Micro Cosmo
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13/02/95

< Magnetismo >


Antes de mais nada, uma correção. No MicroCosmo de trinta de janeiro, há duas semanas, eu descrevi como simular números binários com conjuntos de capacitores, onde capacitores carregados representariam “um” e descarregados representariam “zero”. Os que tentaram entender a coisa com base na descrição devem ter ficado bastante confusos. E com razão, já que na descrição faltaram duas palavras. Então, vamos desfazer a confusão. No pé da primeira coluna, onde eu descrevia como representar o número binário 00101101 com um conjunto de oito capacitores, deveria estar escrito: “Pegue o da extremidade direita e carregue. Desloque-se para a esquerda e descarregue o vizinho, carregue os dois seguintes, descarregue o próximo, carregue o seguinte e descarregue os dois últimos da esquerda”. Esse “e descarregue” que faltou parece pouco, mas foi o bastante para transformar o 00101101 (que representa o decimal 45) em 11101101 (que representa o decimal 237) e fazer a explicação perder o sentido. Uma diferença substancial, pela qual me desculpo.

Agora, adiante em nossa caminhada. Já sabemos que “memória RAM” é um conjunto de posições de memória cujo conteúdo só se mantém enquanto o micro permanece ligado. Quer dizer: é uma forma de armazenamento de informações eminentemente perecível (por isso algumas pessoas se referem a ela como “memória volátil”). Ainda usando o exemplo da carta: se não houver uma forma menos provisória de armazená-la, caso o missivista decida imprimi-la novamente após desligar o micro, terá que redigitar todo o texto ao ligá-lo novamente. O que é bastante inconveniente.

Mas vamos pensar um pouco: afinal, em que consiste, exatamente, aquela carta? Bem, do ponto de vista do autor, talvez seja o espelho de sua alma e coração. Mas do ponto de vista de um espectador desinteressado, é apenas um conjunto de caracteres impressos em uma folha de papel. E do ponto de vista do micro, não passa de um conjunto de bytes, em uma ordem determinada, armazenados na memória RAM.

Assim, o problema de reproduzir a carta se reduz a uma questão muito simples: ao se religar o micro, basta repor na memória o mesmo conjunto de bytes, na mesma ordem. Portanto, o que precisamos é uma forma de preservar esse conjunto de bytes de modo que ele possa ser reposto na memória.

Mas bytes, como vimos, nada mais são que conjuntos de oito bits. E bits não passam de representações dos números “um” e “zero”. Que podem ser simuladas de diversas maneiras. Inclusive usando o interessante fenômeno físico denominado magnetismo.

Não conheço ninguém que, na infância, não se tenha maravilhado com as curiosas propriedades dos imãs. Colocados em uma determinada posição, lançam-se um para o outro e se juntam como um casal de adolescentes apaixonados - para separá-los, há que puxar com força. Mas inverta a posição de um deles, que se repelem como um irreconciliável par de recém-divorciados e não há como mantê-los juntos. Isso acontece porque todo imã tem dois pólos, polo norte e polo sul (não por acaso: nosso planeta também é um gigantesco imã que, como todos os demais, também tem seus dois pólos). E pólos diferentes se atraem, enquanto pólos iguais se repelem (é por isso que a agulha da bússola aponta sempre na mesma direção: ela também é um imã, cujo polo norte é atraído pelo polo sul da terra e vice-versa). Se você está acompanhando esse MicroCosmo, um sinal de alerta já deve ter soado em sua mente: dois pólos, dois estados. Ideal para representar quantidades em binário: poderíamos considerar que um conjunto de imãs cujos pólos se orientem em um dado sentido representa o “um” e no sentido oposto representa o “zero”. E (empregando técnicas que não são nada complicadas, mas não cabem aqui nessa coluna) é fácil determinar em que sentido se orientam os pólos de um imã: basta verificar o sentido de seu “campo magnético”.

Mas como criar imãs e ajustar sua orientação? Bem, acontece que o magnetismo e a eletricidade interagem de forma fascinante. Há mesmo todo um ramo da física apenas para estudar o assunto, o “eletromagnetismo”. Infelizmente nos falta tempo e espaço para entrar em detalhes, mas aceite como verdadeiro o fato de que um campo magnético em movimento pode gerar uma corrente elétrica em um condutor (diz-se que a corrente foi “induzida”) e um campo elétrico pode exercer uma certa força sobre os imãs, fazendo-os girar sobre seus eixos e mudar sua orientação.

Agora, imagine uma “superfície magnética”, ou seja, uma superfície recoberta com uma imensa quantidade de imãs microscópicos cuja distribuição é totalmente irregular, cada um apontando para uma direção diferente. Como são zilhões de imãs com orientações distintas, seus “campos magnéticos” se cancelam e se alguém tentar medir o campo magnético em qualquer ponto da superfície, nada será detectado.

Agora, façamos passar uma corrente elétrica suficientemente forte em um condutor próximo à superfície. Isso gera um “campo elétrico”, e todos os pequenos imãs situados na região junto ao condutor elétrico, obedientemente, se voltarão na direção para a qual o campo elétrico os empurra, com os pólos apontados no mesmo sentido. Agora, vamos mover o condutor para mais adiante e inverter o sentido da corrente elétrica. Com isso, o campo elétrico se inverte e os imãs dessa outra região se orientarão no sentido oposto. E agora, ao se medir o campo magnético nas vizinhanças de cada uma destas regiões, pode-se detectar que, em uma, ele se situa no sentido oposto do medido nas proximidades da outra.

Pronto: agora já temos a base técnica necessária para usar essa superfície magnética como meio de armazenamento de nossos bits. Se você ainda não percebeu como, aguarde pelos detalhes na semana que vem.

B. Piropo