< Mulher de Hoje >
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11/1993
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< Falando com o Micro > |
Na última coluna discutimos uma tecnologia que permite entrar dados no micro escrevendo com uma caneta especial diretamente sobre a tela. Chama-se reconhecimento ótico de caracteres e serve para substituir o teclado. A vantagem é evidente: para usar um micro, ninguém precisaria aprender a "datilografar" no teclado: bastaria escrever sobre a tela, já que escrever é algo que a maioria de nós sabe fazer desde criança. E se você está se imaginando debruçada sobre o micro, tentando desajeitadamente escrever com uma caneta na superfície vertical do vídeo, pegou o bonde errado: os computadores que usam essa nova tecnologia, os chamados "pen computers", são mais ou menos do tamanho de um livro de bolso e usam uma tela plana de cristal líquido, sensível ao toque da caneta ótica, onde se pode escrever confortavelmente como se escreve, por exemplo, em um caderno. O reconhecimento ótico de caracteres facilita a comunicação com a máquina, mas ainda não é o ideal. E a razão é simples: escrever sobre a tela com uma caneta é mais fácil que digitar em um teclado, mas com certeza não é a maneira mais intuitiva de se comunicar. E qual é a maneira mais intuitiva de se comunicar? Ora, conversar, naturalmente. A forma ideal de trocar informações com a máquina seria, portanto, conversar com ela como os intrépidos astronautas do filme "2001 - Uma odisseia no espaço" conversavam com seu rebelde computador HAL. Será que, algum dia, isso será possível? Certamente que sim. Na verdade, por surpreendente que pareça, já é quase possível hoje mesmo. "Quase" porque ainda não se pode interagir com o micro com a mesma fluência e facilidade com que os heróis do filme conversavam com HAL. Mas já pode conseguir algo parecido: fazer com que a máquina obedeça a um número limitado de comandos emitidos em voz alta. A tecnologia utilizada para isto chama-se "reconhecimento de voz". E não é tão complicada como parece. Afinal, nada mais simples que transformar sons em impulsos elétricos: qualquer microfone vagabundo faz justamente isso. E, para um computador, impulsos elétricos são fáceis de manejar. Pense bem: uma palavra dita em voz alta nada mais é que um conjunto de sons encadeados, emitidos em uma determinada cadência, com intensidades e frequências características. Se estas intensidades e frequências forem traduzidas em impulsos elétricos por um microfone, elas podem ser transformadas pelo micro em uma "onda" que oscila conforme o som varia. Cada palavra, portanto, corresponderá a um formato de onda, uma "figura" que o computador pode comparar com um conjunto de outras figuras armazenadas internamente e descobrir com qual delas mais se parece. Este conjunto de "figuras" corresponde às palavras que representam os comandos que o micro entende e formam seu "vocabulário". Pronto: você diz uma palavra em voz alta, o computador captura o som através do microfone, destrincha a forma da onda correspondente, compara com seu vocabulário interno e, se a palavra combina com um comando, executa-o. E para isso nem é preciso usar aparelhagens mirabolantes: basta uma placa de som, destas usadas para joguinhos de computador e que se encontram em qualquer loja de informática, um microfone e um programa capaz de receber a forma de onda da palavra dita em voz alta e comparar com aquelas armazenadas em seu "vocabulário" de comandos. Programas deste tipo já existem, e seus preços variam de acordo com a complexidade e extensão de seu vocabulário. Tudo muito simples e disponível no mercado. As vantagens são evidentes - e muito particularmente para os deficientes físicos, que não podem usar o teclado. Mas as desvantagens também são óbvias: o micro só "entende" um conjunto limitado de palavras. E somente reage se a palavra dita em voz alta corresponder a uma delas. Evidentemente, a este tipo de interação não se pode chamar, propriamente, de uma "conversa". Afinal, isso qualquer cãozinho bem treinado sabe fazer: obedecer a comandos ditos em voz alta. Tipo "Senta, lulú". E lulú senta. Mas não responde. Tenho uma amiga cujo marido costumava conversar com seu cachorro. Volta e meia lá estava ele trocando ideias com o bicho. Ela achava tudo meio esquisito, mas não ligava. Um dia, me confidenciou: "Olha, enquanto ele estiver só falando com o Rex, não me incomodo. Mas, se um dia o bicho responder, pedi que me avise, para interná-lo em uma casa de repouso". E seu micro? Estaria condenado a se comportar eternamente como o Rex, apenas reagindo a seus comandos? Ou será que um dia ainda irá lhe responder, sem que você corra o risco de internação? Bem, esse é justamente o assunto do mês que vem...
B. Piropo |