Micro Cosmo
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11/12/95

< Sistema? Mas Que Sistema? >


Os que acompanham desde o início esse MicroCosmo (que, incidentalmente, completa justamente amanhã seu primeiro aniversário) sabem que ele nasceu para atender aos reclamos da nova safra de leitores do nosso caderninho. Pois acontece que a Trilha Zero, sua irmã mais velha, tinha a mesma filosofia ao nascer: ajudar os micreiros iniciantes a se entenderem com suas máquinas. Mas quem a vinha acompanhando desde os idos de 91, no final de 94 já não era mais iniciante. Então criou-se um impasse: quando a Trilha se dirigia aos iniciantes, os velhos andarilhos chiavam dizendo que estava elementar demais. Quando o nível técnico alçava-se ao patamar dos veteranos, os novos caminheiros reclamavam. E todos tinham razão (o leitor tem sempre razão; e isso não é demagogia, mas uma mera conseqüência do fato da coluna ser escrita para que o leitor a leia: se ele não gosta, não lê e se não é lida a coluna perde a razão de ser). A solução foi dividir os assuntos e criar aqui um recanto para os iniciantes (sim, eu sei, os que iniciavam há um ano hoje já são quase veteranos, mas não vou entrar nesse círculo vicioso: esse MicroCosmo é e sempre será o local onde se explica em linhas gerais como as coisas funcionam e a Trilha Zero o baluarte onde se destrincham os detalhes. E, eventualmente, se joga um pouco de conversa fora, que ninguém é de ferro).

Esse intróito não visa, como parece, comemorar o aniversário da coluna, mas ensejar um comentário mais ou menos evidente: de uma forma ou de outra, muito do que se discute aqui já foi abordado na Trilha Zero. Não nos mesmos termos, evidentemente: a evolução no campo da informática é tão rápida que transcrever algo publicado há quase cinco anos não faria o menor sentido. Mas os velhos andarilhos da Trilha talvez se lembrem que um ou outro assunto abordado aqui já foi discutido lá. Dentre eles, evidentemente, o processo de boot - que inclui a carga do sistema operacional, já que não se pode falar seriamente de micro sem discutir seu sistema operacional (que, incidentalmente, será nosso próximo assunto tão logo conheçamos um pouco melhor o boot).

Pois bem: adiante vamos descrever a forma pela qual o micro, tanto em uma partida à frio quanto à quente, carrega na memória o sistema operacional. Um processo quase mágico pois, embora conhecendo pouco sobre sistemas operacionais, sabemos que ele nada mais é que um programa - porém um programa tão especial que é justamente o responsável pela carga dos demais programas. O que veremos, portanto, é como nossa máquina consegue carregar um programa sem a ajuda do “programa que carrega programas” (se isso lhe pareceu complicado, leia de novo que apesar do jogo de palavras aparentemente complexo o conceito em si mesmo é muito simples).

Esse tema, repito, já foi abordado pela Trilha Zero. Mais especificamente lá pelos idos de abril de 91. E agora, lembrando como o assunto foi discutido naquelas priscas eras, percebo estarrecido que a evolução foi incomensuravelmente maior do que eu mesmo supunha - embora apenas três anos e meio nos separem de abril de 91 e eu me considere um sujeito bem informado, sempre imerso nesse fascinante universo da informática..

Pois bem: naqueles tempos de antanho, na era do byte polido, descrever a carga do sistema operacional era detalhar a maneira pela qual dois arquivos (que juntos formavam o DOS) eram transpostos do disco para a memória e como eles se ajeitavam no interior da máquina para prestar serviços ao usuário e aos demais programas. Simples assim.

E hoje? Hoje o DOS, o vetusto Disk Operating System (sistema operacional de disco) desenvolvido pela Microsoft para o velho PC em 1981 ainda existe, mas suspeito que não por muito tempo. É verdade que evoluiu barbaramente e já está na versão 6.22 (ou 7, para quem usa o DOS da IBM) e pouco se parece com o produto original. Mas apesar de toda evolução, quem ainda o usa geralmente só o faz como um trampolim para Windows 3, que depende do DOS para ser carregado mas que por si mesmo é quase um sistema operacional e substitui a maioria das funções do DOS.

Mas não é só isso. Pois além do DOS e do Windows 3.x, hoje existem ainda o Windows 95 da Microsoft (que também usa o DOS para ser carregado, mas é um sistema operacional completo), os diversos sabores de Unix (como o AIX e Linux) e o OS/2 da IBM (que é um sistema operacional para PC totalmente independente do DOS).

Portanto, descrever nos dias de hoje a carga de um sistema operacional é algo que deve começar respondendo a uma pergunta essencial: que sistema operacional?

Como são tantos, e como o mercado continua efervescente, adotaremos uma solução salomônica: semana que vem iniciaremos uma descrição genérica englobando os pontos principais do processo de bootstrap que independam do sistema. Mas quando for necessário exemplificar, ainda recorreremos ao velho DOS.

Afinal, até o Windows 95 para ser carregado carrega primeiro o DOS...

B. Piropo