Sítio do Piropo

B. Piropo

< Jornal Estado de Minas >
Volte
18/07/2002

< Sem Teclado e Sem Fio >


Artigo publicado no suplemento Informátic@ do Estado de Minas em 18/07/2002

Em uma abafada manhã de junho, aguardando uma conexão na sala de embarque do aeroporto JFK em Nova Iorque, o senhor a seu lado comenta que provavelmente estará ainda mais quente em Miami, onde uma reunião de negócios o espera. Subitamente um "bip" emana de sua bagagem. Ele pede licença e, em vez do indefectível celular, saca da pasta um estranho objeto retangular, parecido com uma prancheta portátil porém mais grosso, com uma tela brilhante e colorida onde pisca um alerta. Indiscreto, você arrisca um olhar de esguelha e observa que o cavalheiro, usando um estilete que desembainhou da moldura do objeto e faz deslizar sobre a tela, constata que os dados solicitados à matriz no Rio de Janeiro acabam de chegar. Você olha em torno e não nota quaisquer fios, cabos ou liames com seja lá o que for: o objeto repousa, sobranceiro e isolado, sobre o braço do cavalheiro que, tocando com o estilete em um ícone faz aparecer na tela uma planilha eletrônica. Enquanto você, compelido pela curiosidade, observa suas ações agora descaradamente, ele abre uma apresentação de slides, a atualiza com dados copiados da planilha, grava novamente o arquivo e o anexa a uma mensagem de correio eletrônico com cópias para o escritório de Miami, onde a apresentação estará pronta para projeção quando ele lá chegar, e para a sede no Rio, onde uma equipe de assessores verificará se algo deve ser acrescentado ainda a tempo de avisá-lo antes da reunião. Expede ambas as mensagens e, de quebra, consulta sua caixa postal para verificar se há algo urgente, visita um sítio com informações climáticas para confirmar se estão corretas suas suspeitas sobre o calor em Miami, desliga a trapizonga, coloca-a novamente na pasta, reitera as desculpas pela interrupção e prossegue a conversa como se nada houvesse ocorrido.

Essa, definitivamente, não é uma cena de um filme de ficção científica. Na verdade, poderia ter ocorrido ontem mesmo e exatamente no local e da forma como foi descrita. Pois é fruto da união de duas tecnologias já disponíveis, maduras e em pleno uso: os "tablets PC" e as redes sem fio "WiFi". Que, com justa razão, foram a palavra de ordem da TechXNY, novo nome da velha PC Expo, cuja última edição foi realizada em Nova Iorque há duas semanas (veja artigo de Dan Farber em
<www.zdnet.com/anchordesk/stories/story/0,10738,2872622,00.html>).

Um "tablet PC" parece um micro portátil tipo "notebook". Na verdade há dois formatos, e um deles é justamente o de um notebook cuja tampa pivota em torno de um eixo de tal forma que, ao girar 180 graus e ser fechada, encobre o teclado e exibe a tela sensível ao toque, como o
Acer Travelmate 100
(<www.pcmag.com/article2/0,4149,3332,00.asp>)

e o
HP Meritage
(<www.pcmag.com/article2/0,4149,3336,00.asp>).


O outro tipo lembra mais uma prancheta de mão, já que não tem teclado - embora incorpore conectores para seu uso opcional, além de mouse e monitor. Há diversos, como o
Fujitsu Stylistic LT P-600
(<www.pcmag.com/article2/0,4149,3334,00.asp>)
e o
Toshiba Paperback Tablet
(<www.pcmag.com/article2/0,4149,3324,00.asp >).


E o número de modelos deverá aumentar exponencialmente com o lançamento do Windows XP Tablet Edition, o novo sistema operacional da MS exclusivo para tablets, cuja versão beta foi apresentada na TechXNY e que estará nas prateleiras no início de novembro.

A grande sacada dos tablets é dispensar o teclado: o dispositivo básico de entrada é a tela, onde se escreve com o estilete (é claro que seu sucesso depende da precisão com que o software reconhece os caracteres manuscritos, mas os resultados iniciais parecem satisfatórios - veja artigo de David Berlind em
<http://techupdate.zdnet.com/techupdate/stories/main/0,14179,2872631-1,00.html>).
Por enquanto usados principalmente em aplicações corporativas para coleta de dados de campo, com o novo sistema operacional da MS logo os tablets se tornarão micros de uso geral.

Já a WiFi é uma das tecnologias usadas pela cada vez mais extensa rede dos WISPs (Wireless Internet Service Providers, ou provedores de serviço de internet sem fio) que atualmente cobre praticamente todo o território americano e boa parte do brasileiro (embora aqui ainda não usem WiFi, acrônimo de Wireless Fidelity, o nome pelo qual se tornou conhecido o padrão IEEE 802.11b que usa ondas de rádio na faixa de freqüência de 2,4 GHz para transmissão de dados). Para usufruir da WiFi basta dispor de um adaptador de rede aderente ao padrão (que geralmente é do tipo PC Card, para micros portáteis) e estar próximo a um "ponto de presença" de um provedor ao qual se tenha acesso. A grande jogada é que, embora o alcance de um ponto de presença seja limitado, seu número tem crescido exponencialmente nos últimos meses
(veja artigo de Arik Hesseldahl em
<www.forbes.com/best/2002/0624/webextra.html>).
Hoje há milhares deles espalhados por todo o território americano
(faça uma busca na página da WiFinder, em
<www.wifinder.com/index.php>
e comprove que o exemplo lá de cima não é fictício: apenas no aeroporto JFK, há dois pontos de presença).
Como grande parte destes pontos são mantidos pelos "wireless hot spot aggregators"
(veja lista em
<http://techupdate.zdnet.com/techupdate/stories/main/0,14179,2872448,00.html>),
empresas que, mediante o pagamento de uma taxa, permitem "roaming", pode-se ter acesso a qualquer provedor internet a partir de qualquer um desses pontos.

Micros portáteis, sem teclado, permanentemente conectados à internet sem fios ou cabos! Eu havia planejado fechar esse artigo com um comentário sobre as imensas possibilidades abertas pela combinação dessas tecnologias e o notável grau de liberdade que, juntas, oferecem a seus usuários. Mas será preciso? Afinal, sua perspicácia não é menor que a minha e sua imaginação certamente é maior. Dê asas a ela e veja como é formidável (e assustadora) a perspectiva que esse infinito grau de conectividade móvel abrirá para todos nós.

PS: no Sítio do B. Piropo (<www.bpiropo.com.br>), seção "Escritos", você encontra atalhos ("links") para os artigos citados e para o correio eletrônico do autor.

B. Piropo