Sítio do Piropo

B. Piropo

< Jornal Estado de Minas >
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08/08/2002

< Serial ATA >


Computadores comunicam-se com periféricos através de "interfaces" ou "portas". Há dois tipos: paralela e  serial. Nas portas paralelas os dados fluem byte a byte entre o micro e o periférico. Como um byte é formado por oito bits, micro e dispositivo são ligados por cabos com pelo menos oito condutores, um para cada bit (condutores adicionais para aterramento, alimentação e outras finalidades elevam para 25 o número de vias dos cabos chatos usados nas portas paralelas padrão). Já nas portas seriais os dados fluem bit a bit, um após o outro. Na origem, cada byte é "desmontado" (ou "serializado") e os bits que o formam são transmitidos seqüencialmente. No destino, são recebidos e "remontados" (ou "desserializados") para reconstituir o byte original. Para isso bastam dois condutores: um para transportar os bits, outro para funcionar como terra (também aqui há condutores auxiliares, e as interfaces seriais padrão usam cabos com nove condutores). Agora responda rápido: qual delas transporta dados mais rapidamente?

A paralela, claro, que envia um byte inteiro sem precisar desmontá-lo. Por isso ligações deste tipo têm sido usadas nos discos rígidos desde os albores da informática. Hoje a interface de HD mais moderna e popular, a ATA (de "AT Attachment"), emprega uma ligação paralela que, por ser capaz de transportar mais de um byte de cada vez, usa cabos com quarenta condutores (recentemente os cabos ATA passaram a ter 80 condutores para aumentar o aterramento).

O problema é que a ATA já está na praça há mais de dez anos e nessa indústria isso é uma eternidade. Resultado: por mais hercúleos que tenham sido os esforços para acompanhar a evolução dos demais componentes (inclusive e principalmente a CPU), o descompasso é evidente. E olhe que a evolução foi grande: começou com a ATA 33, que elevou a taxa de transferência de dados para 33 Mbytes/s, passou a aceitar novos dispositivos, como drives de CD e fitas, evoluiu para ATA 66, ATA 100 e recentemente a ATA 133, com taxa de transferência máxima de 133 Mbytes/s (por enquanto suportada apenas pelo chipset VIA KT133 e por um único fabricante de HD, a Maxtor). Mas o mercado quer mais e a ATA não pode ir muito além. Ao que parece ela chegou ao fim da linha.

Por isso sua sucessora foi lançada segunda-feira da semana passada, durante o Intel Developer Forum (IDF) em San Jose, Califórnia. Embora concebida para ser muito mais rápida, ela mantém praticamente todas as características da velha ATA, é tão compatível com ela que o sistema operacional e os aplicativos nem ao menos notarão a diferença e deverá conviver harmonicamente com a ATA nos mesmos micros por pelo menos dois anos (a tendência, depois disso, é ocupar seu lugar). Porém, por estranho que pareça, adota uma transmissão serial de dados. Por isso chama-se Serial ATA, ou simplesmente SATA.

A versão 1.0 do padrão SATA foi lançada no IDF pelo Serial ATA Working Group (<www.serialata.org>), criado para desenvolver, divulgar e implementar o padrão por Dell, IBM, Maxtor, Quantum, Seagate e dezenas de outros (baixe as especificações em <http://www.serialata.org/cgi-bin/SpecDownload.cgi>). Ainda no IDF a Seagate exibiu o protótipo de seu primeiro drive SATA com taxa de transferência de 150 Mbytes/s e promete despejá-lo no mercado nos próximos quatro meses. A Adaptec criou uma placa controladora SATA capaz de suportar até seis unidades, que estará no mercado ainda neste trimestre. A VIA prometeu incorporar o suporte ao padrão em seus chipsets até o final deste ano e a Intel garantiu fazer o mesmo no início do próximo. A Western Digital prometeu lançar um modelo Caviar SATA de 200 Mb e a IBM e Maxtor deverão lançar os seus até o final do ano.

Mas afinal, o que é o padrão SATA e porque adotou a transmissão serial? Bem, a transmissão paralela efetivamente é mais rápida, mas tem lá seus inconvenientes: necessidade de sincronia na transmissão dos oito bits de um byte, cabos mais pesados e sujeitos a interferências, hardware mais caro. E a evolução da capacidade do processamento não somente aumentou a freqüência dos barramentos (rapidez com que os pulsos que transportam os dados fluem através dos condutores) como também tornou a serialização e desserialização muito mais rápidas. Por isso a tendência agora são as ligações seriais (está aí o barramento USB que não me deixa mentir).

No mais, a SATA foi concebida primordialmente para dispositivos de armazenamento internos, ou seja, destinados a guardar dados e que moram no interior do gabinete, como discos rígidos, drives de CD, CD-R, CD-RW, DVD e fita. Em princípio, escâneres, câmaras digitais e impressoras não serão suportados. Segundo o padrão, a instalação será simples: os dispositivos SATA são obrigatoriamente do tipo "plug and play", não usam jumpers nem resistores de terminação, sua tensão de alimentação é 3V (contrapondo-se aos 5V do padrão atual), cada dispositivo se conecta diretamente à controladora (dispensando a ligação tipo master/slave da interface ATA), podem atingir capacidades muito maiores e suportam "Hot swapping" (ligação "à quente", ou seja, conecta-se o dispositivo sem desligar o micro).

Para transportar dados, em vez do tradicional cabo chato de 80 vias e cinco centímetros de largura da ATA, o cabo SATA tem apenas quatro condutores: um par para transmissão, outro para recepção. Isso reduz sua largura para pouco mais de cinco milímetros. O comprimento máximo permitido também aumenta para cerca de um metro (o ATA está limitado a menos da metade disso). Sendo mais fino, flexível e longo, o cabo SATA pode se acomodar junto às paredes do gabinete sem obstruir o fluxo de ar das ventoinhas, evitando o superaquecimento do microprocessador, um fator importante nos dias atuais.

E olhe que tudo isso são características da versão 1.0 do padrão, liberada semana passada. Mas o grupo de trabalho não está dormindo: já está em desenvolvimento a versão 2.0, muito mais rápida (a taxa máxima ainda não foi definida, mas seguramente será bem maior que o limite de 600 Mbytes/s da versão 1.0), que virá à luz antes do final do ano.

Em suma: o padrão SATA é mais rápido, suporta maiores capacidades, é mais simples e (dentro de algum tempo será) tão ou mais barato que o atual ATA. E logo invadirá o mercado. Portanto, é só uma questão de tempo. Eu ainda não sei quando, mas garanto que há um dispositivo SATA em seu futuro. É esperar para ver.

PS: Em <www.bpiropo.com.br>, seção "Escritos/Artigos no Estado de Minas", podem ser encontrados atalhos ("links") para as páginas citadas e para o correio eletrônico do autor..

B. Piropo