< Jornal Estado de Minas >
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12/12/2002
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< Entradas e saídas > |
Tudo o que um computador faz é processar dados. E faz isso muito bem. O problema é que para serem processados, os dados devem ser introduzidos na máquina. E o resultado do processamento, seja ele qual for, só tem utilidade se entregue ao usuário de uma forma que ele compreenda. Portanto, por mais formidável que seja o computador, dispositivos de entrada e de saída ineficientes podem limitar significativamente sua utilidade. Em caso de dúvida, basta lembrar (se você não é desse tempo substitua o "lembrar" por "saber") como os dados eram introduzidos nos computadores d'antanho: primeiro, fechando circuitos manualmente, bit a bit, com interruptores. Depois, perfurando cartões que eram "lidos" pela máquina. E a saída eram luzes piscantes, fitas perfuradas ou páginas impressas. Computadores ostentando teclados para entrada de dados e terminais de vídeo para saída são novidades de pouco mais de trinta anos. Tendo isso em mente, não resta dúvida que o teclado foi um progresso e tanto. Mas pense um pouco: será que ele é o dispositivo de entrada ideal? Não lhe parece pouco prático que para usar rápida e eficientemente uma máquina da qual depende cada vez mais nossas atividades diárias de lazer ou profissionais, seja preciso aprender uma nova habilidade, a digitação, e praticá-la incansavelmente até chegar a um nível de proficiência razoável? E o vídeo? Seriam os volumosos monitores de raios catódicos ou as caras telas de cristal líquido a melhor forma de devolver os dados processados ao usuário? A indústria, praticamente em uníssono, acha que não. Na verdade, na medida que o tamanho dos computadores diminui (não se esqueçam que os PDAs e telefones celulares que tiram fotos, tocam música e funcionam como agendas de endereços e compromissos cada vez convergem mais para os computadores pessoais), crescem os esforços dos fabricantes para desenvolver dispositivos de entrada e saída mais práticos que a exaurida dupla teclado e vídeo. No que toca a entrada de dados, tais esforços se concentram na escrita com estilete em superfícies sensíveis e na entrada através da voz. No que diz respeito à saída, os volumosos monitores de tubos raios catódicos (CRT, de Cathode Ray Tube) e as frágeis telas de cristal líquido (LCD, de Liquid Crystal Display) tendem a ser substituídas por telas flexíveis baseadas em polímeros emissores de luz (LEP, de Light Emitting Polymer) ou superfícies recobertas com E-Ink (Electronic Ink, uma tinta com micro-cápsulas coloridas que, dependendo de sua carga elétrica, sobem à superfície ou se escondem abaixo dela, permitindo exibir informações que são dinamicamente atualizadas; veja artigo "How electronic ink will work" em <www.howstuffworks.com/e-ink.htm>). Ou ainda diodos orgânicos emissores de luz (OLED, de Organic Light Emitting Diode), mais baratos e menos exigentes no que toca à energia. É só uma questão de tempo. O curioso
é que apesar dos ingentes esforços da indústria
para eliminar o teclado, um estudo do grupo Gartner prevê que
daqui a dez anos mais de 95 % dos dados continuarão a ser introduzidos
nos computadores através dele e do mouse. Somente 5% usarão
as novas tecnologias, então já maduras e plenamente disponíveis
(veja artigo de Alexander Linden em Começando pelos micros tipo tablet, um híbrido de PDA e notebook. Foram recentemente lançados no mercado, mas a Microsoft já criou um sistema operacional (o Windows XP Tablet Edition) e desenvolve aplicativos otimizados para essas maquininhas, como o One Note sobre o qual falamos semana passada. Esses micros receberão predominantemente dados manuscritos em sua tela sensível que serão imediatamente digitalizados no formato texto usando a cada vez mais avançada tecnologia de reconhecimento de escrita. É claro que, na medida que essa tecnologia evolui, os PDAs também tenderão a apelar para ela. Além disso, já que tanto os tablets como a maioria dos PDAs serão capazes de gravar mensagens de voz ditadas pelo usuário em arquivos de áudio, a evolução cada vez mais rápida da tecnologia de reconhecimento de voz permitirá sua digitalização em formato texto. Quando isso ocorrer, os principais dispositivo de entrada de texto nos micros móveis serão o estilete e o microfone. Adeus teclado... Mas a nova
tecnologia não beneficiará apenas os micros móveis.
Os de mesa também farão jus seu quinhão. Tanto
assim que na última Comdex Fall o próprio Bill Gates anunciou
o Smart Display, disponível nos EUA já no próximo
mês. A coisa funciona assim: imagine que você possa pegar
a tela de seu micro de mesa e transportá-la consigo. Esse é
o Smart Display: uma tela de cristal líquido que ao invés
de se comunicar com o micro pelo clássico cabo de monitor o faz
através da tecnologia sem fio baseada no protocolo 802.11, ou
Wi-Fi. A vantagem é que, além da tela poder ser movida,
sua superfície é sensível e funcionará também
como dispositivo de entrada usando a mesma tecnologia dos tablets (veja
artigo de David Berlind em Então ficamos assim: os velhos e pesados computadores de mesa, com seus mouses e teclados, existirão ainda por muito tempo e provavelmente receberão a maior parte da imensa massa de dados que a sociedade do futuro processará. Mas quando forem ultrapassadas as atuais dificuldades para reconhecer escrita cursiva e voz (hoje é necessário pronunciar as palavras uma a uma, destacadamente, em ambiente com pouco ruído de fundo) e as novas tecnologias permitirem o uso de telas flexíveis e baratas, você vai poder ler em seu computador móvel as notícias do dia no ônibus, à caminho do trabalho, ditar para ele as anotações que achar pertinentes e, antes de saltar em seu ponto, simplesmente dobrá-lo e enfiá-lo no bolso como uma revista delgada. E prepare-se, pois isso deverá ocorrer em menos de duas décadas. B. Piropo |