< Mulher de Hoje >
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14/08/1992
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< A Mulher e o Micro > |
A mulher está em toda a parte. Mesmo nas atividades onde era raro encontrá-la: há cerca de três décadas, entre os quase mil alunos da antiga Escola Nacional de Engenharia, havia cinco mulheres. Hoje, metade ou mais das turmas de engenharia da UERJ é composta por moças. Minha dermatologista é mulher. Como mulher era a policial que deslavadamente rebocou meu carro há alguns dias. Em Belo Horizonte, mulheres fazem - mais depressa e melhor - o serviço de limpeza das ruas. Nas redações há hoje mais mulheres que homens. Nos hospitais, há mulheres. Como mulheres há nos escritórios. E nos laboratórios, nas lojas, nas fábricas. Até nos quarteis. E mesmo onde parecia estar o último e inexpugnável baluarte do machismo brasileiro, os campos de futebol, já há mulheres - assistindo, jogando e apitando. Reclamando, eu? Nem pensar. Muito pelo contrário. Trata-se tão somente de uma constatação, e das mais gratas. Cheguem-se. Bons ventos as tragam. Pois estou certo que a presença das mulheres onde não as havia só traz bons fluidos. Eu mesmo prefiro trabalhar com mulheres. Já coordenei equipes formadas principalmente por elas, com excelentes resultados. Como trabalhei em equipes coordenadas por mulheres, com resultados não menos excelentes. Portanto, não há motivo algum para reclamar dessa suave invasão, que permeia todas as atividades da sociedade dos anos 90. Ou quase todas. Pois, por insondáveis razões, alguns feudos masculinos permaneceram intocados. Não que nós homens os estejamos defendendo assim renhidamente. Pelo contrário, as portas têm estado sempre abertas. Mas não sei se por desdém, enfado ou receio, as mulheres têm cuidadosamente evitado certos campos, passando ao largo como se estivessem minados. Um deles, particularmente, me espanta. Mais que isso: me incomoda. Há poucas semanas visitei uma instituição onde trabalham mais de uma centena de pessoas. Setenta porcento, mulheres. Seu centro de processamento de dados tem seis funcionários: nem uma única presença feminina. Tem mais: freqüento, regularmente, reuniões de usuários de computadores pessoais. Em geral, são extremamente agradáveis. Exceto por um incômodo detalhe: dentre os mais de cinqüenta marmanjos que lá se juntam tomando chope e jogando conversa fora, quase não há mulheres. Existem, por todo o Brasil, enormes grupos organizados que trocam mensagens, informações e programas por via telefônica usando micros e modems. São os BBS. Neles, a presença feminina não chega a um porcento. Cadê as mulheres? Não é que não existam micreiras. Existem, sim. Mas parecem a exceção que confirma a regra. É fato que, quando as há, são de excelente quilate - Córa e Cristina que não me deixem mentir. Mas por que tão poucas? A informática, em particular a ligada aos microcomputadores, é o tipo de atividade onde deveriam reinar as mulheres. Não requer força bruta, no que os homens são tão tristemente inexcedíveis. Ao contrário, exige qualidades às quais, creio eu, as mulheres são muito mais afeitas que nós, homens: observação, obstinação, sutileza. E, ça va sens dire, inteligência - onde, por mais que se dispute, creio que nenhum dos times leva vantagem. Então por que os grupos de micreiros se parecem tanto com o Clube do Bolinha? Não sei. E nunca consegui entender esse mistério. Se vocês tiverem algum motivo plausível, escrevam. Eu prometo levar em conta suas razões. Mas, seja como for, é preciso mudar isso. No que toca a mim, vou fazer a parte que me cabe: a partir deste mês, você me encontrará aqui discutindo informática pessoal. Sempre desse jeito, sem mistérios nem jargões. Sempre muito simples e direto. Quem sabe você não vai achar aqui tudo o que queria saber sobre computadores e tinha medo de perguntar? E quem sabe um dia eu possa me surpreender com o prazer de chegar a uma reunião de micreiros e achar que entrei no Clube da Luluzinha...
B. Piropo |