Sítio do Piropo

B. Piropo

< Mulher de Hoje >
Volte
10/1993

< O Micro do Futuro II >


Mês passado, especulando sobre os computadores do futuro, mencionamos duas novas tecnologias: reconhecimento de voz e de caracteres. O assunto é interessante e vale a pena conversar um pouco sobre ele.

Reconhecimento de caracteres tem a ver com a forma como os computadores armazenam e processam os caracteres, as letras e símbolos da linguagem escrita. Por exemplo: este texto está armazenado em meu computador sob a forma de uma sucessão de códigos. Como computadores se entendem melhor com números que com símbolos, cada letra corresponde a um número. A letra "A", por exemplo, corresponde ao código 65. Enquanto trabalhamos com computadores comuns, com teclado e vídeo, não há problema. Sempre que eu aperto a tecla correspondente a uma letra o computador armazena internamente seu código e exibe na tela o "desenho" da letra. E nem eu nem ele nos atrapalhamos: eu "enxergo" a letra, ele o código.

Mas acontece que o teclado é um estorvo: nem todo o mundo consegue manejá-lo com a rapidez adequada. E a indústria da informática evidentemente sabe disso. Tanto que está tentando substitui-lo por meios mais naturais de entrada de dados. E que maneira mais natural de fornecer informações escritas que escrevê-las da forma como aprendemos desde criança, com uma caneta sobre uma superfície plana?

Baseado nesta idéia nasceram os "pen computers". Que são computadores portáteis, mais ou menos do tamanho de um livro, com tela do mesmo material que os mostradores dos modernos relógios digitais, o chamado "cristal líquido". E sem teclado: neles, entramos dados escrevendo-os com uma caneta especial diretamente sobre a tela como se estivéssemos escrevendo em uma folha de papel. Muito mais simples, não é?Bem, depende. Para nós, sem dúvida. Mas para o computador é uma complicação dos diabos. Se ainda não percebeu porque, pense na última "letra de médico" que tentou decifrar. Será que o computador vai "entender sua letra", ou seja, vai reconhecer os caracteres que você escreveu?

Pois para ajudar o computador, existe toda uma tecnologia, que se chama justamente "reconhecimento de caracteres", cuja finalidade é transformar o "desenho" das letras que escrevemos na tela nos códigos correspondentes para que o computador possa processá-los. Se você pensar um pouco e lembrar da dificuldade que sente seu cérebro, um dispositivo infinitamente mais poderoso que qualquer computador, para decifrar certas caligrafias, entenderá logo porque a coisa é tão complexa.

Por enquanto, tudo ainda está em um estágio bastante preliminar. A maioria dos "pen computers" só é capaz de reconhecer textos em letra de forma, e mesmo assim se escritos em locais predeterminados, como aqueles formulários onde cada letra deve ser escrita em um "quadradinho". Outros, mais elaborados, conseguem reconhecer a caligrafia comum, desde que as letras sejam separadas por pequenos espaços. Caligrafia corrente, a forma natural de escrever, onde cada palavra é escrita sem afastar a caneta do papel, nem pensar. Pelo menos por enquanto.

Já experimentei um destes bichinhos. E achei que ainda deixam muito a desejar. Mesmo quando se obedece às regras, o resultado não é inteiramente satisfatório. As diferenças entre caligrafias individuais são muito grandes, e muitas letras são demasiadamente parecidas - como "M", "N" e "H" - para que a máquina consiga identificá-las com facilidade. O resultado é que depois que se escreve um texto, é preciso revê-lo cuidadosamente para ver se algo não foi mal interpretado. Mas mesmo assim, podem ser muito úteis. Pense nos profissionais que passam todo o tempo preenchendo formulários, colhendo sempre o mesmo tipo de dados. Que, em geral, são mais tarde digitados nos computadores da empresa. Para eles, uma maquineta destas é o ideal, já que os dados podem ser transferidos diretamente dela para os computadores convencionais.

O reconhecimento de caracteres ainda é, pelo menos por enquanto, apenas uma tecnologia promissora. Mas talvez algum dia venha a permitir trocar nosso teclado por uma caneta. Isso, naturalmente, se o reconhecimento de voz não chegar antes...

B. Piropo