< Mulher de Hoje >
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09/1995
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< A Batalha > |
Se você está lendo esta coluna muito provavelmente se interessa por informática. Sendo assim, é quase certo que já tenha ouvido falar de Windows 95, a nova versão do sistema operacional da gigante da informática chamada Microsoft. Uma versão lançada no final do último mês de agosto cujo objetivo é dominar de uma vez por todas o mercado de sistemas operacionais dos computadores da linha PC. Micros da linha PC são os compatíveis com o primeiro computador pessoal da IBM, o IBM PC lançado em 1981. De lá para cá as coisas mudaram um bocado. A IBM perdeu a liderança do mercado de microcomputadores e seu projeto foi imitado por centenas de outros fabricantes - uma prática perfeitamente legal, já que o primeiro PC foi montado usando componentes eletrônicos disponíveis no mercado, o que impediu a IBM de patenteá-lo. E, sobretudo, os micros evoluiram tanto que hoje pouco têm em comum com o velho PC lançado há quase quinze anos. Não obstante, essas máquinas ainda são conhecidas pelo mesmo nome: “linha PC”. Já sistema operacional é um programa. O que o torna diferente dos demais é que sua função é justamente controlar o funcionamento da máquina enquanto os outros programas estão sendo executados. E é justamente isso que o torna tão especial, a ponto de justificar uma guerra renhida pelo domínio do mercado. Pois talvez você encontre um computador sem um editor de textos, um programa que serve para escrever. Ou sem uma planilha eletrônica, usada para fazer cálculos. Ou sem um programa gráfico, para desenhar. Mas jamais encontrará um micro sem um sistema operacional. E a razão e simples: como é o sistema operacional que controla a máquina, sem ele o computador simplesmente não funciona. Portanto, cada microcomputador vendido representa um freguês para o sistema operacional. E hoje calcula-se que existam em todo o mundo duzentos milhões de micros só da linha PC. Um mercado potencial cujo tamanho bem justifica a ferocidade da batalha. Batalha que está sendo travada pela Microsoft, que lançou o Windows 95, e pela IBM, que vem há pouco mais de três anos lutando para aumentar as vendas do OS/2, o seu sistema operacional e o concorrente direto de Windows 95. Além desses dois, há ainda o DOS, o sistema operacional encontrado na maioria dos micros da linha PC. Mas que não é páreo nem para o OS/2 nem para o Windows 95. Alguma coisa soou estranho nessa frase aí de cima? Estranhou o fato do sistema operacional que está instalado na maioria das máquinas não ser um contendor de peso na batalha pelo mercado? Mas isso se explica facilmente: o DOS só é mais numeroso porque chegou primeiro. Foi ele o sistema operacional desenvolvido para aquele PC da IBM fabricado há quinze anos. O que garantiu sua popularidade. Mas acontece que o DOS não conseguiu evoluir tão depressa quanto os micros que controla. Máquinas que se tornaram cada vez mais rápidas e mais poderosas e incorporaram recursos que o DOS não pode explorar - e por isso tem seus dias contados. O que o OS/2 e Windows 95 estão disputando é justamente o cetro de sucessor do DOS. A IBM saíu na frente e lançou o OS/2 em 1991. Um excelente sistema operacional. Capaz de controlar a máquina com segurança enquanto permite que diversos programas sejam executados ao mesmo tempo. Uma jóia do ponto de vista técnico. Já a Microsoft somente lançou seu Windows 95 esse ano. Sim, é claro que antes desse lançamento o Windows já estava na versão 3 - mas cuidado: enquanto Windows 95 é de fato um sistema operacional, que efetivamente controla o micro, as versões anteriores eram apenas interfaces gráficas que precisavam do DOS para rodar. A diferença parece sutil, mas na verdade a distinção entre Windows 95 e seu antecessor direto, Windows 3.11, como se costuma dizer no nordeste, é da água para o vinho: embaixo de Windows 3.11 quem controla a máquina ainda é o velho DOS com todas as suas limitações. Já Windows 95 toma conta do micro e dispensa o DOS. Pois é isso. A batalha começou e está cada vez mais acirrada. E depois dessa coluna, talvez você já possa entender mais algumas de suas nuances. Quem é o melhor? Bem, depende do que se considere “melhor”. Comparando exclusivamente do ponto de vista técnico, provavelmente o OS/2 ganharia. Mas não há só questões técnicas a considerar. Há outros detalhes, tão ou mais importantes. Por exemplo: facilidade de uso. Ou, talvez o mais decisivo, disponibilidade de programas. Pois não adianta ter o melhor sistema operacional do mundo se não há programas que rodem nele. E sob esse aspecto, Windows 95 vai ganhar de goleada: embora recém lançado, já há quase tantos programas populares desenvolvidos especialmente para ele quantos foram desenvolvidos para o OS/2 em seus mais de três anos de vida. Quem vai ganhar? Não sei. Mas o tempo dirá: daqui há um ano já se saberá com certeza. Porque isso, no fundo, quem decide não é a empresa que desenvolveu o sistema operacional. Nem mesmo a qualidade do produto. Porque esse é um campo em que nem sempre vence o melhor. Vence aquele que mais rapidamente cai nas graças do usuários. Porque, no fundo, quem decide mesmo somos nós. O mercado.
B. Piropo |