< Mulher de Hoje >
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03/1994
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< O Micro Doméstico I > |
Mês passado prometi divulgar os resultados de uma pesquisa sobre uso doméstico de micros. A pesquisa foi simples, nada profissional: limitei-me a mandar uma mensagem pública nos dois BBS que acesso perguntando aos usuários o que fazem com os micros que têm em casa. Valia qualquer coisa, com uma única exceção: não me interessavam usos profissionais, apenas aquilo que se poderia classificar como uso doméstico. A análise estatística das respostas também foi elementar: limitei-me a verificar qual a porcentagem de cada uso sobre o total de usuários que responderam. E desconsiderei, evidentemente, a porcentagem correspondente à “acesso à BBS”, já que a pesquisa foi feita via BBS e o resultado não seria representativo da média dos demais usuários. A adesão, se não entusiástica, pode ser considerada muito boa: sessenta e quatro usuários responderam. Vocês vão reparar que a soma das porcentagens encontradas é superior a 100%. Nada a estranhar: micros são instrumentos versáteis e em geral são usados para mais de um fim. O uso mais comum não foi nada surpreendente e confirma um fato mais que sabido por qualquer micreiro que se preze: embora os leigos pensem que computadores são máquinas destinadas essencialmente a trabalhar com números, sua grande serventia é lidar com palavras. Tanto que três em cada quatro micros (72%) usam editores de texto para quase tudo que antigamente era feito com máquinas de escrever, desde relatórios, lista de compras, cartas, trabalhos escolares até uma infinidade de outros usos. E três porcento deles foram usados para escrever livros. Em segundo lugar vem algo que também só vai surpreender aos leigos: jogos de computador, usados em quase dois de cada três micros (63%). As respostas me levam mesmo a suspeitar que essa porcentagem é, na verdade, muito superior e os números só não são maiores por vergonha de confessar que aquela máquina aparentemente tão sisuda é utilizada para uma finalidade tão pouco séria, já que em algumas das respostas o uso de joguinhos de computador veio camuflado com o nome de “lazer”. Em seguida, ocupando um surpreendente terceiro lugar, o controle de despesas, feito por uma em cada três máquinas (33%). Achei surpreendente porque, afinal, os micros são ferramentas extraordinárias para esse fim e eu esperava que a porcentagem fosse bem maior. Afinal, com uma planilha eletrônica pode-se fazer qualquer coisa em matéria de controle financeiro, inclusive acompanhamento e análise de investimentos com simulação de cenários futuros. Depois, uma utilização que já foi bem maior nos tempos pioneiros da informática e cuja redução só mostra que os micros estão cada vez mais se tornando ferramentas de uso geral: menos de uma em cada três máquinas (31%) são usadas para programar. Antigamente, se você quisesse um programa mais especializado, tinha que desenvolvê-lo na marra. Agora pode-se encontrar programas para praticamente qualquer fim, por mais exótico que pareça. E quase ninguém mais desenvolve seus próprios aplicativos. Em quinto lugar, empatados e utilizados por pouco mais de uma em cada cinco máquinas (22%), banco de dados domésticos e artes plásticas ou gráficas. O primeiro me surpreendeu por ser pequeno: computadores se prestam maravilhosamente para classificar coisas (de fato os usuários catalogam desde de discos, fitas, estoque da dispensa e livros até coleção de latas de cerveja) e eu esperava que um número maior fosse usado para isso. O segundo, por ser grande. Talvez porque eu tenha incluído nesta rubrica desde a editoração eletrônica até a contemplação de imagens gráficas. Sei que alguns trêfegos usuários colecionam fotos digitalizadas de mulher pelada e, confesso, hesitei em incluir esse afazer tão pouco nobre em rubrica tão pomposa. Mas afinal pesquisa é pesquisa e eles não mencionaram que tipo de imagem colecionam. Depois, algo que me surpreendeu pela pequena porcentagem: apenas uma em cada oito máquinas (12,5%) usam o micro para armazenar agendas de endereços e telefones. Mas acredito saber a razão. De fato, o micro é ideal para esse fim, já que não somente a consulta é rápida e fácil como também, caso o micro esteja conectado a um modem (e todos os que responderam à pesquisa, evidentemente, estão), ele pode até mesmo discar o número desejado. Porém nem sempre o micro está ligado na hora em que se precisa consultar a agenda. E, nesse caso, é muito mais rápido recorrer à agendinha que mora ao lado do telefone que ligar o micro, carregar o programa e consultar a agenda “eletrônica”. Finalmente, menos de uma em cada dez máquinas (8%) usam o micro para enviar e receber faxes e para acessar contas bancárias. Ambas as porcentagens são pequenas, mas explicáveis. No caso do fax, para enviá- los o micro é ideal, pois permite criar o documento no editor de textos e transmiti-lo via Fax sem imprimir. Por outro lado, para receber é um problema, já que o micro deve permanecer ligado o tempo todo esperando um fax. No caso dos bancos, o problema não está no micro, mas nos bancos: são poucos os que permitem movimentar a conta via modem. O que é uma pena: faço assim toda a movimentação de minha conta no Unibanco, um dos pioneiros nessa área, incluindo transferências de fundos, aplicações e pagamentos. Talvez o maior conforto que o micro me proporciona. Esses foram os usos mais freqüentes, mas não os únicos. E justamente nos menos freqüentes estavam os mais interessantes. Falaremos deles mês que vem. Vocês vão ver: com um micro pode-se fazer cada coisa...
B. Piropo |