Micro Cosmo
Volte
27/11/95

< O POST >


Talvez você imagine que para seu micro o ato de ser religado após um período de inatividade é semelhante a nosso despertar matinal. A imagem tem até alguma poesia. E existe, de fato, certa semelhança. Mas há uma diferença básica: em princípio, quando acordamos pela manhã, partimos do pressuposto que estamos inteiros e que durante nosso merecido repouso não nos foi amputado nenhum membro ou arrancado algum órgão interno. Por isso, exceto quando acordarmos de pesadelos especialmente pavorosos, não ficamos nos apalpando para ver se está tudo no lugar. Já o computador, a primeira coisa que é obrigado a fazer ao ser religado é justamente isso. Ou seja: verificar se tudo está em ordem e se não lhe foi subtraído nenhum dispositivo essencial.

E tem que ser assim. Pois o micro precisa manter permanentemente atualizadas uma série de informações sobre seus recursos para poder acessá-los e prestar serviços aos programas. Por exemplo: ele “sabe” de quanta memória RAM dispõe e reage baseado nesse dado quando o sistema operacional solicita a alocação de memória para carregar um programa. Agora imagine que essa informação não seja atualizada sempre que o micro é ligado e você tenha removido parte da memória RAM de seu computador. Percebeu? Desastre garantido da primeira vez que ligar a máquina depois disso.

Por isso a IBM, quando concebeu o velho PC, decidiu que a primeira coisa que o tetravô de sua máquina deveria fazer ao ser ligado seria um teste de seus principais componentes. Esse procedimento denomina-se POST, de Power On Self Test, que significa auto-teste de partida. E sendo a primeira coisa que a máquina faz ao ser ligada, você naturalmente já percebeu que o POST é justamente o trecho inicial daquele programa gravado em ROM que é executado assim que a CPU é energizada.

O POST não é um diagnóstico, mas apenas uma verificação superficial do estado e da presença de alguns componentes. Do estado porque não é impossível que um componente sofra algum dano mesmo com a máquina desligada. E da presença porque nada nos impede de remover um disco rígido, uma porta paralela ou um drive de disquete antes de ligar o micro. Por isso as “luzes” do teclado, dos drives e discos rígidos acendem quando a máquina é ligada: é o POST verificando se eles estão mesmo lá. Não vale a pena descer a detalhes descrevendo o procedimento completo do POST, mas é interessante saber, em linhas gerais, o que é testado.

Ao ligar-se o micro deflagra-se um processo denominado “partida à frio” que se inicia com o POST. Cujo primeiro passo é testar a CPU, já que sem ela nada mais funciona. E imediatamente depois, testar o próprio chip de memória ROM que contém o POST (mas não só ele, já que ali também estão gravadas outras rotinas de programação, inclusive algumas que fazem parte do sistema básico de entrada e saída, ou BIOS, sobre o qual falaremos mais tarde; se o chip passa no teste, aparecem - em geral no alto da tela - algumas informações sobre o BIOS, como fabricante, versão e data). Estes componentes são tão essenciais que, se neles for constatado algum problema, a partida à frio é interrompida sem sequer uma mensagem de erro, pois a falha é considerada severa demais para que a máquina possa continuar funcionando de forma confiável.

Depois disso o POST testa o barramento, ou seja, a “fiação” interna (os condutores usados para alimentação elétrica e troca de dados entre os componentes da placa-mãe) e o temporizador do sistema (o responsável pela sincronização de tudo o que acontece no micro). Depois disso, caso algo dê errado, a máquina ainda é obrigada a interromper a partida, mas já pode avisar que ocorreu um problema. Porém, como ainda não sabe se o sistema de vídeo está em ordem, ela o faz através de sinais sonoros, ou bips (por isso a primeira coisa que se deve fazer ao testar uma placa mãe é ligar os fios do alto-falante).

Isto feito, é testado o vídeo. E também aqui, por razões evidentes, erros eventuais são sinalizados com bips. E a partir de então o POST já pode exibir mensagens na tela. E não somente em caso de erro: o teste seguinte é a verificação da memória RAM e já se pode ver a quantidade de memória testada ser rapidamente atualizada na tela. Caso se constate uma falha, o processo é interrompido em geral com uma mensagem de erro informando o endereço de memória onde se deu a falha.

Em seguida o POST verifica o teclado. Neste ponto, tudo que era realmente essencial para o funcionamento da máquina já foi testado (não se esqueça que o primeiro PC não vinha sequer com drive de disquetes) e em caso de erro uma mensagem é exibida mas a partida prossegue. São então verificados os controladores de discos, drives de disquete, discos rígidos e portas paralelas e seriais. Se tudo estiver nos conformes, algumas máquinas exibem no alto da tela um retângulo com informações sobre os componentes testados. E somente então começa um curioso processo denominado “bootstrap”.

Nosso assunto da semana que vem.

B. Piropo