< Mulher de Hoje >
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02/1996
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< Um Livro Diferente > |
Bill Gates é o dono da Microsoft, a mais importante das empresas que desenvolvem programas de computador. Você já deve ter ouvido falar nele: bilionário ainda na casa dos vinte, hoje com pouco mais de quarenta é o homem mais rico do mundo. Pois Gates escreveu um livro. Chama-se "The road ahead" (a tradução em português recebeu o nome de "A estrada do futuro") e versa sobre a imensa influência que a tecnologia, sobretudo a tecnologia da informática e telecomunicações, exercerá sobre nossas vidas no futuro próximo. O livro é interessante, embora não chegue a ser imperdível. Para quem se interessa pelo tema, vale a pena ler. E para quem escreve sobre o assunto, como eu, é uma obrigação. A questão é que traduções não me agradam. Nada contra os tradutores, muito pelo contrário: é justamente por saber como é dura sua faina que penso assim. Pois se fazer uma boa tradução é uma tarefa dificílima, fazer uma tradução perfeita é obra impossível. Por isso, sempre que posso, recorro ao original. Atitude que, neste caso, provou ser duplamente vantajosa. Porque comprando o original de "The road ahead" não somente evitei ler a tradução como também ganhei um CD-ROM. Que vem encartado apenas na edição em inglês e se mostrou tão interessante que é ele, e não o livro, o assunto desta coluna. O programa que vem com o CD-ROM oferece quatro opções. Uma delas, "Connect", traz os programas necessários para acessar a Internet, a grande rede mundial que é um dos principais assuntos do livro (atenção: o CD-ROM traz apenas os programas; para efetivamente acessar a rede ainda é preciso um "provedor", ou seja, um computador remoto para ligar seu micro via modem e permitir que você se conecte com a rede). Outra, "Ask Bill", exibe trechos em vídeo de uma entrevista do próprio Bill Gates respondendo a perguntas tipo "por que você resolveu escrever um livro agora?", ou "como as novas tecnologias vão afetar nosso lar?". A terceira, "Future", é um interessantíssimo conjunto de três filmetes mostrando a concepção da Microsoft sobre as novas tecnologias em ação no lar, no escritório e na escola, em algum dia da próxima década. E finalmente a quarta, "The road ahead", é o próprio livro. Todo, completo, na íntegra. Quer dizer: o CD-ROM que vem encartado no livro dispensa o livro. Na verdade, não somente o dispensa como o supera. E de longe. Veja porque. Um clique na opção faz com que uma imagem do livro apareça na tela. Uma imagem perfeitamente legível, aberta no índice. Clique com o mouse em qualquer capítulo e imediatamente abre-se o livro na página correspondente. No alto aparece uma janelinha com duas setas e um pequeno retângulo. Clicando na seta para a esquerda passa-se para a página anterior, na outra seta para a página seguinte e no retângulo faz-se abrir uma janela onde, caso aquela página contenha algo particularmente interessante, pode-se gravar uma "marca" para voltar a ela mais tarde. Ou pode-se ainda entrar com o número de qualquer página ou marca feita anteriormente e saltar diretamente para lá. Tudo bem, até aí nada de mais, talvez apenas uma forma original e interessante de folhear um livro. Mas não tão interessante a ponto de fazer com que a "leitura" do CD-ROM seja mais ilustrativa que a do livro. O responsável por isso é o abundante uso que o CD-ROM faz do hipertexto. Um assunto sobre o qual já falei aqui mesmo há algum tempo, mas ao qual vale a pena retornar, particularmente usando um exemplo soberbo como o CD-ROM do livro do Bill Gates. Seguinte: quantas vezes você está lendo um livro e, a páginas tantas, surge uma referência a uma pessoa ou um fato sobre o qual gostaria de ter mais dados? Por vezes a informação é tão essencial para a compreensão do que se está lendo que é preciso interromper a leitura para consultar uma outra publicação, dicionário ou enciclopédia, antes de prosseguir. Por vezes (na verdade, pelo menos no meu caso, na maioria das vezes), por maior que seja a necessidade de fazer a consulta, a preguiça é ainda maior e segue-se em frente deixando aquela lacuna aberta em nosso conhecimento. É claro que isto também acontece lendo-se o livro de Gates. E até com mais freqüência que usualmente, pois o livro, embora dirigido a leigos, discorre sobre informática e telecomunicações, temas que estão se desenvolvendo tão rapidamente que é impossível reter na memória tudo o que é preciso saber sobre todas as referências do livro. E, se você estiver lendo o livro impresso, não tem outro recurso senão a enciclopédia. Mas se estiver lendo o livro em CD-ROM, a coisa muda de figura. Tudo o que você precisa saber sobre qualquer referência está ao alcance da mão. Ou melhor, do mouse. Porque todos os termos técnicos, nomes de pessoas, empresas, referências a fatos históricos e demais citações, estão assinalados com uma marca semelhante à que aparece quando se passa um destes marcadores de tinta transparente sobre uma palavra em uma página impressa para destacá-la. Pois isto é o hipertexto. Aquelas marcas indicam que ali há um "link", uma ligação com algo que fornece mais dados sobre a expressão destacada. E basta um clique sobre um destes destaques para abrir uma janela com informações adicionais sobre o assunto. E quase todas são ilustradas com imagens ou fotos e muitas enriquecidas com um audio ou vídeo sobre o tema. Alem de uma pequena lista de assuntos correlatos intitulada "see also" (veja também), na qual mais um clique leva a uma nova explicação. Uma coisa fantástica. Realmente impressionante. Se Bill Gates quis usar o próprio CD-ROM do livro como um exemplo da maneira pela qual as novas tecnologias vão afetar as tarefas do dia-a-dia, realmente marcou um ponto. Porque trata-se de uma forma diferente, revolucionária, eficiente e ilustrativa de ler um livro. Um jeito extraordinariamente mais eficaz que o velho hábito de folhear um livro impresso. Só tem um defeito: um livro assim, não dá para ler na cama. Nem no banheiro...
B. Piropo |