Sítio do Piropo

B. Piropo

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01/1994

< Um Eletrodoméstico >
< Como Outro Qualquer...
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Microcomputadores estão cada vez mais baratos. Hoje, pode-se comprar um micro incrivelmente poderoso por pouco mais de mil dólares. Tudo bem: afinal, mil dólares são uma grana respeitável. Mas quando se fala de microcomputadores é sempre bom lembrar que há poucos anos os preços andavam na estratosfera: a mesma máquina que hoje se compra com mil verdinhas custava mais de cinco mil há cinco ou seis anos.

Muito bem: então micros estão mais baratos. E daí? Bem, como sabem os economistas. quando os preços caem as vendas sobem. O que significa que os micros estão se popularizando. E estão mesmo: repare como essas máquinas, até algum tempo encontradiças apenas nos escritórios, estão começando a invadir as residências. No Brasil, essa tendência ainda é tímida, mas já perceptível. Em outros países é evidente: nos EUA - principalmente nos últimos anos, justamente devido à queda dos preços - são poucas as casas onde não há um micro. As condições sociais e econômicas são diferentes, bem sei, mas de uma forma ou de outra tudo que acontece por lá acaba se refletindo por aqui em menor escala. Não se trata de colonização cultural (ou será que se trata?) mas tem sido assim desde os eletrodomésticos da primeira metade do século até o videocassete dos anos oitenta. Portanto, pelo andar da carruagem, o micro está prestes a adquirir o status de um eletrodoméstico como outro qualquer.

Até aí, tudo bem. Mas há eletrodomésticos e eletrodomésticos. E, afinal, um micro é um micro e uma geladeira é uma geladeira. Sei que a afirmativa parece um tanto acaciana, mas faz sentido: quando a dona de casa recebe sua primeira geladeira, tudo o que tem a fazer é ligá-la na tomada e, no máximo, ajustar o controle da temperatura interna. Ninguém precisa fazer um curso, ler um livro ou fazer qualquer esforço mental para aprender a usar uma geladeira. Na maioria dos casos, não é necessário nem ao menos ler o manual. Já o micro...

Pois é: micro é diferente. A começar pelo elementar: tenho certeza que dona de casa alguma iria se perguntar para que precisaria de uma geladeira, o que fazer com ela e como iria lhe ser útil. Isso todo mundo sabe. Mas e o micro? Para que diabos serviria um trambolho daqueles dentro de casa? Iria ele de fato prestar algum serviço? Seria mesmo útil?

Bem, são questões evidentemente válidas. Pelo menos para as pessoas que não têm, nunca tiveram nem jamais lhes passou pela cabeça que um dia haveriam de ter um micro. Já para outras nem tanto. Eu, por exemplo, tenho em casa micro e geladeira. E se, seja lá por que razão, for obrigado a optar por apenas um deles, não titubeio um único segundo: fico com o micro. Da forma como organizei minha vida, posso perfeitamente passar sem geladeira. Com sacrifício, é verdade, bebendo água de moringa e me privando de algum conforto, mas continuarei levando minha vida sem grandes percalços. Já sem micro, acho que não dá mais. Ou melhor: dar, com certeza daria - afinal, vivi mais de quarenta anos sem ele. Mas depois que aprendi a usá-lo para facilitar a vida, ter que me privar dele seria um suplício e implicaria em reorganizar tão radicalmente meu modo de vida, que não tenho opção: sem dúvida nenhuma, viver sem micro nem pensar.

Ah, dirão vocês, isso não é surpresa: afinal, você é um profissional da informática, portanto não é de estranhar que o micro seja assim tão importante em sua vida. Pois se enganam. A partir da própria premissa: por mais que isso possa ser surpreendente, eu não sou um profissional da informática. Na verdade sou um engenheiro cuja atividade profissional nada tem a ver com computadores. Nada mesmo. Quando uso o computador profissionalmente - o que nem é assim tão comum - é para realizar tarefas que poderiam perfeitamente prescindir dele. E prescindiram mesmo durante décadas: quando comprei meu primeiro micro, já era um profissional com mais de um quarto de século de experiência.

Então, não se trata de usar o micro em casa profissionalmente. Me refiro ao uso doméstico, aquele que visa facilitar as tarefas do dia a dia. Só um exemplo: meu banco tem um serviço através do qual, usando meu micro, meu modem e meu telefone, posso consultar e movimentar minha conta corrente sem sair de casa. Vejo o saldo, transfiro dinheiro da conta para a poupança e vice-versa, faço depósitos em contas de terceiros em outros bancos e mais umas tantas coisas. Tudo isso a qualquer hora do dia ou da noite, daqui mesmo desta cadeira de onde digito estas mal traçadas - no micro, evidentemente. Só isso, é um conforto inestimável.

Pois é isso. Mês que vem, discutiremos este tipo de utilização do micro. E depois, quem sabe, se vocês se interessarem e resolverem comprar um, como fazer para aprender a usá-lo sem precisar de um mestrado em ciências da computação.

Até lá.

B. Piropo