Micro Cosmo
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27/03/95

< Arquivos >


Já vimos que programas e dados são conjuntos de bytes que podem ser gravados em disco e recuperados mais tarde. E vimos como, usando os fenômenos do eletromagnetismo, esses bytes são gravados nas superfícies magnéticas que recobrem os discos. Quer dizer: sabemos como as informações são depositadas fisicamente nos discos. O que nos falta, agora, é saber como elas são ali logicamente ordenadas.

Discos, sejam rígidos ou flexíveis, armazenam as informações em trilhas. Como sabemos, cada trilha é uma circunferência dividida em setores iguais. O número de trilhas por face e o número de setores por trilha varia de acordo com o tipo de disco. Mas o número de bytes por setor é sempre fixo e igual a 512 bytes. Portanto, não importa qual seja o tipo de disco, as informações estarão sempre armazenadas em setores de 512 bytes. E para simplificar a explicação, vamos tomar como exemplo o tipo de disco flexível mais comum hoje em dia: o disquete de 3,5” e alta densidade.

Um disco desses tem, evidentemente, duas faces. E, em cada face, as cabeças magnéticas do drive gravam oitenta trilhas concêntricas. Cada uma dessas trilhas é subdividida em dezoito setores. Como em cada setor cabem exatamente 512 bytes, fica fácil calcular a capacidade do disco: basta multiplicar tudo isso para obter 1.474.560 bytes. Que correspondem exatamente a 1.440 K (você não esqueceu que cada quilobyte corresponde a exatos 1024 bytes, pois não?), que são erroneamente chamados de 1,44Mb. Por que erroneamente? Ora, porque como você bem sabe, um megabyte corresponde a 1024K e não a 1000K (faça a divisão e descubra que 1.440K correspondem a 1,40625K; depois, esqueça: a noção geral que disquetes de 3,5” e alta densidade comportam 1,44K, embora errada, é tão disseminada, que se você afirmar o contrário vai, no mínimo, ser espinafrado; e é muito desagradável ser espinafrado, especialmente quando se está certíssimo e coberto de razão...)

Pois muito bem. Imagine que você acabou de digitar aquela carta de amor e deseja gravá-la em um disquete de 3,5” e alta densidade. Basta ordenar a seu processador de textos, o programa que usou para editar a carta, que o faça. Em princípio, não faz a menor diferença em que face, trilhas ou setores sua carta foi armazenada. Mas, como somos micreiros espertos e gostamos de saber como as coisas funcionam dentro de nossas máquinas, vamos dedicar algum tempo justamente a esse tipo de questão.

Primeiro, vamos ver qual é a verdadeira natureza do problema. Veja lá: gravar uma sucessão de bytes no disco é muito fácil: basta gerar os devidos campos magnéticos. O difícil é encontrar essas informações no disco quando precisarmos delas mais adiante. Ou seja: não basta depositar os bytes no disco: é ainda necessário saber exatamente em que local do disco eles foram depositados para poder recuperá-los mais tarde.

Suponhamos que nossa carta tenha, por exemplo, 5420 bytes. Como eles serão gravados em setores de 512 bytes, podemos afirmar que ocuparão onze setores: dez deles, perfazendo 5120 bytes, serão inteiramente ocupados e o undécimo parcialmente, já que dele serão usados apenas 300 bytes (e desde já uma informação: os 212 bytes remanescentes desse setor estão perdidos, já que não há como utilizar apenas parte de um setor). Portanto, a carta se espalhará por onze setores do disco. Para mais tarde recuperar as informações, basta saber que setores são esses e em que ordem foram gravados. Mas eles não precisam ser consecutivos. Nem mesmo necessitam estar na mesma trilha ou face. Na verdade, podem ser quaisquer setores, de quaisquer trilhas, em qualquer ordem.

Mas, seja lá como for, esses onze setores guardam algo em comum: cada um deles contém parte de nossa carta. E todos juntos, na ordem correta, podem reconstituir o conteúdo da carta. Portanto, esse conjunto particular de onze setores espalhados pelo disco constituem uma “coisa” única, uma entidade perfeitamente identificável. A essa coisa dá-se o nome de “arquivo”. Um arquivo é, por conseguinte, um conjunto de setores do disco que contém informações agrupadas de acordo com um determinado critério. Por exemplo: nossa carta de amor, se gravada em disco, assume a forma de um arquivo. Um programa, quando armazenado em disco, também o é sob a forma de um arquivo. O conjunto de nomes, endereços e telefones que constituem minha agenda pessoal também pode ser armazenado em disco sob a forma de um arquivo. Assim como desenhos gerados por programas gráficos, sons e imagens em movimento criados por programas multimídia e o balanço anual de uma empresa gerado por um programa de planilha eletrônica. A rigor, quaisquer tipos de informações, desde que agrupadas de acordo com um critério lógico e convertidas em bytes (ou “digitalizadas”), podem ser armazenadas em disco sob a forma de arquivos.

Arquivos serão nosso assunto nas próximas semanas. Começando semana que vem, quando veremos como nossa hipotética carta de amor se espalhará nos onze setores do disco que irá ocupar. E como e onde se armazenam as informações adicionais que nos permitirão encontrar esses setores mais tarde, quando quisermos recuperar a carta.

B. Piropo