Sítio do Piropo

B. Piropo

< Mulher de Hoje >
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07/1994

< Vamos à Feira? >


Lá pelo final de julho, fui à feira.

Grande coisa, provavelmente murmurará você com um muxoxo. Afinal, ir à feira não deve ser novidade para quem me lê aqui na Mulher de Hoje. Nem razão para alvoroço. Muito menos para artigo em revista.

Ah, mas acontece que essa foi uma feira diferente. Tinha nome: chamava-se FENASOFT. E, como você já deve ter percebido, era uma feira de informática. Uma enorme feira de informática que se realiza em São Paulo mais ou menos nesta mesma época todo ano. Uma feira e tanto.

Segundo os organizadores, a ela compareceram mais de meio milhão de pessoas. Talvez seja exagero. Mas, mesmo que não fossem tantos, com certeza era gente a dar com o pau. A ponto de engarrafar o trânsito em toda a região do Anhembi, o enorme centro de exposições onde ela se realizou. E engarrafar o próprio Anhembi. Engarrafar de gente: em um dado momento me vi preso em meio à multidão, mal podendo me mexer. Um negócio impressionante. Acabei por me deixar levar pela onda de gente, desemboquei em uma ala lateral e consegui com alguma dificuldade chegar à sala de imprensa, meu destino, abrigo e oásis. Coisa de doido...

Ao contrário da feira que a maioria de vocês está acostumada a ir e dura um dia por semana, esta dura a semana toda. E não pode ser diferente: para quem pretendia percorrê-la toda, parando em cada estande e se inteirando do que ali está exposto, a semana não deu. Foram mais de mil e quinhentos expositores, expondo e vendendo de tudo. De tudo que tinha alguma coisa a ver com informática, bem entendido. E era coisa á beça.

Mas não estavam apenas expondo. Pois, exatamente como em qualquer feira que se preze, havia muita gente vendendo. E vendendo muito. Muitíssimo: ainda segundo os organizadores, apenas durante a feira vendeu-se mais de duzentos milhões de reais. E, como neste tipo de feira não se vende apenas nela, mas se fecham negócios para o ano todo, estima-se que o total de vendas chegou a mais de três bilhões de reais. Isso mesmo: Bi. Bilhões. Um bocado de grana. Mas também há que se considerar que lá não se vendia bananas e alfaces. Vendia-se produtos de informática. Desde disquetes e acessórios que custam alguns poucos reais até microcomputadores que fizeram alguns fregueses desembolsarem uns tantos milhares de reais.

Mas, apesar das vendas, não se vai a uma feira destas apenas para comprar. Vai-se, sobretudo, para ver.

Eu mesmo não comprei nada. Ou quase nada: comprei um porta disquetes e uma ou outra bugiganga, que não dá para resistir imune àquele paraíso do consumo. Mas vi um bocado de coisas. E fiquei impressionado.

Mas o que me impressionou não foram os produtos. Havia de tudo, é bem verdade, muita coisa boa e alguma coisa nova. Mas eu sou macaco velho e tinha acabado de voltar da COMDEX, outra feira de informática anual que se realiza nos Estados Unidos, onde havia visto em primeira mão a maioria das novidades da FENASOFT. Portanto, não era fácil encontrar algo em exposição capaz de impressionar a este rato de feiras. O que me impressionou foi o público. A quantidade e o tipo de gente que lá encontrei.

Explico: como disse, por dever de ofício sou um velho freqüentador destas feiras. Aqui mesmo no Brasil vou a pelo menos três por ano, das grandes. Fora as menores, regionais, menos votadas. Portanto, sei o que esperar delas. Inclusive que tipo de gente encontrar pelos corredores. Quase sempre gerentes de informática das empresas, vetustos senhores engravatados, e um mundo de jovens programadores ou operadores de micros. Gente versada nos mistérios da informática, profissionais do setor.

Mas esta FENASOFT foi diferente. Havia gente de todo o tipo. De todas as idades. E de todos os sexos, inclusive mulheres. Muitas mulheres. Algumas foram para acompanhar os maridos ou namorados, mas a maioria foi mesmo para ver as novidades e comprar.

E nem todos os presentes eram profissionais. Na verdade, acredito que nesta feira os profissionais eram minoria. A maior parte, a maioria, era formada por micreiros, gente como a gente, usuários comuns, domésticos. Gente que tem ou pretende ter um micro em casa. Os que tinham estavam se inteirando das novidades. Os que pretendiam, estavam escolhendo o seu. Ou comprando ali mesmo. Não tenho os números, mas a julgar pelo movimento dos estandes que vendiam micros, a maioria deles oferecendo financiamento, venderam-se muitas máquinas nesta feira.

Ao fim e ao cabo, pensando bem, não me parece justo dizer que esta feira não teve novidades para mim. Teve sim, e uma novidade das mais auspiciosas. Pois, pelo que percebi do tipo e quantidade do público presente, parece que, afinal, a classe média brasileira descobriu a informática...

B. Piropo