Micro Cosmo
Volte
06/11/95

< Recapitulando >


Já que acabamos de encerrar um tópico importante, os discos rígidos, vamos dar uma parada para respirar. Aproveitando-a para olhar para trás e nos situarmos no caminho que percorremos em busca do conhecimento.

Começamos distinguindo entre o computador propriamente dito e tudo aquilo que está em volta dele, que chamamos de periféricos. E vimos que existem basicamente dois tipos de periféricos: dispositivos que trocam dados com o computador (como teclado, vídeo e impressora), que chamamos dispositivos de entrada e saída, e dispositivos que armazenam dados (como as fitas magnéticas, disquetes e discos rígidos), que chamamos de dispositivos de armazenamento.

Em seguida concluímos que a única coisa que o computador sabe fazer é processar dados, ou seja, receber dados brutos, modificá-los e entregá-los de volta em um formato diferente (parece incrível, mas tudo, rigorosamente tudo que um computador faz, desde a simples edição de um texto até a mágica da multimídia, pode ser resumido nessa frase). E para serem processados, os dados devem ser apresentados ao computador de uma forma que possam ser “entendidos” pela máquina, ou seja, digitalizados. E discutimos o que significa isso vendo como um computador “faz contas” usando o sistema numérico binário (base dois) e não o decimal (base dez) a que estamos acostumados. Daí para destrinchar o significado dos termos “bit” e “byte” foi um pulo: bit, ou “binary digit” é um dígito binário, ou um algarismo no sistema binário (que portanto só pode assumir os valores zero e um) e byte é um número expresso em binário formado por oito bits (que, por isso mesmo, só pode assumir valores entre zero e 255; aqueles valores extraordinariamente altos com que os computadores lidam são obtidos combinando bytes). Nesse ponto já sabíamos como os dados podem ser manejados pelo computador. O que nos permitiu discutir os conceitos de CPU e memória RAM.

Vimos que CPU (“Central Processing Unit”, ou unidade central de processamento) é um “chip”, ou circuito integrado, capaz de executar certas operações obedecendo a determinadas instruções. Essas instruções são codificadas sob a forma de bytes, de maneira que a CPU consiga “entendê-las”, e aquilo que chamamos de “programa de computador” não passa de uma seqüência ordenada dessas instruções com uma finalidade específica: há programas para escrever, para desenhar, para tocar música e para executar mais uma infinidade de outras tarefas. Mas nenhum deles nada mais é que um conjunto de instruções encadeadas que a CPU executa uma após a outra.

Já memória RAM, de “Random Access Memory”, ou memória de acesso aleatório, é um conjunto de circuitos integrados capaz de armazenar informações, sempre sob a forma de bytes. A memória é um dispositivo interno, ou seja, seus circuitos integrados se situam na placa principal de circuitos eletrônicos do micro, que chamamos de “placa mãe”, a mesma que abriga a CPU. Os bytes armazenados na memória podem ser lidos, gravados, modificados e regravados. Esses bytes podem ser dados (como o conjunto de “letras” que formam uma carta que você digitou no micro) ou instruções (que, juntas, constituem o programa que você usa para digitar a carta, por exemplo). A memória RAM é, portanto, bastante versátil e flexível. Mas há um problema: ela só mantém as informações enquanto alimentada por uma corrente elétrica. Ou seja: quando se desliga o micro, todo o conteúdo da memória RAM se esvai irremediavelmente.

O que é muito inconveniente. Sem uma forma de preservar as informações depois que se desliga o micro, os dados teriam que ser reconstituídos um a um e os programas redigitados, instrução por instrução, sempre que a máquina fosse religada. Vimos que existe um outro tipo de memória, a memória ROM (“Read Only Memory”, ou memória apenas de leitura), que preserva os dados mesmo com a máquina desligada, mas é cara e não permite modificar os dados (ou seja: as informações gravadas na memória ROM durante o processo de fabricação jamais podem ser alteradas) - o que impossibilita seu uso para armazenar dados que podem ser modificados. Era preciso, portanto, desenvolver uma forma de preservar informações por um período mais longo que permitisse, porém, alterá- las quando necessário. E essa forma é o armazenamento de informações em meios magnéticos.

Discutimos então como o eletromagnetismo pode ser usado para gravar e ler informações codificadas sob a forma de bytes, a única que o computador conhece. Falamos sobre fitas magnéticas e discos flexíveis e rígidos. Discutimos o conceito de arquivos e a maneira de grupá-los em diretórios e subdiretórios. E destrinchamos tudo o que dizia respeito a discos flexíveis e rígidos, desde a estrutura de arquivos, tabela de alocação de arquivos (FAT), setor de boot, o diabo. Discutimos em detalhes os conceitos de formatação, os parâmetros e modificadores do comando FORMAT, examinamos cada tipo de disquete com suas características físicas e capacidade, em suma: ficamos doutores em discos flexíveis. Só então passamos a discutir os discos rígidos, examinando as diferenças entre eles e os discos flexíveis e descendo a detalhes como seu particionamento. Finalmente, discutimos o conceito de unidades de alocação de arquivos e o desperdício de espaço em disco que seu uso provoca. Assunto que, afinal, encerramos semana passada.

Hoje, temos uma visão geral do computador e uma idéia razoável de como ele funciona. Mas ainda falta muito. Há uma imensa floresta de informações a nossa frente para ser desbravada. Pois desbravêmo-la passo a passo.

O passo seguinte - que será dado nas próximas semanas - vai ser a discussão de um assunto dos mais interessantes. A resposta a uma pergunta curiosa que deixa muita gente encasquetada, do tipo “quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?”.

Seguinte: sabemos que um micro nada faz - nada mesmo, absolutamente nada - se um programa não estiver sendo executado. Sabemos que, estando a máquina desligada, os programas estão “dormindo”, armazenados em disco. Sabemos ainda que programas só podem ser executados quando carregados na memória. Apesar disso, tão logo ligamos o computador, ele começa a “fazer coisas”, acender luzes, escrever mensagens na tela. Coisas que só podem ser feitas por um programa.

Perceberam? Se essas coisas são feitas por um programa, e se para transpor instruções do disco para a memória (“carregar” um programa) é preciso um programa, quem carregou o programa que carrega o primeiro programa?

Não percam, a partir da próxima semana, a resposta desse enigma crucial.

B. Piropo