Sítio do Piropo

B. Piropo

< Mulher de Hoje >
Volte
11/1994

< Realidade Virtual >


Ultimamente fala-se muito em realidade virtual. Volta e meia aparece uma reportagem sobre o assunto. Há quem diga que é a última maravilha da informática. Mas afinal, o que é mesmo a realidade virtual?

Em tese, realidade virtual é um mundo que não existe, um ambiente “virtual”, que permite que você nele penetre e o sinta como se fosse real. O ambiente é simulado por um computador. Quando você se move, tem a impressão que está se deslocando dentro do ambiente inexistente, que reage a seus movimentos. O panorama muda de acordo com seus deslocamentos. Parece um sonho de ficção científica, mas já existe.

A coisa dá a impressão de ser milagrosa, exige um bocado de tecnologia, mas é fácil entender como funciona. Imagine um ambiente qualquer, como a sala de sua casa, com paredes, portas, janelas, móveis e objetos. Agora, imagine que você tirou diversas fotografias das paredes e móveis, de ângulos diferentes, de forma que nenhum canto deixou de ser fotografado. E que essas fotografias foram “digitalizadas”, ou seja, transformadas em cenas que podem ser exibidas na tela de um computador.

Agora, imagine um computador que, em vez de mostrar as imagens em uma tela comum, mostre-as em duas pequenas telas montadas no interior de um capacete parecido com aqueles usados pelos pilotos de Fórmula Um. Só que este capacete não tem viseira: no lugar dela, ficam as telas, de forma que apareçam bem diante de seus olhos. E imagine que esse capacete tenha “sensores”, ou dispositivos capazes de detectar os movimentos de sua cabeça. Os sensores são ligados ao computador, de modo que quando você vira a cabeça para a direita aparece nas telas a parede da direita e se você girar completamente a cabeça para trás aparece a parede situada em suas costas. Pronto: essa é a base da realidade virtual.

Evidentemente a transição entre “paredes” não é brusca, trocando repentinamente toda a imagem de uma parede por outra: as mesmas técnicas usadas para fazer animações em computador (como as empregadas em alguns comerciais de televisão e na abertura do “Fantástico”) permitem criar uma transição suave, com as imagens acompanhando o movimento de sua cabeça. Pronto: agora você pode examinar toda a sua sala sem estar dentro dela: olhe para os lados e veja as paredes, móveis e quadros. Olhe para cima, e lá está teto e o lustre. Olhe para baixo e veja o tapete e o assoalho. Carregue o computador para a Indochina, bote o capacete e sinta-se em casa em sua sala virtual.

Agora, pense um pouco e imagine a imensa gama de possibilidades da realidade virtual. Que tal aprender a dirigir em um automóvel virtual com banco, volante e pedais exatamente iguais aos de um carro de verdade, ligados ao computador? Você bota o capacete e sai pelas estradas virtuais fazendo barbeiragens virtuais até adquirir a prática real, necessária para se sentar ao volante de um veículo de verdade. Com a vantagem que acidentes virtuais não matam nem dão prejuízos.

As aplicações são enormes, desde a arquitetura, onde projetos inteiros podem ser examinados por fora e por dentro antes de serem construídos, até a medicina, astronomia, meteorologia e mais o que a imaginação permitir. Mas por enquanto ela está sendo mais empregada mesmo é para jogos. Onde você trava terríveis batalhas com inimigos virtuais em fantásticos mundos virtuais usando incríveis armas virtuais.

E se você perder, garanto: a morte virtual não dói nada.

PS: Há meses escrevi sobre a NCF, uma instituição americana sem fins lucrativos que recebe computadores usados como doação e os repassa graciosamente a instituições de ensino e recuperação de deficientes. E manifestei a esperança de que algo semelhante ocorresse por aqui. Pois acabo de receber uma carta da Associação Cristã de Doentes e Deficientes Físicos, uma instituição que mantém o Centro de Prevenção e Educação do Deficiente Físico Cristiano Hack Cardozo, em Foz do Iguaçu. Segundo a carta, trata-se de uma entidade sem fins lucrativos, de utilidade pública, que presta atendimento clínico e educacional nas áreas pedagógica e fisioterápica a crianças portadoras de deficiências físicas e motoras graves. Na carta, a Presidente da ACDD, Sra. Geni Hack Cardozo, relata que a instituição necessita de equipamentos para continuar sua obra, inclusive computadores para serem usados em cursos profissionalizantes para pessoas deficientes. Eu não conheço a instituição, mas pelo tom da carta me pareceu gente séria e dedicada. Se você puder ajudar, entre em contato com a ACDD. O endereço é Rua Mandaguari 18, Jardim Santa Rosa, CEP 85890, Foz do Iguaçu, PR. E o telefone é (0455) 73-2649. Quem sabe você se livra daquele computador obsoleto que só serve para ocupar espaço e, de quebra, ainda faz uma criança feliz. .

B. Piropo