< Mulher de Hoje >
|
||
06/1994
|
< Profissão De Fé > |
Já convivo com vocês, sempre nesta mesma página, por muitos meses. Mas acho que ainda não me apresentei. Então, lá vai: Meu nome é esse mesmo: Piropo. Aliás, meu sobrenome. O “B” é a inicial do primeiro nome, que não uso quando “falo” de informática. Uma forma de separar as coisas, já que não sou um profissional do ramo. Na verdade, sou engenheiro e trabalho em um campo que nada tem a ver com informática. Uma caso de dupla personalidade. Como engenheiro, costumo abreviar o Piropo, que se reduz a um simples “P” no meio do nome. Quando me meto a escrever ou falar de informática, faço o contrário: uso o Piropo e abrevio o resto. De uma certa forma, funciona, mas não como o previsto: quando alguém me chama de Piropo, sei que o papo é sobre informática. Quando me chamam pelo primeiro nome, trata-se de assuntos gerais. Quando me chamam pelo último, estranho, já que esse quase ninguém usa fora um ou outro amigo de muitos anos. A informática surgiu na minha vida meio que por acaso. Ou, talvez, por necessidade: já quarentão, achei que ou me informava sobre o tema - que nem sequer existia quando eu era estudante - ou não poderia continuar sendo engenheiro. Como não pensava em me aposentar, resolvi comprar um micro e ver se o bicho era tão feroz quanto diziam. Não era: pelo contrário, era mansinho. Tão manso que me cativou. Acabei me viciando e ele, além de uma excelente ferramenta de trabalho, tornou-se uma fonte de prazer. Descobrir como aquela máquina funcionava, desvendar seus segredos, testar programas, enfim, “mexer” com o computador passou a ser meu hobby e ocupar minhas horas livres. O fato de ser desquitado, morar sozinho, só estar com a namorada nos fins de semana e não ter que ouvir aquele clássico “meu bem, você vai ficar aí a noite toda”, naturalmente, ajudou. Com isso, acabei por conhecer um pouco do assunto. E fui convidado a escrever sobre. Não escrevo só aqui na Mulher de Hoje. Mantenho ainda uma coluna semanal no Caderno de Informática do jornal O Globo, onde também escrevo artigos diversos sobre assuntos específicos - sempre no campo da informática - e colaboro esporadicamente em algumas revistas. Até recentemente mantinha um quadro regular em um programa de televisão especializado em informática. Hoje, regularmente, só aqui na Mulher de Hoje e no Globo. De vez em quando dou cursos e participo de debates ou seminários sobre o assunto. A informática continua me absorvendo e o hobby acabou por quase virar uma segunda profissão. Atualmente sou meio engenheiro, meio informata. Agora mesmo estou acabando de regressar dos EUA, onde fui participar da Comdex, a maior feira de informática de lá, e dentro em breve parto para o Chile, para uma consultoria na minha especializão de engenheiro. Mas sempre mantendo a informática como hobby: no dia em que virar obrigação, quebra-se o encanto, torna-se profissão e perde a graça. Então vou ter que procurar outro hobby e parar de escrevinhar essas mal traçadas. E dificilmente outro me encantará tanto quanto este. É curioso o poder da mídia. Quando nasceu o B. Piropo, o outro já era um profissional de engenharia com muitos anos de estrada. Lecionava em um curso de pós graduação, tinha dezenas de trabalhos técnicos publicados, fazia consultoria especializada no país e no exterior. Até que era respeitado e relativamente conhecido, mas apenas no meio técnico de sua especialização. Pois bem: em menos de quatro anos, o Piropo engoliu o pobre engenheiro. Tornou-se conhecido, angariou simpatias, dizem que tem até fã clube. A troca dos nomes, que visava separar as coisas, manter o informata em segundo plano e preservar o engenheiro como profissional, não resultou: virou segredo de polichinelo, todo o mundo que conhece o engenheiro acabou por tomar conhecimento da outra personalidade, muito mais conhecida e absorvente. É comum alguém, de repente, juntar os nomes e perguntar ao engenheiro: “Mas você é o Piropo, aquele que escreve sobre informática?”. Não há remédio senão confirmar. Aí, recebo um curioso olhar de admiração e o tratamento imediatamente muda, como se eu tivesse me transmutado em outra pessoa. Coisas da mídia... Por que essa inesperada apresentação? Ah, só para nos conhecermos melhor. E para explicar porque vocês me encontram regularmente aqui. Pois acontece uma coisa interessante: as pessoas que conhecem o Piropo não estranham que ele seja um profissional de outra área - embora o contrário não seja verdadeiro. Nem quando tomam conhecimento que eu “aparecia” na televisão em um programa de informática. E muito menos quando sabem dos cursos, aulas, palestras e seminários. Mas tem que ver o ar de espanto quando menciono esta coluna... “Você escreve na Mulher de Hoje? Mas sobre o que?”, perguntam, espantadíssimos. Ora, sobre informática, naturalmente, respondo eu. Queriam que fosse sobre que? Culinária? E ninguém entende nada. “Mas por que logo na Mulher de Hoje?”, indagam sempre, com um profundo ar de estranheza. Eu mesmo já estive pensando no assunto. Por que logo na Mulher de Hoje? Bem, pelo dinheiro, certamente que não. Quem pensa que, no Brasil, escrever torna alguém rico e famoso, está no mínimo cinqüenta porcento errado. Então, por que escrever sobre informática logo na Mulher de Hoje? Escrevo porque acho que devo. Porque a informática, cedo ou tarde - e, pelo que me é dado perceber, mais cedo do que tarde - fará parte da vida de todos nós. E vocês precisam se preparar para ela, sem achar que é um “bicho de sete cabeças”. E descobrir que micros, ao invés de uma máquina complicada e ameaçadora, podem ser uma fonte de prazer, como tem sido para mim nestes últimos anos - mesmo não sendo um profissional da área. Mas não é só isso. Há ainda uma outra razão que se sobrepõe a todas as outras: escrevo aqui porque isso me dá prazer. Porque gosto. Razão mais que suficiente para se fazer qualquer coisa...
B. Piropo |