Micro Cosmo
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08/04/96
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< O Setup do AT > |
Semana passada vimos que o relógio incorporado à placa-mãe do AT era um chip tipo CMOS que continha, além do circuito temporizador, 64 bytes de memória cuja função era armazenar informações referentes à operação interna do relógio. Vimos ainda que desta memória “sobrava” um trecho de 40 bytes onde a IBM resolveu guardar os dados referentes à configuração interna do micro. E como se tratava de informações armazenadas na memória, era preciso um programa para alterá-las. Ora, mas os dados de configuração eram preservados justamente porque havia que fornecê-los à máquina durante o procedimento de inicialização, antes de carregar o sistema operacional. Então temos aqui novamente uma situação peculiar: um programa que precisa “rodar” antes da carga do sistema. A IBM evidentemente poderia, já nos tempos do AT, ter resolvido este problema gravando o programa em ROM. Mas preferiu adotar uma técnica diferente e adicionou o programa usado para ajustar os dados de configuração aos programas do disquete de diagnóstico. Como? Nunca ouviu falar em disquete de diagnóstico? Ah, é que se trata mesmo de um bicho raro, membro de uma espécie já extinta. Só lembrarão deles os micreiros antigos, capitães de longo curso nos bravios mares da informática. Era um disquete dos antigos, de 360K, fornecido pela IBM juntamente com todo micro da linha PC (sim, os velhos PC e XT da IBM também vinham com um disquete destes - que, evidentemente, não trazia o programa para ajustar os dados de configuração, já que no seu caso isto era feito por meio de jumpers). Nos tempos do PC e XT, a principal função do disquete de diagnóstico era a que seu nome indicava: rodar um programa que testava os componentes instalados e acusava eventuais defeitos. Além disto, servia para formatar disquetes, copiar a si mesmo (permitindo guardar o original em lugar seguro e usar a cópia) e estacionar em uma trilha especial as cabeças de leitura/gravação dos velhos discos MFM/RLL de então para transportar o computador sem risco de danificar o disco rígido (os HD modernos fazem isto automaticamente sempre que o micro é desligado, o que tornou desnecessário estacionar as cabeças). Quando a IBM lançou o AT, já que teria que fornecer o disquete de diagnóstico de qualquer maneira, achou que seria natural incluir nele o programa de ajuste da configuração. Uma decisão equivocada. O disquete de diagnóstico era um disquete de boot (ou seja: continha os arquivos necessários para carregar o sistema operacional). Mas era um disquete de boot especial, cujos arquivos de sistema eram significativamente diferentes dos usados na operação normal do micro. E que somente servia para rodar os programas nele contidos. Tanto que, ao se dar o boot com ele, ao invés do esperado prompt do sistema operacional aparecia um menu. Que no caso do AT exibia seis entradas: diagnosticar o sistema, formatar disquete, copiar disquete, preparar o sistema para ser transportado, ajustar os dados de configuração e sair do programa. O menu aparecia, naturalmente, em inglês. E a opção de ajustar os dados de configuração era denominada “Setup”. Nome ainda hoje empregado para designar esta ação. O procedimento do setup do AT funcionava assim: quando, durante a inicialização, a máquina detectava alguma discrepância entre os dados de configuração armazenados na memória CMOS e os efetivamente encontrados durante o POST (seja porque a configuração dos componentes foi modificada, seja porque a bateria interna se descarregou), interrompia o boot e exibia uma mensagem informando que as opções de configuração não conferiam e solicitando rodar o programa Setup para ajustá-las (“System Options Not Set - Run Setup”). Então, introduzia-se o disquete de diagnósticos no drive A: e premia-se a tecla ENTER para forçar um novo boot. Que era dado a partir do disquete de diagnósticos, cujos arquivos de sistema eram capazes de prosseguir mesmo encontrando erros e discrepâncias (por isto não serviam para a operação normal) e que terminava por exibir o menu. Então bastava escolher a opção “Setup” para chamar o programa de ajuste. Comparadas com as assustadoras opções das máquinas modernas, o setup do velho AT era de uma simplicidade comovente. Na primeira tela apareciam a data e hora correntes e a solicitação de confirmação. Se erradas, havia a oportunidade de corrigi- las. Se corretas, passava-se para a segunda tela, onde listava-se os tipos dos dois drives de disquete, dos dois discos rígidos (tanto em um caso quanto em outro havia a opção “não instalado” para a eventualidade de não existir o drive), a memória existente na placa-mãe e em eventuais placas de expansão e o tipo de vídeo instalado. Também aqui, se as informações não conferiam, havia a possibilidade de corrigi-las. Se corretas, o sistema pedia para remover o disquete de diagnóstico do drive A: e premir ENTER para iniciar novo procedimento de boot, agora com os arquivos de sistema usados para a operação normal. E isto era tudo. De lá para cá as coisas evoluíram um bocado. A idéia básica permaneceu a mesma, mas mudou a forma de ajustar as opções de configuração e, sobretudo, cresceu o número destas opções acompanhando a crescente complexidade das novas máquinas. Mas, como veremos adiante, nada é tão complexo que não possa ser destrinchado quando se tem alguma paciência e um mínimo de argúcia. B. Piropo |