< Mulher de Hoje >
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07/1995
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< Photo-CD > |
Já lá se vão muitos anos. Tantos, que eu ainda era casado. Exatamente há quanto tempo, onde foi e quem eram os personagens da história, não lembro. Mas a situação em si mesma foi inesquecível. Tanto, que apesar dos anos, ainda conservo viva a lembrança de alguns detalhes. Era uma festa. De aniversário, quem sabe. Ou, mais provavelmente, bodas de qualquer coisa. Pela idade dos donos da casa, talvez de prata. E estava ótima: bebida boa e farta, salgadinhos saborosos e, no geral, pessoas inteligentes para conversar - o que nem sempre é comum nessas festinhas. Em suma: um ambiente agradável. Pelo menos até que os donos da casa resolveram compartilhar com os convivas os prazeres de sua recente viagem que, se bem me lembro (as imagens da torre Eiffel e de uma pirâmide perpassam minha mente quando penso no assunto) foi à Europa e Oriente Médio - que, naqueles dias, ainda vivia em paz. E resolveram fazê-lo exibindo as fotos que tiraram durante a viagem. Se fossem fotos impressas, tudo bem: sempre se acha um jeito de escapar sentando- se a um canto em boa companhia, recebendo as fotos quando chega a nossa vez de examiná-las, olhando-as com ar de enlevo e admiração e passando-as adiante com um sorriso de aprovação enquanto se conversa sobre algo mais agradável. Mas não: a sessão de tortura era daquelas que não se podia fugir. Era uma sessão de slides. Quem sabe aquele não foi o real (e secreto, naturalmente) motivo da festa? Porque eles tinham tudo preparado: carousel, projetor e tela. Montaram toda aquela parafernália, apagaram a luz e projetaram o primeiro slide, tirado ainda no Galeão (o Galeão velho, vejam vocês) antes do embarque. E lá fomos todos através de meia Europa e Oriente Médio em uma sessão de slides comentada e discutida. Na base de cinco a dez minutos de comentários esclarecendo os menores detalhes de cada slide, consegui resistir bravamente até a Alemanha, se bem me lembro o terceiro pais a ser visitado. Foi quando retrocederam dois ou três slides e travaram uma longa discussão para dirimir uma dúvida de magna importância que não havia sido esclarecida quando o slide foi exibido pela primeira vez. Pois não ficara claro se o embrulho que o velhote tinha nas mãos era ou não um pacote de lingüiça. Para mim, foi demais: desisti de manter quaisquer aparências, entreguei os pontos, estiquei as pernas, ajeitei-me na poltrona e mergulhei decidida e resolutamente no sono mais profundo que o ambiente permitia. Voltei para casa ouvindo as queixas de minha mulher. Dormir, tudo bem, admitia ela. Afinal, a coisa foi de uma chatice insuportável. Mas precisaria eu roncar tão alto? O que fez essa história tão antiga aflorar das profundezas de minha mente foi um artigo que acabei de ler dando conta que a Eastman Kodak liberou o padrão Photo- CD, ou seja, as demais empresas já podem usá-lo sem pagamento de royaltiesE o que é o padrão Photo-CD? Bem, trata-se de um método de codificar imagens desenvolvido pela Kodak. Você envia seu filme para processamento e, ao invés de receber um conjunto de fotografias impressas ou de slides que podem ser projetados, recebe um CD-ROM. Que, introduzido no drive de CD-ROM de seu microcomputador e usando um programa especialmente desenvolvido, exibe as imagens das fotos na tela de seu monitor. O algoritmo para digitalizar as imagens (ou seja, a forma de transformá-las em algo que pode ser manejado por um computador e exibido no monitor), patenteado pela Kodak, agora pode ser usado por outras empresas. Isso significa que você poderá, se quiser, editar suas fotos diretamente do CD-ROM onde elas foram gravadas usando programas gráficos de terceiros. O artigo informa que, com a abertura do padrão para outras empresas, a tendência é que ele venha a se disseminar rapidamente. E se torne uma opção tão comum quanto as fotos impressas e os slides. Quer dizer: brevemente (o artigo prevê que isso venha a acontecer até o final desse ano), será tão fácil ter suas fotos “reveladas” em um CD- ROM quanto tê-las impressas em papel fotográfico ou em slides A vantagem? Bem, a maior é que, usando programas gráficos disponíveis no mercado, qualquer pessoa poderá editar as fotos, retocando-as à vontade. Além disso, para exibi-las, basta um micro com drive de CD-ROM - um aparelho que está se tornando cada vez mais banal. E que, mesmo hoje, é mais fácil encontrar em nossas casas que um projetor de slides. Portanto, nos tempos do Photo-CD, aquela torturante sessão de slides da viagem dos velhotes muito provavelmente seria exibida em um monitor de computador. Mas isso é vantagem? Não creio. Menos chata, com certeza por isso ela não se seria. A principal diferença é que, sendo exibida em um monitor de micro, poderia acontecer com as luzes acesas. E eu sempre tive dificuldade de dormir em ambientes demasiadamente claros....
B. Piropo |