Talvez a mais importante diferença entre discos rígidos e flexíveis
seja a maneira como eles são formatados. Pois quando se trata de
discos flexíveis, formatar é formatar e temos conversado: o sistema
operacional grava na superfície magnética as marcas que limitam
cada setor de cada trilha e depois, em setores predeterminados,
grava as informações que servem para gerenciar os arquivos, como
tabela de alocação de arquivos, diretórios, setor de boot e coisas
que tais. Quando se trata de discos rígidos tudo se passa mais ou
menos da mesma forma, porém em duas fases distintas. Pois há dois
tipos completamente diferentes de formatação de discos rígidos:
a formatação física e a formatação lógica, duas operações independentes.
Tão independentes que são separadas por uma terceira, chamada “particionamento”.
Mas não se assuste que a coisa é mais simples do que parece e logo
estará devidamente destrinchada.
A
formatação física, também conhecida por “formatação em baixo nível”,
consiste em gravar na superfície magnética do disco rígido as informações
necessárias para subdividi-lo em trilhas e setores, ou seja: as
marcas no início e final de cada setor e os intervalos entre trilhas
e setores. E nada mais. Ou seja: ela não se preocupa com nada que
diga respeito aos dados que serão gravados no disco - quem vai se
preocupar com esses detalhes é a formatação lógica, ou de “alto
nível”. Em outras palavras, para a formatação física não existe
o conceito de arquivos: tudo o que ela “sabe” é que o disco é subdividido
em setores onde podem ser gravados um determinado número de bytes
(sempre 512, como sabemos). E agora uma boa nova: se seu disco é
IDE, EIDE ou SCSI, como é mais que provável, você não precisa se
preocupar com a formatação física. Ela é feita na fábrica e se você
tentar executá-la o disco simplesmente se recusará a aceitá-la (o
que é bom, pois se você conseguir formatar fisicamente um disco
IDE, EIDE ou SCSI, provavelmente irá danificá-lo seriamente ou até
mesmo inutilizá-lo permanentemente; portanto, a não ser que você
tenha certeza que seu disco rígido é MFM ou RLL, jamais tente formatá-lo
físicamente).
Quantas
faces, trilhas e setores tem seu disco rígido? Você só vai precisar
dessas informações uma única vez: ao instalá-lo no micro, quando
será preciso informar, através de um procedimento denominado “setup”
que um dia discutiremos, o tipo do disco e suas características
físicas. Daí para a frente elas nunca mais irão lhe interessar.
E pior: por estranho que pareça, no caso dos discos IDE ou EIDE,
as informações fornecidas ao micro são tão falsas e mentirosas quanto
as juras de amor de galã de gafieira. Esquisito, pois não? Mas é
verdade. E embora não seja indispensável conhecer as razões disso,
vamos discuti-las só para aumentar nossa cultura micreira.
Imagine
uma pizza. Ainda na fôrma, mas já dividida em fatias. Agora, trace
duas circunferências imaginárias, ambas com o centro coincidindo
com o centro da pizza, uma próxima a ele, outra próxima à periferia.
As circunferências representam duas trilhas. As linhas que separam
as fatias representam os limites dos setores. Agora preste atenção
no tamanho dos setores, quer dizer, no comprimento do “pedaço” da
circunferência que corresponde a cada setor. E repare: os setores
da trilha mais interna, traçados sobre uma circunferência menor,
são muito menores que os setores da trilha mais externa. E como
cada setor tem sempre 512 bytes, das duas uma: ou os bytes dos setores
das trilhas de dentro ficam demasiadamente espremidos, ou sobra
espaço nos das trilhas de fora. E como todos os setores têm que
ter total confiabilidade, a conclusão só pode ser uma: há um enorme
esperdício de espaço nas trilhas externas.
Agora,
enquanto come a pizza, imagine uma forma de resolver esse problema.
Fácil, não? Basta fazer todos os setores com o mesmo comprimento,
suficiente para gravar os 512 bytes com confiabilidade, para que
toda a área do disco seja bem aproveitada. Só há um inconveniente:
com setores de mesmo comprimento, as trilhas externas, que correspondem
às circunferências mais longas, conterão mais setores que as internas.
Portanto as trilhas terão um número diferente de setores dependendo
de sua posição em relação ao centro do disco: quanto mais próximas,
menos setores. A esse recurso, que aumentou a capacidade dos discos
eliminando o desperdício, denominou-se “multiple zone recording”,
ou gravação em múltiplas zonas.
O
problema é que os micros só “entendem” discos com o mesmo número
de setores por trilha, ou seja, não são capazes de acessar discos
cujas trilhas comportem diferentes números de setores. Mas não há
dificuldade intransponível, especialmente no caso dos discos modernos,
que incorporam a eletrônica de controle: basta incluir nos chips
que controlam o acesso aos setores as informações necessárias para
“traduzir” a posição do setor e da trilha. Ou seja: a máquina manda,
por exemplo, ler o conteúdo do vigésimo setor da centésima trilha
da face um. Os circuitos de controle “enganam” a máquina, traduzindo
isso para a localização real do setor, movimentam a cabeça de leitura/gravação
para lá, lêem a informação, a transferem para a memória como se
estivesse na posição solicitada e tudo segue na santa paz. E como
o que interessa são os dados, e não sua localização, a máquina prossegue
sua faina sem problemas e todos são felizes para sempre.
Pois
é isso. Semana que vem discutiremos as partições e seus mistérios.
B.
Piropo