
em nosso micro de mesa. E mais nada.
O padrão 802.16, aprovado pelo IEEE (Institute for Electrical
and Electronics Engineers) em dezembro de 2001, regulamenta a tecnologia
usada para o estabelecimento de redes metropolitanas (ou MAN, de Metropolitan
Area Network) que usam Internet rápida sem fio (ou BWA,
de Broadband Wireless Access). Seu nome oficial é
IEEE Standard 802.16 - Air Interface for Fixed Broadband Wireless
Access Systems. De acordo com ele, uma estação
base 802.16 pode alimentar diversos pontos de presença
da Internet que aderem à tecnologia 802.11(padrão WiFi).
Trocando em miúdos: tome uma conexão à Internet
rápida, via cabo ou fibra ótica, ligue-a a uma estação
base 802.16 e espalhe em torno dela dezenas de pontos de presença
802.11. A estação base transmite os dados para os pontos
de presença, que funcionam como retransmissores, alimentando
computadores móveis ou de mesa que disponham de uma placa controladora
WiFi. Conexões deste tipo denominam-se ponto-para-multiponto
(point-to-multipoint). Até agora, os pontos de presença
802.11 tinham que ser alimentados por cabo ou DSL (Digital Subscriber
Line), o que exigia a implementação de uma pesada infra-estrutura
para cobrir áreas extensas, já que o alcance de um ponte
de presença WiFi se restringe a poucas centenas de metros. O
advento do padrão 802.16 permite alimentá-los através
de uma conexão sem fio, pois o alcance de dispositivos 802.16
chega a cerca de 50 Km (31 milhas) usando uma faixa de freqüência
de 2 GHz a 66 GHz para conexões que vencem obstáculos
físicos (conexões NLOS, ou Non-Line-Of-Sight)
e alcançam taxas de até 70 Mb/s. Isso é suficiente
para alimentar simultaneamente dezenas de corporações
com taxas de transmissão equivalentes a conexões T-1 (1.500
Kb/s) ou centenas de residências com taxas de transmissão
equivalentes a conexões ADSL usando um único setor de
uma estação base (estações base 802.16 geralmente
comportam seis setores).
Espera-se que chipsets (conjunto de circuitos integrados) para controlar
sistemas aderentes ao padrão 802.16 transmitindo na faixa de
10 GHz a 66 GHz estejam disponíveis até o final deste
ano (isso porque originalmente o padrão cobria apenas essa faixa
de freqüência; em janeiro deste ano foi aprovado um adendo,
denominado 802.16a, que reduz o limite inferior da faixa para 2 GHz
mas se estende somente até 11 GHz e cobre uma distância
máxima de apenas 40 Km, ajustando automaticamente a potência
da transmissão de acordo com a distância). Segundo Roger
Marks, presidente do grupo de trabalho responsável pela regulamentação
do acesso sem fio à Internet rápida em artigo no sítio
do IEEE, disponível em
<http://standards.ieee.org/announcements/80216abwa.html>,
O novo padrão 802.16a revoluciona o panorama do acesso
sem fio. Ele cobre o hiato da primeira milha, fornecendo
ao usuário um meio fácil de instalar de acesso sem fio
ao coração de redes de conteúdo multimídia.
O padrão desempenhará um papel vital em regiões
subdesenvolvidas, que não dispõem de infra-estruturas
avançadas de conexão via cabo.
Mas um padrão nada mais é que um conjunto de regras e
especificações sobre uma dada tecnologia e sua simples
existência não basta para que a tecnologia se estabeleça.
É preciso implantá-lo na prática. Uma tarefa que
exige não apenas a divulgação de suas vantagens
e mobilização da indústria como também a
execução de tarefas práticas, como a certificação
de componentes e testes que garantam a interoperabilidade de dispositivos
de diferentes fabricantes. E a indústria considera o padrão
802.16 tão importante que acaba de criar uma instituição
destinada especificamente a facilitar sua implementação.
Essa instituição é o WiMAX, ou Worldwide Interoperability
for Microwave Access Forum (Fórum Mundial de Interoperabilidade
para Acesso via Microondas). Criado em junho de 2002, o Fórum
acaba de realizar seu primeira Congresso, o 2003 Broadband Wireless
World, ocorrido na segunda semana de abril, em San Jose, Califórnia,
e apresenta uma intensa programação de eventos para o
futuro próximo (confira em
<www.shorecliffcommunications.com/>).
Segundo seus responsáveis, o Fórum foi criado com o objetivo
específico de promover o desenvolvimento em grande escala
de redes de acesso rápido sem fio operando acima de 2 GHz apoiando-se
em um padrão global e na certificação da interoperabilidade
de produtos e tecnologias. Ou seja: fazer não somente a
disseminação da tecnologia, através de sua divulgação,
mas também a parte prática da coisa, atuando como um centro
de testes e homologação de dispositivos e tecnologias.
A função do Fórum é justamente prover aquilo
que a simples existência do padrão não garante:
testes de compatibilidade e operabilidade, certificando e homologando
produtos e tecnologias que efetivamente adiram ao padrão. Segundo
artigo de Kurt Mackie publicado na Broadband Wireless Online, em
<www.shorecliffcommunications.com/magazine/news.asp?news=1544>,
o Fórum WiMAX pretende revolucionar a indústria das redes
metropolitanas rápidas sem fio fazendo por elas algo semelhante
ao que a aliança WiFi fez pelas redes locais sem fio.
O quadro de membros do WiMAX será formado por pessoas e organizações
que defendam publicamente o padrão 802.16 e pretendam fabricar
ou desenvolver equipamentos a ele aderentes. Portanto, em tese, qualquer
pessoa pode se filiar. Mas, naturalmente, hoje ele é formado
exclusivamente por empresas. Os membros atuais são Airspan, Alvarion,
Aperto Networks, Ensemble Communications, Fujitsu, Hughes Network Systems,
Intel, Nokia, OFDM Forum, Proxim Wireless Networks, Telnecity Group
e Wi-LAN. A presença da Intel, com sua recente ênfase em
produtos ligados à tecnologia sem-fio, e de gigantes do porte
da Nokia e Fujitsu, garante que a coisa vai para a frente.
Com o padrão IEEE 802.16 em plena vigência e com o esforço
do WiMAX para difundir a tecnologia subjacente, não se espante
se você desfrutar de um acesso sem fio à Internet rápida
mais cedo do que pensa. Com a disponibilidade dos primeiros dispositivos
prevista para o final deste ano e com a disposição do
WiMAX para testá-los e homologá-los, não duvido
que redes sem fio baseadas em pontos de acesso WiFi ligados a estações
base 802.16 se disseminem por todo o mundo e dentro de poucos anos esse
tipo de acesso se torne tão comum quanto o discado.
É esperar para ver.
B.
Piropo