Sítio do Piropo

B. Piropo

< Mulher de Hoje >
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10/1995

< Usabilidade >


A informática pessoal, essa que emprega os microcomputadores ou "computadores pessoais", é uma atividade surpreendentemente nova. De fato, nunca deixo de me espantar quando me dou conta da imensa influência que essas máquinas exercem na vida do cidadão comum e de como elas estão mudando o perfil da sociedade moderna. Afinal, o primeiro computador pessoal da IBM, o micro que deflagrou todo esse processo, foi lançado há menos de quinze anos. Em 12 de agosto de 1981, para ser exato.

Hoje, pouquíssimos são aqueles que não estão de um jeito ou de outro envolvidos com a informática. Mesmo os que não são usuários. Pois até o velho senhor que diz detestar computadores e garante jamais se meter com uma dessas máquinas diabólicas que ainda chama de "cérebro eletrônico", quando entra sábado à noite em um caixa automático para sacar os trocados do cinema está operando um microcomputador sem se dar conta disso. E nem os que se recusam terminantemente a qualquer contato direto com a informática escapam dos contatos indiretos nos mais diversos graus. Pois quase não há mais teatro em que a emissão de bilhetes e escolha da poltrona não seja feita em um computador nem restaurante que não seja controlada por um micro.

Há dez anos atrás, quando ainda nem se sonhava com o tamanho da revolução informata que vivemos hoje, computadores eram raros e caros. Havia poucos e os que havia só eram encontrados nas universidades e escritórios das grandes empresas. Um ou outro excêntrico tinha um trambolho daqueles dentro de casa. Que, além de excêntrico, tinha que ser alguém com uma razoável capacitação técnica para poder se entender com a máquina. E com uma boa grana sobrando no banco para poder comprá-la.

Hoje, as coisas mudaram. Ao mesmo tempo em que as máquinas se tornaram cada vez mais poderosas, as técnicas de produção em grande escala fizeram seus preços caírem verticalmente. É verdade que um micro decente não custa menos que mil e tantos reais, uma nota de respeito. Mas se levarmos em conta o que um bicho desses é capaz de fazer, não há pechincha maior. Porém a maior revolução não se manifestou no aumento da capacidade da máquina nem na queda dos preços. O grande salto foi na redução do grau de conhecimento necessário para usar os micros.

Se você acompanha essa coluna há algum tempo, notou que aqui esse é um tema recorrente. E tem razão. Talvez, de fato, eu esteja me tornando repetitivo. Mas o fato é que não posso me furtar a voltar ao assunto depois de ter experimentado o Windows 95, a nova versão de sistema operacional lançada recentemente pela Microsoft.

Microsoft, para quem não sabe, é a maior empresa mundial de software, ou seja, de produtores de programas para computador. E sistema operacional é um programa que controla a máquina. É principalmente através do sistema operacional que o usuário se entende com o micro. Nos sistemas operacionais de antigamente, isso era feito por meio de comandos digitados através do teclado. Cada comando, que o usuário tinha que decorar laboriosamente, correspondia a uma ação. Cada ação diferente, um comando distinto. Para os não especialistas, operar um micro assim era um sacrifício medonho.

Depois apareceram as interfaces gráficas. Não há mais comandos. As ações são representadas por figuras desenhadas na tela (por isso o nome "interface gráfica") e o usuário controla a máquina movendo sobre a mesa de trabalho um dispositivo chamado mouse com dois ou três botões. Na tela, um ponteiro ou cursor acompanha os movimentos. Mover o cursor para uma figura e apertar um dos botões é o que basta para disparar a ação correspondente. Como as figuras são descritivas (o desenho de uma impressora representando a ação de imprimir um documento, por exemplo), fica muito mais fácil e intuitivo operar um micro assim que digitando comandos decorados.

Pois Windows 95 é uma interface gráfica que foi desenvolvida visando, sobretudo, facilitar o uso do computador. O que hoje, por si só, já se tornou uma ciência. Que emprega os "laboratórios de usabilidade".

Um laboratório de usabilidade é uma sala isolada, com pelo menos uma das paredes formada por um desses vidros transparentes de um lado e espelhado do outro. Nela, usuários de diversos níveis de conhecimento operam os novos programas e sistemas operacionais e têm todos os seus movimentos observados por especialistas e registrados em vídeo. O objetivo é testar os programas. A cada usuário cabe a missão de executar uma série de tarefas em uma ordem predeterminada e sem ajuda externa. Quando o índice de fracassos na execução de uma dada tarefa é muito alto, os técnicos partem do princípio que o erro é do programa, não do usuário. E modificam o programa, reduzindo o grau de complexidade das ações necessárias para executar a tarefa. Windows 95 foi desenvolvido assim. E tendo em mente, principalmente, o usuário pouco experiente.

Um exemplo: os técnicos concluíram que talvez a maior dificuldade dos principiantes é descobrir por onde começar na primeira vez que se confrontam com um micro. Pois bem: imediatamente após ligar a máquina, o usuário de Windows 95 se depara com uma tela quase toda em branco. Nela, sobressai uma barra que se estende por toda a faixa inferior da tela com um único ponto em destaque. Naquele ponto está escrito "Iniciar".

Não é preciso ser um gênio para descobrir que, para iniciar os trabalhos, tudo o que se tem que fazer é mover o cursor do mouse para aquele ponto e apertar um botão.

Daí para a frente, o resto é fácil...

B. Piropo